Capítulo 9 - A Sociedade da Ciência

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     Cornelius viu-se num lugar incógnito, em meio a uma imensidão nebulosa, sem cor, sem som, sem vida. Ele caminhava sobre uma plataforma de grandes ladrilhos transparentes, com um estranho mar invisível abaixo deles, ondulando suas águas sob os seus passos. Nem mesmo seu intelecto foi capaz de explicar racionalmente onde ele estava, ou o que deveria fazer ali, e suas tentativas de chamar por alguém eram respondidas por apenas um eco proveniente da acústica improvável daquela dimensão obscura.

     E então, Cornelius andou sem direção, apenas pela necessidade de sair do lugar, mas sempre estranhando o fato de, apesar de tanto andar, nunca parecer conseguir isso. Ele sentia um frio melancólico que arrepiava cada vértebra de sua espinha, como se sua vida não tivesse valor ou razão alguma, e estivesse condenado a vagar eternamente naquele deserto intangível. Mas aos poucos, Cornelius foi capaz de distinguir formas translúcidas em meio a escuridão. Havia um casarão velho diante dele, com as paredes tão transparentes quanto os ladrilhos do piso.

     Mesmo tendo parado de andar, o espaço continuava se deslocando em torno de Cornelius. O casarão translúcido parecia cada vez maior, prestes a engoli-lo como um buraco negro carregado com um vendaval que puxava tudo para dentro. Cornelius deu meia volta e tentou fugir, mas em instantes as paredes do casarão fantasma já haviam lhe cercado. Paredes estas carregadas com vozes familiares, que berravam frases do passado.

     — Eu não quero saber dessas blasfêmias científicas na minha casa! — A voz opressora de um homem retorcido gritava.

     — Desculpem meus filhos, mas vai ser melhor assim — Uma mulher disse em meio a um choro carregado de amargura.

     — Quem iria gostar de um esquisitão como você? — Uma menina o ofendeu em tom jocoso, seguida pela risada maligna de várias crianças.

     — Sua bolsa de estudos foi negada — Agora as vozes agêneras se confundiam entre si sem nenhum critério aparente — Eu preciso ir embora. Você não serve para nossa instituição. O fulano morreu. Seu viadinho! — Mas, entre todas elas, uma falava ainda mais alto, a voz de Johnny — Velhote!

     Cornelius foi derrubado pelo impacto daqueles lamentos ecoando na sua mente. Ele fechou os olhos, agarrou seus cabelos e gritou o mais alto que podia, como se usasse sua própria voz para esconder os ruídos sombrios do universo, mas estes ficavam cada vez mais altos a cada segundo que passava. De repente, a voz de Roza surgiu chamando o seu nome brevemente, como um cântico angelical, e tudo retornou a seu estado silencioso inicial.

     Cornelius pôde abrir seus olhos, se levantar com cuidado e olhar em volta. O casarão havia sumido, e a única movimentação perceptível vinha da ondulação do mar num certo ponto. Aquelas vibrações inesperadas aumentaram e se tornaram cada vez mais violentas, até que o vidro dos ladrilhos se rompeu num buraco redondo, de onde um gigantesco tentáculo alienígena emergiu bem diante de seus olhos.

Coração a VaporOnde histórias criam vida. Descubra agora