Capítulo 11 - Terra

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     Gaia abriu os olhos mas não quis se levantar, estava muito confortável enrolada em seus cobertores de pele. Porém, sua mãe não deixaria a preguiça lhe distrair de suas obrigações na Coleta, então a garota levantou-se relutante e se aprontou para mais um dia de trabalho.

     Após um banho quente, ela se vestiu e começou a organizar seus equipamentos dispostos sobre uma prateleira em seu quarto. Haviam seus goggles especiais, grandes e com lentes grossas e riscadas, uma pistola artesanal acoplada com cordas e ganchos, dois outros modelos menores com a mesma funcionalidade fixados em braceletes, e o seu inseparável bumerangue. Os goggles foram postos no rosto, os braceletes nos braços, e a pistola foi guardada numa bolsa a tiracolo com algumas unidades reservas de rolo de corda, pequenos ganchos e seu cantil, seu bumerangue sempre vinha em mãos ou amarrado na altura da cintura.

     Só faltava mais uma coisa essencial, sua capa que estava depositada num cabide no canto do quarto. Geralmente os coletores usavam as capas para se protegerem das rajadas ferozes do vento árido no deserto, mas Gaia achava que ela atrapalhava sua mobilidade na hora de explorar terrenos mais remotos e de difícil acesso, por isso ela geralmente a usava amarrada na cintura como uma saia longa com uma abertura na frente.

     Enfim ela estava preparada, com seus equipamentos e a vestimenta adequada. Enquanto comia algumas frutas com leite quente e cereal, sua mãe trançou seu cabelo com a perfeição que só ela sabia fazer. Sempre que Gaia tentava replicar o penteado da mãe acabava com um amontoado de cabelo embaraçado. Por fim ela saiu de sua caverna, o serviço na Coleta era difícil, mas pelo menos ela tinha a companhia de Sacha Carlevan, seu mestre coletor.

***

     — Eu já falei mil vezes! É assim que se usa uma capa — Sacha a repreendeu com um sorriso no rosto, exibindo sua capa disposta sobre seus ombros, cobrindo todo o corpo, e com o capuz sobre sua cabeça. Gaia sempre soube que ele só falava essas coisas para provocá-la, ela era uma das suas melhores alunas.

     Gaia tinha dezesseis anos, e Sacha já havia chegado na casa dos vinte e quatro. Ele era alguns palmos mais alto que ela, tinha a pele morena bronzeada pelo ardor do deserto e os cabelos pretos sempre espetados e aparados tão curtos que pareciam pintura fosca na calvície, mas sua maior característica era o sorriso frouxo, penetrante e discretamente libidinoso.

     Eles estavam no ponto de encontro padrão para o começo de suas explorações, no topo de uma colina arenosa. Em volta, um grande amontoado de sucata tomava conta da vastidão amarelada. Haviam pilhas de ferro por toda parte, algumas enterradas pela areia e outras empilhadas como estranhas pirâmides de lixo compostas por carcaças de carros e máquinas, latas e contêineres. Em meio a ferrugem e a sujeira se destacavam as cores brilhantes das capas quadriculadas dos coletores, sempre penetrando cada vez mais fundo nas entranhas de velharias em busca de qualquer coisa útil para a cidade. Assim funcionava a Coleta, com pessoas como Gaia, Sacha e tantos outros caminhando pelo lixão avaliando tudo que havia sido descartado pelas cidades do céu e que ainda poderia ser reutilizado ou transformado em outra coisa.

Coração a VaporOnde histórias criam vida. Descubra agora