05. NOTÍCIAS RUINS

740 60 11
                                    

I love you – Billie Eilish
''Não é verdade
Me diga que estão mentindo para mim
(...)
O que diabos eu fiz?''

Josh

Senti o calor de luzes na minha cabeça e percebi um burburinho de conversas ao meu redor. Não consegui identificar cada uma das vozes, mas tinha certeza que havia escutado a voz de minha mãe. Notei que estava em um ambiente incomum, já que não senti o conforto da cama do quarto de hotel em que estava passando meus dias. Pelo contrário, não era uma superfície nada aconchegante. Me movimentei para um dos lados, tentando ficar mais confortável e voltar a dormir, já que estava sonolento e não conseguia me mexer propriamente, muito menos abrir meus olhos.

— Josh? — a voz, que identifiquei ser de minha mãe, proferiu.

Eu também era capaz de perceber alguns sons esquisitos de máquinas ao meu redor. Com muita dificuldade, uma voz rouca saiu das minhas cordas voicais:

— Mãe? — esforçadamente, limpei a garganta. — Onde estamos?

— No hospital — ela explicou. — Não fale muito agora, você não pode forçar. Você estava patinando em algum lago e acabou batendo a cabeça em uma das irregularidades. Mas está tudo bem agora, não foi nada sério.

Ah, o lago.

As coisas começaram a surgir na minha cabeça e me recordei do motivo pelo qual eu estava patinando naquele momento.

Tentei abrir meus olhos, mas parecia que algo me impedia. Depois de muitas tentativas e com certo esforço, o fiz.

Que porra está acontecendo?

— Por que está tudo escuro? — Tentei ao máximo me manter o mais calmo possível, por achar que podia ser algum efeito dos milhares de remédios que aquele hospital devia ter colocado no meu corpo.

— Escuro? Não está nada escuro — minha mãe respondeu, rindo levemente.

Por que não consigo enxergar absolutamente nada?

— Claro que está, sim. Não consigo ver nada.

Ninguém me respondeu e um silêncio ensurdecedor tomou conta da sala. Depois de alguns segundos sem ninguém — ninguém mesmo, incluíndo a mim — percebi o som de uma porta à minha direita, um pouco mais à frente, sendo aberta. E logo depois, fechada.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — perguntei com o tom de voz elevado. — Se sim, não há graça alguma. Parem, por favor — senti minhas cordas vocais vacilando e engoli seco, aumentando um incômodo péssimo na garganta. Sentia que alguém a apertava e eu não teria forças para falar algo, sem desabar em lágrimas.

A única coisa que eu era capaz de ouvir era uma respiração ofegante que não identifiquei o dono.

— Caralho, vocês não irão me responder? — continuei. — Que merda está acontecendo? Por que não consigo ver nada? — repeti e sem controle algum, peguei-me praticamente gritando.

— Com licença — disse uma voz desconhecida. — Senhor Beauchamp, eu sou Dylan Carter, um dos médicos cirurgiões da equipe do hospital. Tudo bem? — Eu não o respondi, e deduzo que o doutor percebeu que aquela era a pergunta mais estúpida a ser feita naquele momento. Ele limpou a garganta claramente incomodado, mas voltou a falar: — Imaginei que isso poderia acontecer por conta da intensidade da batida, da sua cabeça contra o gelo. Você bateu sua cabeça e isso causou um dano em seu nervo óptico.

Estava prestes a pedir para aquele homem falasse minha língua.

— E o que isso significa? — Ursula perguntou precipitadamente, antes que eu pudesse falar alguma merda.

— Este nervo é extremamente sensível, e é uma das peças chaves para podermos enxergar. Ele processa informações sensoriais, captando-as após estímulos de luzes projetadas em objetos.

— Mas que caralho? — eu logo falei. — Senhor Dylan sei lá do que, pouco me importa. Caso você não saiba e esteja um pouco perdido, o médico aqui é você. Você poderia resumir, em português, por favor?

Minha mãe apertou minhas mãos como se quisesse repreender minha má educação.

— Perdão, senhor. Sendo mais claro, isso resultou em uma perda de visão permanente.

O quê?

— O que você quer dizer com isso? Eu estou cego, é isso? — disse, apertando minhas mãos o mais forte que eu podia, sentindo uma lágrima cair em meu rosto seguida de outras rapidamente, que logo as escondi.

— Infelizmente, sim. Eu sinto muito. Acho que devemos deixar você a só — Carter falou, e saiu com minha mãe e algumas enfermeiras da sala. Finalmente, eu estava sozinho.

Isso não podia estar acontecendo comigo. Só podia ser um pesadelo e eu ainda esperava acordar.

Permanente.

Essa palavra continuou correndo por minha mente por muito, muito, tempo.

Por que aceitei tudo isso, primeiramente?

Por que não morri no maldito acidente?

E essas perguntas, se passavam na minha cabeça por ainda mais tempo.

    ***

— Josh, relaxe. — A voz de Heyoon ecoava nos meus ouvidos pela milésima vez naquele dia. — Iremos resolver esse problema antes da ultima fase e vamos conseguir o prêmio.

Sua insistência estava me irritando. Massageei minhas têmporas e disse o mais calmamente possível:

— Não vai dar certo.

Heyoon bufou e ouvi seus passos se aproximando, encostando uma de suas mãos nas minhas e eu tentei me afastar.

— Preciso que você pense positivo, Beauchamp. O que aconteceu não foi nada demais, estará bem daqui no máximo uma semana. Provavelmente, é uma perda de visão temporária e você estará nos holofotes novamente, muito em breve.

— Heyoon, por favor. Pare! — Fiz questão de elevar o tom de voz. — Você não ouviu o que o médico disse? Esse tipo de dano é impossível de se resolver. Estou cego, para sempre. Tudo acabou. E você claramente não se importa!

— Claro que me importo! Quero consertar isso e te ver feliz no gelo novamente.

— Se você realmente se importasse, estaria falando sobre como eu posso fazer minha vida acontecer daqui pra frente. — Não conseguia saber as reações e expressões de Heyoon e me odiava por isso. — Mas não. Você se importa com a fama e com essa merda de competição. É isso o que você quer, não é? Prêmios e manchetes no seu nome. Entendo porquê Bailey te largou.

Antes que ela pudesse falar algo, voltei a falar:

— Boa sorte com seu próximo cobaia, seja lá quem for. Acho que a esse ponto, você já deve ter encontrado outra pessoa para ganhar o tão desejado ouro. Já eu, vou voltar para a minha cidade e continuar com essa vidinha miserável.

***

Não esqueça de votar ;).

Ice Castles | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora