Ice Castles | Beauany

09. GELO

As It Was - Harry Styles
"Nesse mundo, somos apenas nós
Você sabe que não é a mesma coisa de antes."

Josh

Sentia-me estressado demais para pensar em outra coisa além do ocorrido com Any. Não que aquilo significasse algo para ela, mas para mim, era sim uma grande coisa. Não queria me apaixonar novamente, e pensar na possibilidade de criar falsas esperanças me aterrorizava. Ela não gostaria de ter algo a mais comigo agora, e eu não poderia querer algo com ela.

Mesmo assim, não estava disposto a perder contato com a moça. Apesar de tudo, éramos amigos e ainda que existisse uma apreensão dentro de mim, Any me fazia bem. Ela conseguia, até em piores momentos, deixar-me um pouco melhor. Por esse motivo, telefonava para ela naquele exato momento.

Any me ajudara a configurar meu celular com uma espécie de leitor de tela para cegos, que narrava tudo o que eu estava fazendo no aparelho e facilitava completamente o uso. A voz monótona chamava o nome da cacheada pela quarta vez. Caixa postal, novamente.

Na sexta tentativa, ouvi a voz de Gabrielly e suspirei fundo.

— Oi, Josh! Perdão por demorar, estava cozinhando — enunciou. — Aproveitando que me ligou: tenho algo para te contar!

— Ah, oi Any. Tudo bem, relaxa — Limpei a garganta, retomando: — E o que seria?

— Bom, você lembra do dia em que patinamos, certo? — Assinto, mesmo sabendo de que estávamos em uma chamada e ela não iria perceber. — Queria fazer isso de novo. Em um lugar apropriado, sabe? Pensando nisso, reservei o ginásio de patinação no gelo para usarmos daqui a pouco. O que acha?

O ginásio era um lugar que costumava visitar antes da primeira etapa das Regionais. O local mantia uma pista ampla, digna de uma Olimpíada. O que era difícil de se encontrar em uma cidade não tão grande como a minha, já que a patinação não era um esporte tão praticado. Consequentemente, o número de pessoas que visitava o espaço não passava de 50. Os homens estavam em um número ainda menor, mas era com eles que eu conversava. Perdi o contato com todos depois de tudo.

O fato é: não tinha segurança suficiente em patinar em uma pista tão avantajada e espaçosa. Era possível me imaginar encontrando diversas vezes com o chão.

— Não sei, Any. Seria extremamente difícil e...

— Não se prive das coisas desta forma, Joshua — ela interrompeu. — Até quando vai se afastar das coisas que gosta em função desse acidente?

Sabia que, em partes, Gabrielly poderia estar certa. Mas ouví-la falando sobre como se fosse algo insignificante, mexeu com algo dentro de mim, igualando-me ao tom de voz estrondoso.

— Você não entende o que é passar por isso. Nunca vai. — Não fui capaz de conter lágrimas que ameaçaram cair à um tempo. Funguei involuntariamente e Any pareceu notar.

— Me desculpe. — Ela se apressou na fala. — Realmente nunca irei entender. Mas por favor, tente. Por si mesmo.

***

O ginásio nunca perderia tal sensação de lar. Mesmo que não pudesse ver, percebia o gelo rígido raspando em meus patins e aquilo parecia correto. Parecia que fora feito para mim. A patinação me trazia esse sentimento de fazer parte de algo, desde o começo.