08. ENCONTROS

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I Wanna Be Yours - Artic Monkeys
"Os segredos que guardei no meu coração,
são muito difíceis de guardar.
Talvez eu só queira ser seu."

Any

Nos dias em que fiquei afastada de Josh, me senti solitária em nossa residência. Quando terminamos, o sentimento de solidão era pior. Insuportável. A certeza de que nunca mais iríamos ter a mesma coisa de sempre sufocava-me, e continuar naquele lugar cheio de memórias e história era inviável. Então, me instalei no apartamento de Noah, meu melhor amigo.

Ursula foi quem me contou sobre o acidente de Josh por um telefonema. Mesmo na situação que nos encontrávamos, imaginar o quanto estava sendo difícil para ele tornou-se difícil para mim. Eu não podia fazer nada diante de tudo. Só conseguia sentir culpa.

Na minha cabeça, a culpa sobre o suposto fim de carreira de Beauchamp era toda minha. Se eu não o incentivasse a ir competir, nada teria acontecido.

Noah me ajudou com isso. Permaneci abrigada no apartamento e o garoto insistia que não havia nenhum problema naquilo: "Elly, quero que você more aqui até que se estabilize", dizia. Obviamente, já havia iniciado a procura de uma nova casa, mas meu amigo realmente não parecia incomodado. Noah tinha um apê gigantesco com quartos de sobra. Sim, ele era o típico filhinho de mamãe.

Eu havia saído para fazer algumas compras de mercado e quando voltei, escutei Noah dizer ligeiramente:

— Finalmente você apareceu! Você estava fazendo compras para quantas pessoas? Quinze? — Urrea zombou ao perceber a quantidade de sacolas e depois me ajudou com elas. — Elly, você demora demais no mercado. Em breve minha acompanhante e Josh estarão aqui e você não vai estar pronta.

— Não seja dramático, eu só comprei o necessário. — Noah parecia se questionar o que eu entendia por "necessário". — E eles estarão aqui em 3 horas. Aliás, não pense que me esqueci do fato que não me contou nada sobre essa tal moça. Desembucha, qual o nome da sortuda?

— Você não irá saber enquanto ela não estiver aqui! Mas você vai adorá-la, vai ser um encontro de casais e tanto.

Casais?

— O único casal aqui é você e a desconhecida. Ainda desconfio de que ela exista — provoquei. — E para a sua informação, eu e Josh somos bons amigos. A paixonite adolescente já passou. Supera, Noah.

— Sei... — Urrea não aparentava acreditar em uma palavra sequer. — Falando em Josh, o que aconteceu com ele de verdade? Não querendo ser insensível, mas ele ficou cego, assim, do nada?

Noah e sua admirável delicadeza.

— Como você é delicado! Realmente, admirável — ironizei. — Mas... eu não falei muito sobre isso com ele ainda. Sabe, Josh ainda está bem abalado com tudo e eu entendo. É tudo muito complicado — fui sincera e Noah assentiu. — Mas pelo o que conversei com Ursula, ele teve uma queda muito forte e a batida rígida na cabeça causou um dano no nervo ocular.

Por alguns segundos, meu amigo pareceu pensativo.

— Caralho — ele exclamou. Noah sempre xinga. Por nenhum motivo aparente. — Deve estar sendo péssimo p'ra ele. Principalmente por não poder patinar. Ele sempre gostou tanto, né? Se fosse comigo, acho que eu não aguentaria.

Mais sensível que Urrea, não existe.

— Noah! — o repreendi. — Isso é coisa que se fale?

— Desculpa, Elly. Você está parecendo minha mãe. Só estou sendo sincero.

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