Ice Castles | Beauany

12. MINHA PESSOA

pov – Ariana Grande
''Eu quero me amar da maneira como você me ama
Por toda minha beleza e feiura também
Eu adoraria me ver pelo seu ponto de vista.''

Any

Após uma das noites mais confortáveis de nossas vidas, eu e Josh nos encontrávamos no sofá da sala de estar, enrolados em um cobertor.

— Vamos assistir alguma série? — perguntei.

— Quando você diz ''alguma série'', você quer dizer ''Greys Anatomy'', né?

Josh sabia da minha obsessão com a série. Eu assistia Grey's Anatomy desde que me entendia por gente e já havia assistido as 19 temporadas incontáveis vezes.

— Exatamente.

— Eu adoraria assistir com você. Mas como vou ver uma série, sem poder realmente ver? — ele disse, rindo levemente.

— Você é ultrapassado, né, Josh? A audio-descrição está aí para isso.

Ele pareceu confuso.

— Que porra é essa?

— Essa opção está disponível em todos os lugares e é especialmente feita para deficientes visuais. Um narrador vai ficar dizendo o que está acontecendo na tela, a todo momento.

Josh, com os lábios cerrados, disse:

— Interessante. Obrigado por ter pensado em mim — sorriu. — Vamos assistir!

Acessei a Netflix pela nossa televisão e entrei no perfil de Josh. Após ver sua lista de ''assistidos recentemente'', perguntei rapidamente:

— Não acredito que você parou na segunda temporada.

Ele gargalhou e alegou:

— Me dê um desconto! A única coisa que eu fazia era treinar incansavelmente. Você, mesmo se matando de tanto estudar, consegue fazer tudo e mais um pouco. Seu dia tem tipo, 30 horas.

— Infelizmente, não. — respondi, rindo. Ao entrar na série, vi que ele havia começado o episódio 8 mas não terminara. Dei play.

Ao longo dos minutos, nos enrolamos mais ainda em cobertores e Josh arrumou sorvete para nós. O meu preferido era de flocos. Obviamente, Josh fez questão de aquele ser o sabor que trouxera.

No fim do episódio, percebi que Josh estava realmente prestando atenção na cena. Meredith ouvia uma mensagem deixada por Cristina em seu telefone:

''E eu vou escolher olhar para você dessa forma. Espero que esteja bem. Tchau.

Você é minha pessoa. Você vai ser sempre a minha pessoa.''

— Acho que — iniciei —, você pode ser a minha pessoa, Josh.

Beauchamp, já entrelaçado em meus braços, acareciou meu rosto e disse:

— Eu tenho certeza de que você é a minha.

Pela primeira vez, Josh tomou a iniciativa e se aproximou de meu rosto cada vez mais. Eu sentia o calor e seu aroma natural adentrando minhas narinas. Em segundos, nossos lábios se atraíam.

***

Josh

O dia já estava chegando ao fim. Enquanto assistíamos a série — que era muito boa, por sinal — conseguimos terminar um pote inteiro de sorvete de flocos. Any encostava em meus ombros.

— Noah mandou mensagem — a cacheada disse. — Nos convidou para uma festa amanhã à noite. Vamos?

Pelo seu tom de voz, percebia que estava animada. Não iria estragar isso.

— Podemos ir, sim. Vai ser divertido.

De repente, seu telefone tocou.

— Já volto — ela disse. Gabrielly seguiu seu caminho para a cozinha e eu só era capaz de ouvir alguns burburinhos. Imaginei que ela estava conversando com Noah.

Mais de 5 minutos se passaram. Não era capaz de ouvir mais nada e, comecei a estranhar a situação. Me levantei do sofá e cautelosamente, andei para a cozinha. Um som de respiração ofegante e desesperada se aproximava cada vez mais. Ao avançar, fungadas também foram percebidas por mim.

— Any?

Não obtive resposta. Tateei as paredes até encontrá-la, encostada na superfície sem me dizer nenhuma palavra. Apenas recebi suspiros rápidos e incontrolados. Logo, entendi o que estava acontecendo.

Episódios parecidos de muito tempo atrás chegaram à minha mente e, em uma fração de segundos, a enrolei em meus braços e sua cabeça deitou em meu peito. Conseguia sentir seu corpo tremer. Iniciei:

— Foca na minha voz, Any. Preste atenção, ok? — ela assentiu e eu pude sentir o movimento em minha pele. — Ouça a minha respiração e tente copiar.

— Isso, muito bem — comentei. — Agora preciso que você liste algumas coisas para mim, pode ser? Você consegue fazer isso?

— Sim — ela finalmente disse.

— Me diga 5 coisas que consegue ver. E não se esqueça de respirar — eu pedi.

Sua respiração continuava ofegante, e quando Any conseguiu ar suficiente, ela passou a listar:

— Vejo o nosso tapete rosa, a mesinha de madeira, o sofá, a lâmpada acesa e seus olhos azuis.

— Certo. Me diga 4 coisas que você consegue sentir.

Any se ajeitou e, relativamente mais calma, continuou:

— Meu moletom, suas mãos, meias coloridas e o chão em que estou sentada.

— Você é ótima nisso — falei. — Quais são as 3 coisas que podem ser ouvidas por você agora?

— Sua voz, o vento lá fora e o barulho da TV — disse, pensando.

Apertei-a em meus braços com mais força ao perceber que estava funcionando. Então, continuei:

— 2 cheiros que consegue sentir?

— O aromatizante da casa e... seu perfume.

— Certo! — enunciei. — Por último, me diga uma coisa que consegue sentir o gosto.

Any, evidentemente mais calma, finalizou com a resposta:

— Ah, o sorvete que acabamos de comer.

Apreensivo, ajudei Any a se levantar e, sem dizer nada, nós subimos até o nosso quarto. Abraçados, adormecemos pacificamente.