06. RECOMEÇOS

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hope ur ok – Olivia Rodrigo
"Eu sinto sua falta
E espero que você esteja bem"

Fui forçado a voltar à minha casa com a ajuda dos meus pais. Não que tenha sido necessário, era um adulto e sabia me virar sozinho muito bem. O infeliz do médico insistiu que meu senso de direção estava abalado e que, pelo menos no início, necessitava de auxílio para me locomover na minha própria casa e isso era frustrante.

Nada havia sido comunicado a mídia. Mesmo que eu tivesse certeza de que Heyoon vazaria todas as informações sobre meu acidente por ódio, ela não o fez. O que infelizmente, era um motivo para eu temer a treinadora. Qualquer mínimo detalhe que ela soltasse em qualquer lugar que fosse, era capaz de destruir tudo o que eu havia construído na patinação, já que não me veriam mais pelo talento, e sim, pela cegueira. Me arrepiava a alma ao pensar nas manchetes sensacionalistas e humilhantes, que imploravam por pena. "Jovem patinador Josh Beauchamp sofre um trágico acidente que o tira tudo."

Pena. O pior sentimento que pode existir entre seres humanos.

E era isso o que sentiriam de mim. E do jeito que conhecia Jeong, sabia que a mulher seria capaz de se desdobrar em cinco para fazer eu me sentir mal. Cheguei a pensar que naquela situação, Any faria o mesmo. Pensava em Any a todo momento.

"Será que ela pensa em mim?", a voz extremamente irritante surgiu em minha cabeça. Não, Josh, ela não pensa em você e você deveria parar de pensar nela. Afinal, o que uma garota como ela faria comigo agora? Gabrielly não precisava desse fardo. Me sentia como um peso morto. Na verdade, ainda duvidava de que eu já tivesse morrido por dentro e estava apenas existindo, mofando em meu quarto sem sair do lugar.

Ouvi duas batidas vindo do meu lado esquerdo, imaginei que fossem de minha mãe.

— O que você quer? — disse, sem força alguma para me mexer na cama macia.

— Josh, sou eu — Ursula disse. — Você não vai sair deste quarto nunca? Já se passou uma semana e você ao menos se alimenta direito. Não dá para viver desse jeito — ela enunciou firmemente.

— Por que não? — Bufei. — O que você quer fazer comigo agora? Assistir à um filme? — Ri sem humor algum. — Ah, é. Nem isso sou capaz de fazer agora. Que vida perfeita.

Não queria me lembrar do que tinha acontecido no acidente. Eu não, mas meu sub-consciente fazia questão de me lembrar a todo momento, e eu não tinha a mínima vontade de conversar com alguém sobre isso. Nenhum dos meus amigos veio me visitar e se vieram, eu não fui comunicado. Heyoon até mesmo insistiu em tentar fazer ligações comigo e eu obviamente não aceitei. Não existia nada a ser discutido com ela.

— Até quando você vai ficar se lamentando? — Senti minha mãe se aproximar e elevar seu tom de voz. — Isso não vai te ajudar em nada. Você precisa voltar a viver, Josh. Não deveria deixar nada te impedir disso.

— Mas é exatamente isso que estou fazendo. — Quis finalizar a discussão. — Acho melhor desistir desse seu papo motivacional. Como você mesma disse, não vai me ajudar em nada.

Mas o que eu havia me esquecido era que minha mãe, Ursula Beauchamp, não desistia de nenhum jeito. E não seria naquele momento que ela desistiria de seu filho.

— Pouco me importa se vai te ajudar ou não. Levante. — Ursula me pegou pelo braço esquerdo e me puxou para cima, me obrigando a levantar da cama e fazendo os lençóis caírem no chão. — Vamos sair de casa.

Ice Castles | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora