Os Conceitos de "Presentes" de Tenko e Izuku

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Tenko não gostava de Kai Chisaki. – Era um fato imutável. Assim como a Terra não pode mudar a direção de rotação, para o sol nascer do outro lado, Tenko não poderia mudar a porca opinião que tinha a respeito do herdeiro da Chie Hassaikai – o grupo que dominava o distrito vizinho.

Os netos de Shigaraki haviam vivido em meio ao luxo estúpido, desde que foram acolhidos pelo avô, porém, o velho havia feito disso um tormento. Kai, por outro lado, apesar de ser um "homem feito" era claramente um protótipo de uma geração já acostumada com o poder e dinheiro desmedidos.

Na opinião de Tenko, ele era um merdinha mimado.

Izuku não possuía uma opinião diferente, contudo, ao contrário de Tenko, não fez questão de esconder e tampouco conseguiu ignorar a garota – a criança – cheia de hematomas, e com vários curativos.

Para Tenko também havia sido muito difícil de engolir aquilo. Ele se lembrava bem do que era ter alguém que deveria zelar por você, simplesmente transformando sua vida em diferentes níveis de inferno. Mas ele havia escolhido olhar para o próprio prato e desligar-se do ambiente ao seu redor, quando viu Chisaki e a sobrinha, Eri, pela primeira vez. Mas, seu primo não aguentou, questionou o homem, atirou o próprio prato em sua direção e mesmo sendo um pirralho pálido e magrelo havia enfrentado um herdeiro da máfia como poucos idiotas fariam – por quê morriam.

Tenko sabia que nada daquilo adiantaria, mas, havia guardado aquele ato para si.

Teria sido um pouquinho menos amargo se alguém tivesse feito algo do tipo em sua infância. Não teria surtido efeito, assim como havia acontecido naquele jantar, mas, ele teria se tornado um pouco menos cínico com a humanidade.

Naquela noite, Izuku havia sido arrastado para o quarto do castigo – o próprio Velho o havia espancado, enquanto desfiava um discurso sobre manter bons relacionamentos com os outros distritos. Izuku nunca havia sentido tanta dor. E Tenko, em seu quarto ouvindo tudo, nunca havia sentido tanto nojo.

Mas a coisa toda, já tão nojenta e injusta, havia ficado pior.

Tenko se sentia culpado, por quê havia brigado na escola de novo, e ficado na detenção depois do horário. Izuku havia voltado para a casa sozinho, e por isso, havia sido emboscado.

Ele não havia voltado para a casa naquele dia, e Tenko havia sido punido por se comportar feito um animal – gritando, quebrando coisas e perguntando por quê diabos ninguém procurava seu primo. E no dia seguinte, quando saíra do quarto em que fora trancado, deparou-se com um Izuku apático, com um grande e feio ferimento no braço, e cortes variados e profundos nas mãos e nas costas.

Izuku havia sido torturado.

Eles não tinham uma família normal, mas o mais velho sabia que, se dependesse dele, a cabeça de Kai Chisaki estaria a prêmio não apenas pela ousadia de haver tocado em alguém de sua família, mas por ter invadido seu distrito. Era assim que deveria funcionar.

Mas, o Velho apenas declarara que assim Izuku saberia seu lugar e seu papel.

Dias depois, ele havia desaparecido – dessa vez, definitivamente.

Ele havia ficado, e não se arrependia, pois gostava de ver o Velho maldito se contorcer em ódio por ter sido desafiado por aquele a quem julgou ser o mais manipulável de seus netos. Claro que nem tudo era flores para Tenko – ele continuava estudando, continuava apanhando e agora era obrigado a conviver com os imbecis que seu avô chamava de "subordinados" e os vermes dos outros distritos.

Como agora, tendo que encarar o algoz de seu primo.

O chefe do distrito vizinho era hipocondríaco. Kai Chisaki vivia com uma máscara ocultando o rosto, e luvas, e amava borrifar álcool gel para todos os lados como se fosse algum perfume importado. Tenko acalentava com carinho a ideia de mandar um envelope cheio de fermento em pó para ele com algum dispositivo de estalo para ele achar que era anthrax.

Cinderella StepbrotherOnde histórias criam vida. Descubra agora