Os Netos De Shigaraki

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O homem sabia que garotos da capital, ás vezes, poderiam ser fisicamente diferentes dos garotos do interior. Era algo normal levando-se em consideração os diferentes aspectos no estilo de vida.

Garotos dali, por exemplo, costumavam ser mais fortes, devido aos serviços braçais, e também bronzeados pelo longo período expostos ao sol. Alguns, devido a isso, pareciam mais velhos, era o caso, de Mezo Shoji e Mashirao Ojiro – dois garotos que trabalhavam meio período ali, no setor de embalagens.

Aquele garoto era mais velho que os dois, mas conservava um aspecto de garoto bem cuidado. Era de uma palidez quase doentia, o que parecia ressaltar as sardas de seu rosto. Seus olhos e cabelos eram de um negro quase irreal e ele carregava uma mochila enorme e visivelmente pesada, o que lhe proporcionava o aspecto de uma tartaruga.

– Qual seu nome mesmo? – perguntou Kan Sekijiro inclinando a cabeça, mesmo que ainda estivesse com a ficha de candidatura do rapaz em mãos.

– Yo Shindo. – ele respondeu, prontamente.

– Hum. – ele fez, olhando a ficha novamente – Nasceu e cresceu no distrito de Shizuoka ... – ele recitou, coçando a lateral do lábio com a ponta da caneta. – Por que veio para Yakushima?

– Ouvi dizer que a Yuei Alimentos e Bebidas estava recrutando jovens para seu primeiro emprego e decidi tentar. – Ele respondeu, parecendo franco – Veja, eu não tenho registro, embora tenha trabalhado um pouco em rotinas de escritório. Queria tentar algo melhor.

Isso explicava um pouco o físico de rato de biblioteca, não era a toa que parecia ser uma criança, mesmo seu registro constando que ele possuía dezoito. O único indício de que sua vida em algum ponto poderia ter sido difícil, eram cicatrizes estranhas e cerrilhadas em suas duas mãos. Assim que percebera que Kan estava olhando demais para elas, ele, por instinto colocou as mãos nos bolsos.

– O trabalho aqui é bastante difícil rapaz. – ele decidiu ser bastante franco. – A maioria dos cargos envolve força física e serviço braçal. Cuidar de animais, ajudar no plantio, ou na colheita. Embalar produtos, carregar caminhões e esse tipo de coisa. A maioria desiste em quinze dias.

– Ainda assim, quero o emprego. – o rapaz declarou.

Kan respirou fundo, carimbando a ficha do rapaz, sabendo que provavelmente seria mais um chorando dali a duas semanas. Aquele trabalho não era para pessoas fracas. Ele rapidamente preencheu uma outra ficha e entregou.

– Seguindo esse corredor, você chegara no pátio central do dojo. – ele explicou – No pavilhão esquerdo, aonde há alguns barris de carvalho, você vai encontrar uma mulher chamada Nemuri. É ela quem decide em que setor você deve ficar. – ele concluiu, enquanto o rapaz pegava a ficha de suas mãos e inclinava-se ligeiramente, se retirando.

Ele serve mais para um escritório ou coisa assim. – ele pensou, enquanto outro rapaz com cara de cachorro que caiu da mudança se aproximava de seu cabinete.

Entrementes, o rapaz que chamava-se Yo seguia as instruções de Kan, e dirigia-se rapidamente ao pavilhão de recrutamento da tal Nemuri. Desconfiou, no entanto, que ele não precisava das instruções, a mulher obviamente gostava de chamar a atenção e inserir medo nos novatos.

Talvez um sonho não realizado de entrar no exército?

Não dava para saber, mas a mulher levava consigo, inclusive, um chicote.

Quando ele alinhou-se, perto dos outros candidatos, ela parou o que estava falando e o encarou com seus olhos frios de um azul acinzentado. Era uma mulher muito bonita, mas totalmente aterrorizante. Seus cabelos eram de um negro quase azulado, usava óculos de armação vermelha em formato de "gatinho". Envergava uma camisa impecavelmente branca e uma calça preta.

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