Neve no Pátio Central

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– Acho que você perdeu a sua lente.

Izuku colocou a mão no olho, assustado.

Porcaria, logo quem havia visto isso? Pior que isso, apenas sendo Hana Toshinori a perceber. Será que ele havia perdido mesmo? – pensou enquanto com apenas um olho tentava procurar a lente pelo chão – Talvez ela apenas tivesse saído do lugar devido a fricção.

– Hey, cara, não seja estranho. – Katsuki fez se ouvir, com seu costumeiro tom de aborrecimento. – Talvez só tenha saído do lugar. Tire a mão daí, deixa eu ver. – Sem dar atenção aos protestos do outro, o mais alto praticamente arrancou a mão do rapaz que cobria o olho e aproximou seu rosto, com os olhos estreitos. E aquilo era estranho em tantos níveis que Izuku sentia a real necessidade de correr em alta velocidade ladeira abaixo pelo mesmo caminho que as garotas haviam tomado, e que era totalmente contrário ao seu. No geral, ele era uma pessoa que não gostava de contatos, ou aproximações, pois sentia que seu espaço estava sendo invadido, algo que constantemente era feito por Kurogiri e seu avô, quando queriam castigá-lo por qualquer bobagem. Contudo sentir as mãos de Katsuki Bakugou, quentes demais para um dia frio, com um toque suave e cuidadoso, tão diferente de sua personalidade expansiva e direta demais, fazia Izuku se sentir estranho.

Os olhos dele eram de diferentes tons de escarlate, partindo do vermelho claro, quase laranja, que circundava suas pupilas, e indo até um carmesim intenso, escuro, próximo ao sangue, nas beiradas. Seus cílios eram espessos para o que seria considerado normal em um garoto, e eram mais escuros que seu cabelo loiro acinzentado. As sobrancelhas eram bem desenhadas e estavam ligeiramente arqueadas enquanto ele esquadrinhava seus olhos. A certa altura, Izuku percebeu que o vento frio havia intensificado a cor dos lábios ligeiramente carnudos com um "arco do cúpido" bem definido, e tingido ligeiramente, da esquerda para a direita, a região próxima aos olhos do rapaz.

Não era a toa que ele receberia tantos chocolates.

– Ah, aqui. – o rapaz arrancou Izuku de seus pensamentos – A lente foi pro lado – ele bateu no canto externo do olho do rapaz – por isso tá irritado. Peraí. – Para alívio do outro ele afastou-se e começou a apalpar os bolsos da mochila de modo rápido e descuidado. Aqui. – Ele arrancou algo de um dos bolsos.

Era um pequeno espelho, sem adornos, com moldura preta de plástico. Izuku sussurrou um agradecimento e olhou-se. Ele sabia que sua aparência atual era "pesada". Os olhos e cabelos negros faziam sua pele ficar mais pálida do que era considerado saudável, e agora que a lente havia saído do lugar, a verdadeira cor de seus olhos eram praticamente um anúncio em neon. Ele conseguiu colocar rapidamente a lente no lugar, então encarou o outro, devolvendo o espelho.

Katsuki, por sua vez, o olhava de cenho franzido.

– Escuta. – ele começou, colocando as mãos nos bolsos – Se eu procurar, não vou te achar no registro da polícia, certo?

– Duvido muito. – ele respondeu, sinceramente.

O avô com toda a certeza não se envolveria com a polícia só para encontrá-lo.

– Então, pra que isso? – ele perguntou, referindo-se as lentes.

Izuku não sabia o que dizer. Ele, na verdade era um péssimo mentiroso, então ele não tinha qualquer desculpa pré fabricada para o uso de lentes negras. Por fim o outro apenas revirou os olhos, retomando a caminhada.

– Esquece. – ele disse levantando os ombros – Se não quer dizer, não diga. Não é como se eu me importasse no fim das contas. - Izuku piscou, e balançou a cabeça, diante da mudança brusca do outro rapaz. Decidiu apenas adiantar-se e emparelhar com ele na caminhada.

Cinderella StepbrotherOnde histórias criam vida. Descubra agora