Prólogo

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A criação divina é quase perfeita, é de uma rara beleza e demasiadamente perigosa aos olhos de um ser puro como os anjos.

Tais palavras eles diziam. Na verdade, foram estas palavras proferidas por um arcanjo. Um ser superior direcionou-as para um de seus subordinados antes de uma missão. Acredito que tenha sido um alerta, ou apenas um chato discurso; um cuidado exagerado, semelhante ao de um pai quando chama a atenção de seu filho. Ou alguém com medo de que outro viva o que ele queria viver.

Muito se sabe sobre as histórias da criação divina. No princípio, o Senhor criou os céus e a Terra, e a Terra era sem forma e vazia...
Mas, pouco se sabe o que aconteceu ou acontecia entre aqueles milhares e milhões de anos que os textos bíblicos escondem. Eles narram uma terra sem forma e vazia, onde as trevas habitavam o abismo e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Os humanos não costumam questionar, porque eles têm medo de questionar, mas, nós conhecemos.

Além disso, nada sabem os humanos sobre os seres superiores a eles. Até por que, é melhor que não saibam mesmo, pois tais mistérios não cabem aos mortais. Mas, eu mesmo me comprometi a contar-lhes uma história. Uma história que foi apagada da História.

Quando Ele, o Altíssimo criou o Éden, o homem, a mulher e tudo o que há na Terra, destinou tudo que chamou de bom os humanos. Era tudo perfeito e maravilhoso, de forma que pôs querubins para que guardasse um jardim, um jardim perfeito e protegido de toda e qualquer mácula. Mas, naquele lugar inabitável para o mal, onde até o homem era perfeito, a pior, ou talvez a melhor das imperfeições viesse a coabitar com a superfície da terra e apresentar aos seres sem mácula as delícias do pecado.
O fim dessa história nós já conhecemos. Adão e Eva (como vocês costumam chamar) foram expulsos para sempre do paraíso. Sim! Eles conseguiram perder aquele magnífico presente. Eles então passaram a viver fora dali e se multiplicaram.

Até ali, o céu já tinha uma vida muito avançada. Nunca se esqueça dos milhões de anos que a Bíblia não explica.

Pois bem... Viajando um pouco mais no tempo, aliás, muito mais, chegamos a um lugar desconhecido da terra. Um lugar mui temido pela sociedade e esquecido pelos exploradores da época.

O que vai ser contado aqui aconteceu no período das grandes navegações, na era das colonizações. Muitas terras "novas" foram descobertas, mas uma delas foi ignorada pelos antigos marinheiros.

Para ser mais preciso, havia e há uma região de pequenas ilhas perto do que hoje chamam de América, no lado do mar de águas quentes e esverdeadas. Ali ficava as Ilhas Baro. Era uma minúscula parte da terra onde os marujos falavam da extrema força das águas, que se agitava mais que o normal. Costumavam também dizer que o lugar era assombrado a ponto de afirmarem que por lá a lua parecia ser maior que qualquer outro lugar do planeta, e que ficava com um tom azul. Ali, uma magia poderosa podia ser sentida como em nenhum outro mar.

Falavam os espanhóis que havia um encantamento naquela região; já os portugueses juravam com a própria vida que perderam as contas de homens e embarcações que cruzaram o trecho violento das Ilhas Baro e não retornaram. Os relatos guardados nos relatórios antigos afirmavam a presença de uma forte tempestade no local e um desaparecimento em massa de homens e navios que se aproximavam das ilhas.

As histórias eram deveras mirabolantes e aos poucos invadiu o imaginário dos europeus, até que se tornaram lendas que perduraram por séculos. Mas, a lenda mais conhecida daquele lugar veio de achado, um diário histórico que os conspiratórios dizem estar nos baús da sagrada igreja que rege o mundo.

No diário, há quem diga que foi escrito por um louco, um náufrago, mas a base da lenda é sustentada pela ideia de que um anjo a tenha escrito. Dizem também que havia uma criatura que aterrorizava as águas das Ilhas Baro, de forma que incomodou não apenas os homens da terra, mas aos filhos do céu.

Certa vez, o incômodo dos céus foi tão grande, que os anjos superiores e conselheiros resolveram convocar uma reunião a mando de Deus.

O caso das Ilhas Baro poderia não ser o único e a criação estaria prestes a ser vítima de uma criatura (não criada por Deus) ainda desconhecida.

Foi então, que segundo a lenda, serafins, querubins e arcanjos tomaram uma decisão que logo custaria demasiadamente caro para alguém. A partir daí, uma história começa a ser escrita, não pelos dedos de Deus, mas pelos dedos de um anjo.

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