capítulo 2 - arte

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A arte sempre deixou Nica extasiada. As suas visitas a museus eram constantes, e também era um dos poucos lugares que sua mãe permitia ela ir "sozinha".

Ir ao museu significava paz, para Nica. Apesar de gostar muito de arte, não é boa em pintura como é em desenhar ou fotografar. Quem era boa nisso era mãe, que sempre tentou ensina-la, mas nunca conseguiu realmente.
Apesar disso, sua paixão por arte nunca deixou de existir.

Alguns chamariam suas fotografias de arte, o que era verdade, e Nica acredita nisso. As suas antigas exposições sempre eram lotadas e todos queriam observar a arte de Nica Pierce.

Faz tempo que Nica não vai a exposições, afinal, cuidar-se sozinha era mais difícil do que poderia imaginar e os museus costumam ficar no centro da cidade e é menos acessível a pessoas como ela.

No momento, a única arte que gostava de apreciar era a mulher desenhada naquele papel amarelado. Talvez fosse loucura ficar tão obcecada por uma pessoa que ela nem conhecia, mas ao menos ela podia se distrair de alguma forma.

Desde que viu aquela loira, visitava o parque todos os dias, mas ela nunca mais apareceu. Talvez apenas estivesse visitando, o que é uma pena, porque Nica adoraria entregá-la aquele desenho.

Talvez visitasse o parque novamente, na esperança que a loira estivesse lá. Aquilo já estava começando a ser assustador, nem a própria Nica sabia de onde vinha aquela vontade de ver alguém que nem conhecia, e a urgência de falar com ela.

Aos seus olhos, aquela mulher era misteriosa, aquele olhar tristonho parecia querer dizer muita coisa, mas parecia não ter ninguém para conversar. Aqueles olhos escuros totalmente vazios e indiferentes, não deixavam de ser lindos.

O que aquela moça estaria fazendo lá? Provavelmente só estaria de visita e parou para descansar, mas os pensamentos que passavam pela mente de Nica sobre o que aquela mulher fazia ali eram absurdos. Sua imaginação sempre foi fértil. E, aliás, aquela mulher nunca esteve ali, ninguém nunca tinha a visto pelo bairro, talvez ela seja uma nova moradora do bairro.

Ou talvez Nica estivesse apenas curiosa para saber quem ela seria, de onde veio, o que aconteceu para seu rosto bonito estar tão triste daquele jeito. Ou apenas quisesse entregá-la aquela folha amarelada.

Optou por não ir ao parque. Sentia-se mais uma vez exausta, e de novo, não sabia do quê. Talvez a sua insistência e constantes pensamentos sobre aquela mulher tenha lhe deixado cansada, ou apenas estivesse cansada de estar sozinha.

Mais tarde naquele dia, um caminhão de mudança estacionou em frente a casa de Nica, a casa em frente a sua, não era ocupada por ninguém, até o momento. A grande janela da sala de Nica expôs os móveis, aparentemente novos, sendo levados para dentro da casa.

Então um carro estacionou, um carro vermelho esportivo, uma mulher loira saiu de lá e os olhos claros de Nica arregalaram. É ela.

Observou a nova vizinha por mais um tempo e depois foi até a cozinha. Resolveu preparar algo para a loira, para dar as boas-vindas.

No fim, também optou por não entregar o desenho, seria esquisito demais e Nica pareceria uma doida se fizesse aquilo. O guardou no fundo da gaveta de seu quarto antes de aprecia-lo mais uma vez.

Preparou um meatloaf delicioso e, com a travessa em mãos, foi até a casa de sua mais nova vizinha. Algumas caixas ainda se encontravam fora da residência, mas o caminhão de mudança já tinha ido embora.

Bateu na porta duas vezes, na segunda, a loira atendeu, encarando o rosto de Nica, e depois, sua cadeira de rodas.

— Olá! – a mulher lhe lançou um sorriso largo e radiante, quase falso.

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