— Giselle. – dava para se notar o desconforto no fundo dos olhos da Pierce.
— Mon amour! Como você está linda! – Giselle aproximou-se para abraça-la fortemente e dar-lhe um beijo vantajoso em sua bochecha. Tiffany apenas observava calada e vez ou outra desviava o olhar para o rosto de Nica, que se mostrava novamente desconfortável.
Anos atrás, na viagem para Paris, Nica conheceu Giselle, nos seus 20 anos. Eram jovens, aventureiras e apaixonadas. Nica passou mais tempo do que esperava na França, justamente por causa de Giselle. Estudou arte e fotografia por mais um ano, aperfeiçoou-se e criou uma relação amorosa com Angel.
Amorosa, sim. Saudável, nem tanto.
Não deu certo, obviamente. Há 7 anos haviam se visto pela última vez, até agora. Nica já tinha encerrado esse assunto e vivia bem sem Angel, mas não pode dizer que foi fácil superar.
Apesar de não ter sido saudável, houve uma dependência emocional muito forte e isso afetou Nica por vários anos.
— Tiff – Nica soltou-se de Angel e virou-se para a mais velha. — Vamos para casa?
— Mas já?! Nem viram metade das obras. – Gisele exclamou. Sempre fora escandalosa demais. — Ah, tudo bem – deu de ombros — Já está um pouco tarde, não é? Lembro bem que você gostava de dormir cedinho. Velhos tempos, não é? – ela deu uma risada, lembrando de bons momentos. Mas não era em bons momentos em quais Nica pensava. Seu ponto de vista era totalmente diferente. — Nos falamos qualquer dia desses! – Giselle depositou um beijo em sua bochecha novamente, deixando Nica mais desconfortável ainda. Invasiva.
— Tudo bem. Já chega. – Tiffany disse, notando o mal estar no rosto de Nica. — Vamos querida, já está na hora de ir.
— E você é quem mesmo...? – Giselle questionou, claramente curiosa.
— Tiffany Valentine...– antes que pudesse terminar, Angel atropelou sua fala.
— Sua namorada, Nica? – arqueou a sombrancelha, olhando nos olhos da castanha ao lhe questionar. Estava sendo sínica.
Nica demorou uns segundos para simplesmente negar, sua cabeça estava uma bagunça.
— Não, somos amigas. – Tiffany tomou partida. Inclinou-se para sussurrar no ouvido da castanha. — Nica, querida? Vamos para casa. – foi apenas aí que a Pierce acordou de seu transe e voltar a realidade.
— Nos vemos qualquer dia desses, então! Au revoir!
Giselle observou elas saírem, com muita curiosidade na mente. Sempre fora uma mulher de gênio forte e orgulhosa demais. Orgulhosa ao ponto de não admitir que não havia superado uma relação de sete anos atrás. Nica ainda tinha espaço em sua mente, mas isso não é exatamente algo bom. Sua mente já era perturbada o suficiente para ter uma obsessão tão forte. O que, provavelmente, não poderia acabar bem.
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Na sala da casa de Tiffany, Nica aguardava a mais velha vir lhe servir um copo d'água, já que, aos olhos da loira, a castanha não parecia nada bem. E Tiffany não gostava de vê-la assim, nem um pouco.As mãos de Nica não paravam quietas, e, se ela pudesse mexer as pernas, com certeza elas estariam inquietas também. Seus olhos vidrados num ponto específico do chão e seu queixo tremendo, seus olhos se enchendo de lágrimas novamente. Mas ela não se permitiu chorar. Não na casa de Tiffany.
O ruído do salto se chocando contra o liso piso de madeira a tirou de seu desvaneio.
— Aqui, beba e se acalme. – estendeu-lhe a mão com o copo e, com a mão trêmula, a mais nova o segurou e deu um gole vantajoso. — Quer me contar? – a loira a questionou, sentando no sofá e cruzando as pernas, assim ficando frente a frente com sua amiga.
Nica não sabia nem por onde começar. O que dizer sobre Giselle Angelique? Havia tanta coisa. Poucas eram boas.
Paris, França 2014. Sarah estava levemente empolgada para adentrar o museu do Louvre pela segunda vez. Na primeira, havia visitado com o seu marido, mas ele não se encontrava mais presente.
Nica, no auge dos seus 20 anos de idade, amante de arte e fotografia, com uma vida inteira pela frente. Estava feliz, apesar da prisão que a cercava.
O dia havia sido calmo e relaxado. Sua mãe não havia feito comentários sobre o que Nica deveria ou não fazer, nem comentando algo grosseiro sobre sua aparência, por motivo de estar reclamando dos parisienses mal educados que ela trombava pela rua, ela não teve tempo.
Café chaud era o nome do estabelecimento. Conhecera Giselle lá. Pierce lembra porque uma criança passou a lhe chatear mexendo sem intervalos na roda de sua cadeira de rodas. Foi Angelique que fez a pestinha parar de perturba-la, visto que era sua própria irmã.
“Pardon” foram suas primeiras palavras. “ela está com sono.”
Sua voz parecia doce no começo. Não se imaginava que algo tão meigo machucaria tanto assim.
“Está tudo bem.”
A primeira coisa que Nica observou foi a sua beleza única. Pele parda – peculiar para uma europeia, mas mais tarde descobriria sobre o lado latino da família de Angelique –, cabelos longos, castanhos e ondulados. Olhos castanhos e lábios levemente convidativos.
Era perfeita. Se pensava na época.
A partir daquela troca de palavras, foi formando um sentimento intensificado pelo encontros que marcavam uma vez por semana – insistência de Giselle, que realmente estava interessada em Nica, que também gostava da compainha da mulher de mesma idade.
Mas o que era belo e pacífico tornou-se sufocante e ludibriador.
Nica descobriu as traições, ignorou as brigas e relevou a violência com qual Giselle insistia em trata-la. Mas tudo tem limites, e Angelique havia ultrapassado todos eles.
Nica lhe deu um ultimato e ela simplesmente jogou fora como se não fosse nada. Mas, é claro, se arrependeu amargamente depois.
Após concluir seus estudos, não havia motivos para permanecer em Paris, por isso, seguiu sua vida e voltou para os Estados Unidos. Deixou Giselle e seu amor egoísta para trás.
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— Ela é uma megera! – Tiffany esbravejou, totalmente incrédula com o que Nica havia lhe contado.
— Eu sei. Depois que voltei para os EUA, ela permaneceu me mandando inúmeros torpedos e me ligava todos os dias, então troquei de número e tentei ao máximo me afastar até superar. Eu só não sabia que voltaria a vê-la tão de repente. É claro que superei, mas eu não esperava isso. – tomou o último gole da água do copo.
— Eu entendo perfeitamente. Faz sentido ter se abalado um pouco. Mas se precisar de apoio, eu estou aqui, está bem? – a loira sorriu, apoiando sua mão no joelho da castanha, olhando diretamente em seus olhos.
— Obrigada, Tiff. – sorriu de volta, corando minimamente, tendo coragem o suficiente para pôr sua mão sob a da loira, que permanecia apoiada sob o seu joelho.
O silêncio se instalou no espaço. Elas não tiravam os olhos uma da outra, até que Tiffany, em um movimento rápido, se inclinou e alcançou os lábios de Nica. Não havia mais distância entre elas. Apesar da surpresa, a Pierce retribuiu, já estava querendo aquilo a muito tempo.
Era um beijo calmo e carinhoso. Apenas os lábios se tocando, mas com um toque terno de paixão e compreensão.
Um selinho foi distribuido para finalizar a não tão demorada demonstração de afeto. Tiffany voltou a sentar no sofá e Nica não conseguiu reagir naquele momento. Para falar a verdade, ela nunca conseguia reagir imediatamente a qualquer coisa que Tiffany fazia. Mas convenhamos, já estava na hora.
— É doce – foi a primeira coisa que saiu de sua boca. A loira arqueou a sombrancelha. — A sua boca. É doce. – Tiffany riu. Nica estava parcialmente petrificada, apesar que ter conseguido falar.
— Oh Nica, querida – disse, rindo — Você é ótima.
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photogram - tiffnica
FanfictionNica Pierce, uma fotógrafa prestigiada, se encontrava completamente perdida após a morte de sua família, até encontrar Tiffany, uma mulher misteriosa que mais tarde, se tornaria o motivo de seu sorriso.