capítulo 4 - imagem e semelhança

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Após toda a situação em que Nica se encontrava, Tiffany a levou para o quarto, lhe dando um copo de água para se acalmar.

— Precisa de ajuda? – a loira perguntou, se referindo a cama. Mas Nica conseguiu subir sozinha.

— Estou bem. – falou, se ajeitando na cama. Tiffany pôs o copo quase vazio sob uma cômoda de roupas e se sentou na ponta da cama.

De repente, ela tinha ficado extremamente entristecida. Tiffany tinha certeza que foi por causa daquilo que aconteceu na galeria. Ela olhava para Nica com empatia. Aqueles olhos azuis celestes - que a loira não deixou passar despercebido desde a primeira vez - demonstravam tanto sofrimento que nunca poderiam ser expresado em palavras. Tiffany sentiu aquilo. Sentiu aquilo no seu coração.

— Não me olhe assim. – a garota sorriu, não um sorriso de verdade, era um sorriso envergonhado por estar sendo observada por aqueles olhos escuros.

— Estou preocupada, Nica. Você não está bem, e pelo o que vejo, já faz muito tempo que está assim. Não é saudável guardar tudo pra si. – não desviaram os seus olhares em momento nenhum enquanto a loira falava.

— Porque tá tão preocupada? Nos conhecemos ontem. – disse, soando meramente rude, mas Tiffany ignorou seu tom, preferiu pensar que era por causa dos acontecimentos passados.

— Porque eu sei reconhecer quando alguém precisa de ajuda. Nunca falou com ninguém sobre o que aconteceu, não é? – ela não ouviu uma resposta concreta vinda da mais nova, então interpretou como um sim e apenas continuou: — A forma que você desmoronou lá, parecia que você não chorava faz tempo, não deve segurar as coisas dentro de sí, uma hora ou outra você não vai mais aguentar. Eu sei que eu não deveria me intrometer, porque a vida é sua, mas eu realmente me importo com você, se nos conhecemos ontem é apenas um detalhe.

Então, quando Tiffany disse essas palavras, Nica se lembrou de dias atrás, quando ela havia visto a loira pela primeira vez no parque, quando nem sabia quem ela era. Lembrou do mistério e do seu semblante cabisbaixo, lembrou do porque havia ficado tão obcecada por ela e porque tinha feito aquele desenho. Porque elas eram parecidas, semelhantes.

Nica tinha sentido empatia desde a primeira vez que a viu, e agora Tiffany estava tendo empatia por ela.

— Posso te mostrar uma coisa, Tiff? – a mais nova fala e a loira assente, lhe lançando um sorriso doce e pequeno. — Ali naquela gaveta, debaixo das meias. – indicou com a cabeça. — Há uma folha de papel amarelada. – Tiffany se levantou e procurou na gaveta debaixo das meias, achando um caderno de desenho, o abriu, deixando um pedaço de papel dobrado e destacado cair no chão. Nica observava seus movimentos e suas expressões.

Tiffany inclinou-se para pegar o papel que havia caído e nesse momento, Nica não deixou de apreciar a maravilhosa vista que era a bunda da loira. Desviou seu olhar, condenando-se em pensamento por ter feito aquilo.

Tiffany voltou a sentar na cama, encarando o desenho.

— Sou eu? – perguntou, franzindo o cenho. Quando Nica havia a desenhado?

— Sim. Eu posso explicar. – suspirou antes de continuar. — Há alguns dias, fui até àquele parque no centro do bairro para tentar tirar algumas fotos. Até que te vi e... Não sei... Você parecia tão nostálgica ao observar as crianças brincando e ao mesmo tempo tão triste. Eu apenas...me vi em você. Nostálgica e triste. Ainda não tínhamos nos apresentado e eu sei que isso parece estranho e doido, mas eu meio que comecei a admirar você e a ficar curiosa, então te desenhei. – disse incerta, com medo de Tiffany acha-la insana. Mas essa possibilidade sumiu de sua mente ao ver a mais velha sorrir, ainda olhando para o desenho.

— É lindo. Você é realmente muito talentosa, Nica. – a loira tirou seus olhos do desenho e os pousou sob Nica.

— Ah, é só um rabisco. – disse, claramente envergonhada.

— Posso ficar com ele? – voltou a encarar o pedaço de papel.

— Sim, claro. – um mínimo sorriso surgiu em seus lábios novamente, desviou seus olhos celestes de Tiffany por alguns segundos e voltou a olha-la novamente, completamente encantada com o semblante magnificado da loira. Estava tão focada no corpo e nos lábios de Tiffany que nem percebeu que a mais velha havia começado a encara-la também.

— O quê? – a loira perguntou, rindo.

— Nada. – riu, nervosa.

— O que se passa na sua cabeça, Pierce? – quando Tiffany pronunciou seu sobrenome daquela maneira e inclinou seu corpo para se aproximar da mais nova, Nica pareceu estremecer. O riso nervoso desapareceu, mas um olhar trêmulo surgiu em seu rosto. Era estranha a sensação que Tiffany lhe causava, mas admitia que adorava aquilo, justamente por não sentir nada além de tristeza nos últimos meses. O sentimento de euforia e nervosismo era algo que a castanha almejava voltar a sentir a muito tempo.

— Você. – respondeu, sem ao menos pensar duas vezes em suas próprias palavras. Tiffany arqueou a sombrancelha e Nica instantâneamente percebe o que falou, tapando a boca e arregalando os olhos esboçando uma reação engraçada, seguida por uma risada bem-humorada vinda da loira, que por um momento, fez a castanha relaxar um pouco.

— Você precisava ver a sua cara! – Tiffany estava começando a ficar vermelha de tanto rir, mas Nica não entendia a graça, apesar de sorrir ao ouvir a gargalhada da loira.

— Eu realmente escolhi as palavras erradas, desculpe. – Nica tentou falar por cima da risada, agora mais controlada, de Tiffany.

— Está tudo bem, foi divertido te ver sem graça. – disse por fim, cessando a risada. — Você é linda, sabia? Adoro os seus olhos. – Tiffany comentou observando o rosto sereno da garota, sendo recebida por um sorriso largo da mesma.

— Obrigada, Tiff. – a mais nova começou a tocar as pontas dos seus dedos indicadores, fazendo-os se chocarem um contra o outro, isso era uma mania sua de quando estava nervosa.

— Droga, está ficando tarde. Eu ainda preciso regar as rosas do jardim. – a loira olhou através da janela. Há quanto tempo elas estavam ali?

— Tudo bem, nos vemos depois. – ela observou a mais velha se levantar. — Eu te acompanho, só um minuto. – a castanha sentiu na sua cadeira sem muito esforço e guiou Tiffany pela casa até a saída.

— Obrigada por me receber, docinho. Até depois! – falou ao passar pela porta.

— Até, Tiff... – sorriu pela última vez, até que a silhueta da mais velha desaparecesse dentro da casa do outro lado da rua.
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O misto de sentimentos de Nica eram confusos, mas bons. Era bom ter alguém para compartilhar e enteder suas dores. Elas eram tão distintas e semelhantes ao mesmo tempo que não conseguiam descrever o quanto se entendiam.

A verdade é que, no fim do dia, elas são as mesmas. Únicas quando estão perto. Distintas. Iguais. Semelhantes.

photogram - tiffnicaOnde histórias criam vida. Descubra agora