Sem

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Sem —

Tudo gira tão rápido, estou atordoado
Sinto que na minha pele há plástico
Sem respiração, sem tato.

Como uma borboleta que acaba de sair do casulo
Ela sabe que já foi uma lagarta?
Ou simplesmente vive sem saber de nada?
(E agora percebo... Que nunca tive nada!)

E para onde olho, sinto que o passo já foi premeditado
E me pego pensando: “E se me cegar?”, é um sabor amargo.

Sem asas, sem liberdade
A borboleta voa pelo trigal em chamas, e o fogo selvagem quase a mata
Mas ela desvia, e continua planando, desaparecendo na mata.

Na frente de uma TV ligada há horas, eu tento fechar os olhos
Eu me fecho, e se eu gritar e minha garganta começar a sangrar
Meu único socorro, será o silêncio...

Eu pulo como um gato entre as pessoas, sem criar nenhuma amizade duradoura
Estive sempre sendo um fantasma
Porque a borboleta me tocou, e ao me cegar, pude ver que não havia nada
Eu sou uma lagarta!

Há vergonha, há medo, há gritos por toda a sala
E eu fecho os ouvidos, me falta fala, me falta tudo
Sem sua reciprocidade, eu estou sem nada.

Nota do autor:
Em Nada, a reflexão é: "Se eu não tenho nada, pelo menos vou ficar com você", porém Sem muda essa narrativa, trocando o sentido da frase, se tornando assim um poema sobre desalienar, como uma reprise que diz: "Se eu estou sem nada, por que ainda estou aqui?", indo assim para o outro lado do álbum, o término.

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