Two

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Point Of View: Lauren Jauregui

A mulher misteriosa me ajudou a voltar para o lado seguro da ponte e segurou firme em minha mão, como se tentasse me passar conforto naquele ato, o que deu super certo.

Ela me levou até seu carro e em poucos minutos, estávamos em movimento. Eu sei que não devia entrar em carros de estranhos, meu pai me ensinou isso nos anos que morei com ele, antes de o mesmo se afundar na bebida.

Lembrar dele fez meu coração apertar e mesmo que eu não quisesse chorar na frente daquela mulher, não consegui me controlar. A dor que eu sentia em meu peito era tanta, que parecia me sufocar aos poucos a cada segundo e a única maneira de conseguir voltar a respirar, era colocando para fora.

Notei que a mulher me olhou por alguns segundos e logo voltou a atenção para a estrada, ela ia com cuidado pelas ruas molhadas, eu nem ao menos sabia onde ela estava me levando, mas descobri assim que o carro parou.

Estávamos em frente à uma cafeteria cujo nome era "Rey Café" e apenas de olhar a fachada, eu já conseguia sentir um clima leve e aconchegante.

Entramos na cafeteria e nos sentamos na mesa do canto, bem próxima a janela, onde podíamos ver muito bem a chuva caindo sem nenhum pudor lá fora.

Uma garçonete, que aparentava ter no mínimo dezenove anos, veio nos atender e anotar nossos pedidos. A garota ficou um tanto intrigada com minha situação, que, pela sua cara, não era nada boa.

A desconhecida quem fez nossos pedidos e assim que a garçonete se retirou, ela desviou sua atenção para mim. Senti um leve nervoso por tê-la agora me observando tão atentamente.

- O que foi? - Perguntei por fim. - Por quê tanto me olha? - Ela esboçou um sorriso contido antes de, enfim, me responder.

- Estou me perguntando o quê de tão ruim pode ter acontecido para uma moça tão bonita como você pensar que pular de uma ponte fosse sua única saída.

De imediato, não a respondi, na verdade, só consegui dizer algo quando nossos chocolates já estavam a nossa frente.

- Na verdade, foram tantas coisas que apenas um chocolate quente não daria conta. - Dei de ombros e a loira esboçou um leve sorriso.

- Tudo bem, eu também não contaria para uma estranha. - Fiquei boquiaberta com sua resposta e estava pronta para respondê-la, mas a mesma completou rapidamente. - Mesmo que a estranha tivesse me impedido de fazer uma grande burrada.

Encolhi os ombros como se tivesse acabado de levar uma bronca de minha mãe e baixei o olhar para a porcelana branca da xícara.

- Desculpe... É só... Complicado, sabe? - Para minha surpresa, ela concordou com um aceno.

- Sei como é. Você precisa entender tudo isso antes de ser capaz de falar com alguém.

- Exatamente. - Ficamos em silêncio por longos minutos, até que acabei por quebrá-lo. - Eu me chamo Lauren. - Estendi a mão para ela, que logo tratou de apertá-la.

- É um prazer conhecê-la, Lauren, mesmo que em uma situação um pouco complicada. - E sorriu brincalhona. - Eu sou a Allyson, mas pode me chamar de Ally.

- O prazer é meu, Ally. - Nossas mãos logo se soltaram e quase que imediatamente, senti falta do calor da mão dela na minha. - Obrigada por... Você sabe...

- Por salvar sua vida e não te deixar pular de uma ponte? Ah, não precisa agradecer, na verdade, hoje eu acordei e pensei comigo mesma: "Uau, que vontade de salvar alguém que está prestes a cometer suicídio", aí você apareceu, então quem agradece sou eu. - E pela primeira vez desde que me lembro, eu ri da forma mais genuína possível. Ri até meus olhos transbordarem em lágrimas e minha barriga doer. - Olhem só, ela sabe rir!

Minha risada foi cessando aos poucos e acabei por me encolher um pouco ao notar que algumas pessoas ao redor me olhavam, provavelmente por conta da risada, ou talvez porque Ally gritou para todos ouvirem que eu sabia rir.

- Obrigada. - Soltei de repente, após um longo tempo em silêncio.

- Sério, você não precisa me agradecer por isso. Qualquer pessoa faria o mesmo.

- Não. - Me apressei em explicar. - Não por me tirar daquela ponte, mas por tudo o que você fez depois disso. Sabe, você não precisava ter me trazido até aqui, nem mesmo conversar comigo. Obrigada por tornar este dia horrível, um pouco mais leve.

- É o mínimo que eu podia fazer. Lauren, não sei o que aconteceu com você, mas eu prometo que vai passar. O que quer que você esteja sentindo de ruim, vai passar.

Não respondi de imediato, me perdi em meus pensamentos e em tudo o que já passei em minha vida, eu duvidava muito que aquilo fosse passar, mas de alguma forma, ela me fez pensar naquela possibilidade.

- Enterrei meu pai hoje cedo. - Disse eu, de repente.

A loira me encarava sem esboçar nenhuma reação, seus olhos se prenderam nos meus e, por fim, ela segurou uma de minhas mãos por cima da mesa.

- Eu sinto muito... Perder alguém que amamos é uma dor que eu não desejo a ninguém, ainda mais quando se é tão próximo assim. - Allyson me olhou com cautela. - Foi por isso que você foi até aquela ponte?

- Acho que foi um dos fatores que me fizeram ir para lá. - Chamei a garçonete e pedi a conta. - Eu agradeço muito pela ajuda, pela companhia e pela conversa, mas está ficando um pouco tarde e eu preciso ir para casa. - Sorri um pouco sem graça.

Não era mentira, Dinah, minha colega de quarto, com certeza estava a minha procura como uma louca. Eu não queria ir embora realmente, ficar aqui, conversando com Ally me fazia esquecer de tudo, mesmo que a pauta da conversa fosse um deles, era como se ela fizesse fazer sentido.

- Tudo bem. - Ela pegou a conta antes que eu pudesse pegá-la e deixou as notas em baixo da xícara, com uma boa gorjeta para a garçonete. - Promete que não vai tentar se jogar de uma ponte novamente? - Sorri abertamente para ela antes de responder.

- Eu prometo. Até porque se eu fizer isso, não vou ter a chance de te pagar um chocolate quente algum dia, sabe, para recompensar por esse.

- Então fique viva para cumprir essa promessa. - Ela riu.

Fiquei sem saber como me despedir da loira, afinal, eu deveria abraçá-la, beijar seu rosto, apertar sua mão ou algo do tipo?

Tive essa questão resolvida quando senti seu corpo se chocar com o meu em um abraço forte e reconfortante.

- Obrigada, Ally.

- Fique bem, Lauren.

E trocando um último olhar com ela, nós seguimos nossos caminhos.

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