1 - CARMEN

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      Por que acendemos uma vela?

     A vela mostra o caminho para aquelas divindades pelas quais invocamos. Pensa-
mos muitas vezes que uma invocação não tem energia de criação... e aí consiste o problema porque as velas simbolizam a luz.

E essa luz é a mais pura energia. A mais pura ou a mais maligna de todas. Leram bem? Pura ou maligna. Ruim ou boa. A dualidade da energia da existência produzida pela primitiva invocação. O que existe no mundo espiritual se materializando no natural.

Agora preste muita atenção. Quando você acende uma vela, olhando para ela e firmando seu pensamento em algo, essa energia estimulada pelas orações chegam aos ouvidos de todos os seres espirituais.

      Qualquer ser espiritual pode ser chamado, inclusive os que não estamos chamando.

O problema é que achamos que todos são bonzinhos, só porque chegam ao nosso mundo guiados pela luz da nossa vela.

Carmen descobriu isso muito cedo. Que tudo que passa pelo tecido espiritual pode não ser de todo bom. Talvez, Carmen tenha descoberto cedo de mais. A menina de dez anos sempre acreditou num mundo além do nosso mundo.

Um mundo onde a pequenina Carmen não ousava falar. O medo sempre foi muito maior, mas, mesmo assim, nunca deixou de acender uma vela para seu protetor. Aquele que a visitava para conversar.

      Porém, Carmen foi crescendo, tornando-se uma moça, depois mulher e mãe.

      O marido dela, o Felisberto, um policial machista, metido a galã e raparigueiro, não a deixava trabalhar.

      Nas noites mais calmas, ele só fazia beber e jantar xingando. Porém, naquelas noites que ele se dizia estar possuído... Carmen apanhava muito e depois era estuprada pelo marido.

      Numa dessas noites traiçoeiras, depois de apanhar do marido e ser estuprada, Carmen rastejando pelo chão do quarto, com dores nas costas, reto e nas áreas dos seios, vai até a cozinha.

       Com dificuldade ela consegue se levantar, apoiando seu corpo na pia da cozinha. Esticando os braços, Carmen pega uma vela branca e a caixa de fósforo.

       Ao tentar se ajoelhar, cai. O corpo da mulher pende para frente, jogando-a contra a parede de azulejo. Os joelhos doeram quando usados. Na verdade, em qual parte do corpo Carmen não sentia dor? Nenhuma.

       A mulher convalescida pela dor, fecha seus olhos e acende a vela. Os pingos quentes das ceras caem e escorrem pelos seus dedos, mas Carmen não esboça reação. Para quem acabou de passar pelo sofrimento do inferno, pequenos pingos de cera não são nada. Nem cócegas. A mulher coloca a vela acesa no chão e depois pega no sono, dormindo ao lado da máquina  de lavar.

       Carmen quando acorda pela manhã, não está mais deitada na cozinha e sim na cama do quarto das visitas. Ela se levanta e com cuidado caminha pelo apartamento que fica na praia de Boa Viagem.

         "Felisberto já saiu para trabalhar."

         Pensa Carmen.

        Mas, a farda dele está pendurada no varal. Ao procurar a arma do marido, encontra no lugar que ele sempre deixa: Embaixo do travesseiro.

           Os dias se passam e nada do Felisberto voltar. Depois de trinta dias Carmen recebe notícias do marido dadas pelos amigos dele. A forma como o encontraram morto, até hoje é lembrada no quartel militar.

             Para Carmen... ficou a pensão do marido violento e uma gestação da qual ela não contava.

             A bela Antônia nasce. Quando a menina faz seis anos de vida, Carmen se casa sem se casar, com Eduardo. Um homem religioso, puritano e também viúvo.

             O grande problema das noitadas e a pessoa se cruzar com assombrações reais. Carmen conheceu Eduardo numa dessas noites. Ela havia pago para uma vizinha cuidar de Antônia, enquanto estava num barzinho comemorando o aniversário da amiga Jaqueline. As duas trabalham juntas numa loja que vende roupas num shopping center na cidade de Jaboatão dos Guararapes e quando chamaram um Uber... advinha quem era o motorista?

           Exatamente... o Eduardo. Os olhos azuis do rapaz cintilaram ao ver a pele branca da pequena Antônia. E isso... Carmen não percebeu.

         Como aconteceu com o Egito na época do governador José, assim mesmo aconteceu com Carmen. Foram dois períodos muito distintos. O primeiro ano foi de farta paz, mas o segundo quando ela adoeceu... o monstro começou a aparecer.

           O pacato marido religioso, começou a surgir à Carmen que foram os pecados da jovem mulher que trouxeram o câncer para vida dela.

            Da noite para o dia, o céu ficou cinza e nublado. A felicidade dos olhos de Carmen sumiram, bem como seu corpo. O coração de Carmen começou a gelar quando via Eduardo indo levar Antônia para escola.

Talvez fosse o delírio da doença, mas aqueles olhos azuis brotavam maldade. E somente depois da doença que Carmen percebeu os olhos maus. Os olhos que dizem mais palavras que a boca.

Carmen, começou a sair cada vez menos da cama e por consequência do quarto. E todas as vezes que Antônia chegava da escola, a mãe passava momentos de tortura analisando o corpo e "as partes" da filha.

Usando a desculpa que desejava passar mais tempo com sua filha, Carmen pediu para Eduardo dormisse em outro quarto.

A VELA  - TERROR SOBRENATURAL- Lançado 23/02/22Onde histórias criam vida. Descubra agora