O parto foi fácil. Antônia não demorou pra nascer... pareceu até que nasceu depois de um espirro. Talvez, essa tenha sido a única bondade que Carmen tenha recebido de Felisberto: uma gestação abençoada. Sem problema algum.
Antônia, nasceu com muito cabelo e liso. E quando Carmen recebeu a filha nos braços, antes de seguir para incubadora, entendeu o porquê do tamanho da azia que sentiu.
Fora essa questão do tamanho e da quantidade dos cabelos da menina, Antônia nasceu com quase três quilos, chorou assim que saiu da mãe, fez carinho no rosto de Carmen quando reconheceu sua voz.
Antônia, não dava sossego. A menina tinha uma fome canina. Sugava os peitos da mãe quase que ao mesmo tempo. Carmen, só fazia sorrir e expressar na face a dor misturada com orgulho de ter muito leite.
Com menos de 1 ano de vida, a menina começou a andar. Carmen tomou um assusto quando Antônia levantou-se rapidamente depois de estar engatinhando.
A pequenina veio na direção da mãe, com os bracinhos abertos e andando parecendo um zumbi. Sei que não foi a melhor comparação, mas foi exatamente isso que Carmen pensou... e até gargalhou.
Tudo que Antônia fazia, era uma foto. A menina fazendo birra, flash. Caiu? Flash! Sorriu? Mais flash. E quando tiveram que se despedir no primeiro dia de aula, parecia que Antônia estava viajando para o exterior. Como aquilo doeu na Carmen... já em Antônia não doeu nadinha. Ela amou a escola desde o primeiro dia.
Antônia de um lado dando tchau pra mãe, e Carmen do lado de fora da escola, retribuindo o tchau como se fosse um adeus... as lágrimas pareciam um mau pressagio. E o pior é que pode até ter sido. Quem vai saber?
Os elogios da socialização da menina chegavam quase todos os dias.
"Mãe, a Antônia brinca com todo mundo!"
"Olha... que menina genial!"
"Mãe, a sua filha não é egoísta. Deixa sempre as outras crianças brincarem com os brinquedinhos dela."
Antônia praticava natação, mas sempre amou o futebol. Não perdia um jogo transmitido pela televisão do Sport Clube Recife. Fez até Carmen comprar uma camisa original do time.
Começou a nadar aos quatro anos e se destacou de cara, não pela resistência, mas pela velocidade. Porém o treinador disse que era normal, na idade da menina, ser mais uma coisa ou outra. O importante era Antônia continuar treinando.
Outro hobby que continua até hoje é jogar videogame. E se for FIFA, PES ou MORTAL KOMBAT... Antônia não sai da frente da TV.
Porém, havia uma coisa que passou a incomodar Antônia depois dos seis anos; foi a falta da foto do pai. Havia dezenas de fotos na estante, mas nenhuma do pai.
Todas as vezes que perguntava sobre seu pai, a mãe desconversava. Carmen respondia que contaria tudo para ela quando fizesses doze anos. Resposta essa que Antônia nunca entendeu.
Até porque ela estava com seis anos mas altura de dez e mentalidade de 12. E talvez, por causa dessa mentalidade de uma pessoa mais velha, não gostou da chegada do Eduardo.
Antônia, não gostava de ficar perto dele, mesmo quando ele era gentil com ela.
Eduardo nunca fez nada que demostrasse qualquer outra coisa, mas, eram seus olhos azuis frios, que a incomodava.Aquele jeito de olhar que não tem sentimento ou expressão alguma. As sobrancelhas mal se mexiam quando ele falava. Mas, os olhos pareciam ver tudo. Tremulavam iguais duas bandeiras agitadas pelo vento.
E para piorar tudo, dois anos depois, Antônia percebeu um leve sorriso nos lábios do Eduardo quando sua mãe o abraçou chorando.
Sei que você calculou... se com 6 anos a menina parecia ter uma mentalidade de 12 anos, com 8 anos ela deve estar com a mentalidade de 14. Errado. Mas, sigamos contando a história.
A menina podia sentir as dores da mãe. E a dor era maior quando escutava a mãe tossir. Parecia que iria morrer asfixiada.
O som molhado do catarro desprendido do tórax, subindo para a garganta e enchendo a boca da sua mãe com o líquido viscoso, nunca a deixou com nojo, mas, com a certeza de que sua mãe não aguentaria muito.
A coisa toda piorou ainda mais, quando Eduardo a chamou na sala para contar o que estava acontecendo com Carmen. Ele a chamou com as mãos para colocá-la no colo dele, porém a menina não foi e sentou na poltrona do lado.
E aquele homem que se dizia religioso, pela primeira vez, a felicidade dos olhos dele foi igual com o som da sua voz, dizendo para Antônia que a mãe dela logo morreria e seria ele quem passaria a cuidar totalmente dela.
Antônia, nada diz. A menina de 8 anos, não tem medo quando escuta Eduardo repetir: "totalmente". Porém, tem medo quando ela o escuta dizendo que as vezes Deus abrevia os sofrimentos dos seus filhos, como uma demonstração do seu amor.
A menina levanta-se e vai para o quarto da mãe. Eduardo, acompanha a menina com seus olhos que não sabem disfarçar a felicidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A VELA - TERROR SOBRENATURAL- Lançado 23/02/22
HorrorAntônia tem oito anos de idade e por algum motivo, que a menina não entende, a sua mãe enferma pede que a menina acenda uma vela , ao lado da sua cama, e façam juntas uma reza... A VELA é um conto de Terror, escrito pernambucano Santo Serafim...