3 - EDUARDO

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         A pior pessoa é aquela que se veste de bondade, enquanto, na verdade, é um demônio vindo das mais densas trevas.

          Eduardo Francisco do Amaral.

           Lavínia do Amaral, era devota de São Francisco de Assis e o pai do Eduardo um ateu convicto, só sobrou para sua mãe colocar "Francisco" no nome do meio.

            O menino nasceu depois de uma vela acendida para o santo preferido de dona Lavínia. Embora Doutor Matheus do Amaral tenha pago uma fortuna num procedimento que garantia 50 porcento de chance de dar certo, a gravidez da esposa aconteceu conforme o esperado pela ciência e pelo sobrenatural e tudo temporariamente se aquietou.

            Eduardo nasceu num lar cheio de amor. Os pais se amavam e os dois amavam o filho. O menino filho único nasceu cheio de regalias e mimos.

             Porém, aos nove anos de idade, Eduardo começou com uma mania "estranha". A palavra encontra-se entre aspas porque foi o termo usado pela mãe do menino, dona Lavínia, quando o mesmo foi pego pregando baratas com pregos na parede do quarto.

           Foram dez baratas pregadas a marteladas. Em fileiras. Com o mesmo distanciamento e seguindo da menor para  a maior.

          Como já foi escrito, a mãe do menino disse que era uma mania estranha, mas perfeitamente normal para um futuro paleontólogo. E fazendo a defesa do filho para o marido perguntou:

— Quem sabe não estamos criando um paleontólogo? Você como um ateu que se preza, deviria ficar orgulhoso do seu filho.

— Lavínia, é sério que você está falando isso? Olhe para aquela parede! Eu não posso ficar orgulhoso com isso que estou vendo! O Eduardo pode não ter feito com maldade, mas temos que ficar atentos... porque no mínimo pode não ser normal.

— Você está exagerando na sua análise, meu amor. Independente se foram pregadas numa parede ou mortas por inseticidas... baratas são baratas.

O Dr. Matheus olha para sua esposa, sem acreditar no comentário que acabou de ouvir.

Os anos foram se passando, a dona Lavínia levava Eduardo todos os sábados e domingos para a Igreja Católica próxima da casa deles.

             Aos 12 anos ele deu um passo a mais. Passou de insetos para animais de pequeno porte. Mais precisamente, ratos.

          Os roedores começaram a fazer parte de experimentos macabros. Eduardo, inicialmente começou a costurar as patas dianteiras de um rato marrom, mais as patas traseiras de um roedor preto, num rato de pêlos brancos.

             A mãe fazia que não via e o pai observava em silêncio. Até que do nada o menino parou com as experiências e passou a ficar mais fervoroso na religião cristã, principalmente na leitura do Velho Testamento. Logo, as idas à igreja nas quartas, quintas e sextas-feiras eram semanais.

Um coisa observada pelo pai de Eduardo foram os olhos azuis do menino que pouco demonstrava qualquer tipo de afeto ou emoção.

            Seus imensos olhos azuis pousaram na serenidade da impunidade. O maior disfarce de um predador é se passar por presa. E foi aí que o lobo deitou e rolou.

             A primeira mulher de Eduardo, Vanderléia, morreu dormindo. A segunda, uma médica da polícia militar, morreu engasgada com uma espinha de peixe. Talvez ele seja vítima da fatalidade do destino ou um assassino fatal. Prefiro ficar com a segunda opção.

E você pode estar perguntando:

Será mesmo que ele parou de matar seres vivos? Ou apenas se refinou? Porém, há mais uma coisa para se contar sobre o Eduardo.

Os olhos azuis parado no infinito, de forma inócua e despretenciosa é uma forma para de não revelar o seu pior... Eduardo aprendeu a gostar de comer carne humana, matando.

Esse vicio começou quando ele chegou aos 18 anos. Um novo passo fora dado quando matou o primeiro mendigo.

Levando a pobre vítima para seu carro e depois para um imóvel abandonado do pai dele, Eduardo lavou e depilou todo o corpo da vítima e depois o devorou fatiando igual se come uma manga-rosa suculenta.

Primeiro, a faca entra por cima da carne da manga, depois puxamos a pele da fruta para comê-la. Por último e não menos importante, cravamos os dentes na manga e bebemos seu doce sumo, mastigando suas fibras amarelas.

E como ele amou o poder que sentiu ao comer carne humana.

A igreja passou a ser seu lugar preferido para buscar almas perdidas e sem esperança.

A justificativa que usava para si mesmo, para acalentar o resquício que ainda existia de sanidade reafirmando-se diariamente, era não ter justificativa alguma.

Ele matava porque podia matar.

Com o passar dos anos mudou a forma de escolher as vítimas, as presas agora seriam crianças. Mais fáceis. Infelizmente.

Os olhos azuis de Eduardo sempre foram um poço do nada. Sem expressão alguma... até o dia que ele viu a pele de Antônia e a imaginou entre seus dentes.

Nesse dia, era para Carmen ter acendido uma vela... mas, ela estava tão encantada pelos olhos quase cinzas e cheios de ternuras pelas entranhas de Antônia, que nada percebeu.

A VELA  - TERROR SOBRENATURAL- Lançado 23/02/22Onde histórias criam vida. Descubra agora