Antônia encontra-se no hospital apenas para fazer exames padrões. A menina ainda não sabe como o Eduardo foi assassinado.
Ela só sabe o suficiente para saber que foi salva.
A única coisa que se lembra da noite de ontem, foi ter feito a invocação, a reza, e depois sentir afagos no cabelo e dormir olhando para pares de olhos amarelos.
— Posso entrar no quarto e conversar com Antônia? — A menina olha para o lado e vê da sua cama o homem que pediu para entrar, vestido de jaleco branco, conversando com sua tia.
Ana Gomes, que está em pé com os braços cruzados e apreensiva, aguardando o médico de plantão chegar e dar alta, estende a mão para frente pedindo que o doutor siga na frente para entrar no quarto.
— A mocinha sentiu náuseas? Dores de cabeça?
— Até o momento não, doutor. Qual a sua especialidade?
— Psiquiatra.
— Foi o doutor Cezar que mandou o senhor?
— Não. Mas aqui o hospital, quando temos internações por traumas de violência familiar, sempre sou chamado para conversar com a criança. A senhora poderia nos deixar a sós?
— Claro. Vou pegar um café no quinto andar e volto.
O psiquiatra senta num sofá marrom que fica ao lado da cama de Antônia. Os olhos dele são amigáveis e trazem confiança para menina.
O cabelo do médico é farto, longo e encaracolado. A impressão que Antônia tem é que os cabelos dele podem aguentar qualquer peso que for amarrados em seus cachos.
— Eu fiz que estava dormindo... — A menina começa a falar sem olhar para o médico. — quando a polícia chegou. O Eduardo arrombou a porta do banheiro e depois só escutei gritos.
Olhando para o psiquiatra, Antônia observa os olhos castanhos e serenos que ele tem. A menina entende que pode confiar nele.
— Minha mãe morreu a mais de uma semana.
— Você é muito madura para sua pouca idade. Já disseram isso?
— Sempre dizem. E eu me sinto mais velha também.
— Entendo.
— O senhor entende mesmo?
— Entendo sim, Antônia. Entendo como é sentir-se mais velho e também entendo a dor da sua perda.
— Você também perdeu alguém, não foi?
— Sim, a muitos anos atrás.
— Foi você não foi? — A pergunta de Antônia sai de supetão. A menina tem como resposta a transformação lenta e degrade, que os olhos do médico fazem quando mudam para a cor amarela ouro.
— Você nos chamou.
Antônia fica sem entender nada. Ela se lembra que de fato, quando fazia a reza, pediu proteção para...
— Você é meu pai?
Antônia recebe um sorriso cheio de amor.
— Mas, como é possível?
A menina olha para o chão procurando desesperadamente por respostas, tentando conciliar as lembranças de quando ficava escondida, por trás da porta, prestando atenção no que sua tia Ana e sua mãe falavam do seu pai.
— Meu pai batia na minha mãe! Por que você veio então? Se não nos amava?
— E quem disse que aquele homem era seu pai? Minha filha, prometo que contaremos tudo para você... quando chegar a hora. E acredite que não vai demorar muito para que isso aconteça.
— Contaremos?
O psiquiatra levanta-se e vai até a porta. Antônia escuta uma voz familiar:
— Posso entrar? — O coração de Antônia acelera. Quase lhe falta ar de tanta emoção ao ver sua mãe parada em pé na porta do quarto. — Posso entrar? — Carmen repete a pergunta.
— P-pode. Lógico! P-pode.
Carmen está vestida com uma blusa branca, com a pintura colorida do pássaro Huma. E usando uma calça verde claro. Os cabelos estão mais vivos e amarrados para trás elegantemente.
As duas se abraçam e choram. Os olhos da mãe estão amarelos com os dois dentes caninos se sobressaindo discretamente dos lábios vermelhos.
— Foram vocês que me colocaram para dormir!
— Foi o Wess, meu amor, quem te colocou para dormir.
Dito isso, Carmen se faz ser entendia. Foi ela quem despedaçou o Eduardo.
Foi ela quem despedaçou e desmembrou seu assassino. E foi Carmen que voltou, do outro lado, guiada pela vela para proteger sua cria.
— Quando vou poder ficar com vocês?
— Em breve te procuraremos e contaremos tudo.
Antônia, vê seu pai passando a frente de Carmen e beijando a testa da filha.
— Meu nome é Wess Durand, a propósito. Não vou esperar até nos encontramos novamente para te dizer meu nome completo. — Dito isso, sai da frente de Antônia deixando Carmen livre para se despedir da filha.
As duas ficam abraçadas. Bem agarradas. Parecendo um corpo só.
— Que pássaro lindo.
— É o Huma. — Responde Carmen. — É o pássaro que nunca descansa e vive toda sua vida e voar invisível, observando tudo. — Precisamos ir. Já sabem que seu pai não é psiquiatra. — Depois que os dois saem do quarto, passados poucos segundos, Ana entra no quarto com dois policiais e o médico de plantão.
Antônia está deitada, fazendo que dorme. Ana, sua tia, suspira aliviada ao ver a menina descansando.
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Pessoal,
Essa homenagem para meu amigo WestDurand já era devida. Além de ser um escritor excepcional, Wess é um designer fora da curva! O cara é phod4! É ele quem faz minhas capas (95% delas foram feitas por ele).Irmão, muito obrigado.
Cordialmente,
Santo Serafim
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A VELA - TERROR SOBRENATURAL- Lançado 23/02/22
HorrorAntônia tem oito anos de idade e por algum motivo, que a menina não entende, a sua mãe enferma pede que a menina acenda uma vela , ao lado da sua cama, e façam juntas uma reza... A VELA é um conto de Terror, escrito pernambucano Santo Serafim...