Dois

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O resto da viagem passou-se em silêncio da nossa parte. Lembro-me que perdi noção do tempo, mas que os minutos pareciam arrastar-se como horas. O facto de não saber onde estava nem para onde ia só piorava tudo e, apesar de sentir os meus olhos arder com o cansaço, não consegui adormecer. Percebi que saíamos de Busan, mas o carro seguia tão rapidamente e estava tão escuro, que não conseguia ler as tabuletas com as direções.

Aos poucos, começava um novo dia. Observei o céu passar por vários tons de azul à medida que o sol começava a subir no horizonte. E então, percebi que aquele seria oficialmente o primeiro dia de uma nova vida. Uma vida não escolhida por mim e sobre a qual eu não tinha qualquer informação.

-Bem, pior do que a anterior, é complicado.- Murmurei para mim mesmo.

Começava a ficar enjoado por estar tantas horas a viajar de carro de estômago vazio, quando finalmente entramos bem no centro de uma grande cidade. Os meus olhos dobraram de tamanho quando percebi que nos encontrávamos na capital: Seoul.

-Estamos em Seoul?

-Sim.- o meu pai manteve os olhos focados na estrada, mas pude ver um pequeno sorriso enviesado surgir. -Parece que o teu sonho se tornou realidade, Jimin! Bem-vindo a Seoul!

Senti um gosto amargo na boca, não sei se devido à sensação de enjoo, se ao mau pressentimento que tive ao ouvir o tom sarcástico do meu pai. Seoul sempre tinha sido o meu sonho, mas sempre que tentava juntar algum dinheiro para partir, este era ou roubado pelo meu pai, ou usado pelos agiotas para pagar as dívidas do meu progenitor. E, agora que ali estava, eu não me sentia feliz, pois tinha um pressentimento que o meu sonho estaria prestes a tornar-se num pesadelo.

Enquanto passávamos pelas movimentadas ruas de Seoul, tentei focar-me nos seus edifícios e pessoas, nos seus cheiros e sons. O meu pai tinha aberto um pouco a janela do carro e, apesar de estranhar a sua atitude, não questionei. No fundo, percebi que era a sua forma de tentar amenizar um pouco a sua culpa pelo que me iria acontecer.

Pela forma como o meu pai conduzia e se movimentava pelas ruas, sem qualquer hesitação, percebi que não seria a sua primeira vez em Seoul. O facto de alguém como o meu pai já ter visitado tantas vezes aquela cidade, que para mim era um sonho, fez-me sentir revolta. Porque é que eu é que tinha de ficar em casa e lidar com os agiotas, enquanto ele andava a divertir-se em Seoul?

As ruas movimentadas do centro da cidade deram lugar a bairros residenciais, onde várias pessoas saíam das suas casas para iniciar mais um dia de trabalho ou de aulas. Pelas casas e carros estacionados, era óbvio que nos encontrávamos numa zona rica e, instintivamente, fechei o vidro. Com as minhas roupas baratas e puídas, eu definitivamente não pertencia ali.

O meu espanto foi ainda maior quando finalmente o meu pai parou o carro à frente de um grande portão de ferro negro trabalhado. Vi-o baixar o vidro e tocar no botão do que supus ser a campainha. Alguém deveria estar à nossa espera, pois atenderam imediatamente o intercomunicador.

-Quem é?

-Park Hee Soon.

O nome do meu pai foi o suficiente para ouvir o chiar daquele enorme portão abrir, para nos dar passagem para a enorme residência que se escondia para lá do grande muro. Belisquei-me, para ter a certeza que não estava a sonhar, mas a dor que senti no braço fez-me ter a certeza que o que estava a ver era real.

A casa que se estendia no meu campo de visão, era a residência mais luxuosa que eu tinha alguma vez visto na minha vida. Ao contrário do muro exterior, de pedra tão compacta que mais parecia um forte, grande parte da fachada da casa era envidraçada. Apesar de manter alguns elementos mais tradicionais, era óbvio que a casa tinha sido remodelada para uma arquitetura mais recente.

Me From the Moon, You From the Stars- Vmin/MinVOnde histórias criam vida. Descubra agora