Respiro fundo novamente, mas cada vez que o ar entra em meus pulmões eles parecem piorar. Tudo está confuso. Posso sentir o sangue ainda escorrendo do arranhão em minha bochecha. Sinto a mão de meu irmão segurando a minha firmemente, a qual sua temperatura quente é o oposto da neve gélida e fofa que meus pés protegidos pela fina camada dos sapatos pisam enquanto corremos o mais rápido possível, afinal, nesse momento, nossas vidas dependiam disso.A forma como viemos parar nessa situação ainda me deixa um tanto assustada. Nossa mãe nunca gostou de nós, tal fato se comprova mais ainda ao perceber que ela sequer nos disse seu nome. A mulher que nos deu à luz nunca havia planejado ficar grávida, e nós fomos apenas um produto de quando ela e seu amante se exaltaram mais do que deveriam. Ele, que não queria assumir a responsabilidade de ter filhos, deixou nossa mãe sozinha e nunca mais voltou.
Então, desde que nascemos, ela nos odeia. Na primeira oportunidade que teve de se livrar de nós, ela o fez. Tenho certeza que não sabia para quem estava nos vendendo, mas não acho que se importaria se soubesse. Ela nos vendeu para uma empresa que começava a fazer sucesso, mas como qualquer coisa que envolve a ciência, eles precisavam de cobaias. Tínhamos cerca de cinco anos quando ela nos despachou para aquele lugar horrível. Todos os dias eu e meu irmão Yukio éramos tirados de nossas celas para que pessoas com estranhas roupas e máscaras que cobriam seus rostos tirassem nosso sangue e nos dessem agulhadas com substâncias de coloração peculiar.
Isso foi no início, já que com o tempo começaram a ser testes cada vez piores. Muitas vezes me separaram de meu irmão e era aterrorizante não saber onde ele estava, já que naquele lugar só tínhamos um ao outro. Porém não éramos apenas nós. Tinham outras pessoas, crianças, adolescentes e até alguns adultos. Com o tempo todos tinham organizado um plano de fuga. Admito que acabei me apegando a alguns deles. Fuyumi, uma mulher que estava na casa dos trinta era como uma mãe para nós, e Miya, uma garota que tinha três anos a menos que nós era como nossa irmã mais nova, sempre a protegíamos na medida do possível.Mas, quando fizemos dez anos, finalmente o plano estava pronto. Não tenho certeza do que os adultos iriam fazer, mas sei que quando chegasse a hora todos nós iríamos fugir, correr o mais rápido possível e em direções diferentes. Assim, eles não teriam como pegar todos nós, e pelo menos alguns conseguiriam fugir. E assim foi. O problema é que eu e Yukio ainda ouvimos os passos de quem está nos perseguindo, e nós não estamos familiarizados em correr longas distâncias. Não é como se desse para correr dentro das apertadas e lotadas celas.
Encaro meu irmão e seus olhos dourados como um dos meus pareciam brilhar na luz da lua. Seus cabelos brancos um tanto longos pelo tempo de cárcere balançavam enquanto ele corria.
- Ayla! - Escuto sua voz, mas de certa forma ela parecia distante. Sinto o aperto em minha mão ficar mais forte, e dessa vez as palavras soam com mais clareza - Não pare de correr! Nós... nós estamos quase lá! - diz ofegante - Vai ficar tudo bem, vamos... vamos conseguir!
Não sei por quanto tempo corremos, mas em certo momento os passos que nos perseguiam cessaram. Finalmente paramos. Doía respirar. Era como se meus pulmões estivessem congelados. Me apoio em uma árvore e meu irmão também.
- Ei, maninha - olho para seu rosto e percebo suas lágrimas de alívio - conseguimos fugir.
Depois disso é como se ele soltasse tudo que esteve guardando durante esses cinco anos. Eu o abraço enquanto também choro. Espero que os outros estejam bem. Nós dois estávamos aliviados, até que ouvimos um barulho estranho.
- Ora, são irmãos? Vocês parecem deliciosos! - Seja lá o que falou aquilo tinha uma voz estranha e arrastada. Fico paralisada de medo, enquanto um ser desconhecido começa a surgir do meio das árvores. Seu corpo tinha uma coloração azulada e ele tinha quatro braços. Seus dentes afiados eram perceptíveis enquanto ele falava e seu único olho no meio de sua testa se arregalava.
Eu e meu irmão começamos novamente a correr, mas aquilo era muito mais rápido que nossos perseguidores. Ele nos alcançaria em segundos se não fosse por outra figura estranha que apareceu. Vimos a cabeça do monstro ser cortada e seu corpo se dissolver, enquanto suas cinzas manchavam a neve branca.
Um homem estranho então apareceu, guardando uma espada estranha e nos olhando como se estivesse lendo nossas almas.
- Vocês não deveriam estar aqui crianças, é perigoso! Seus pais nunca lhes disseram para tomar cuidado com os onis?
- Pais? - acabo dizendo por impulso enquanto meus olhos voltam a arder - Se nós tivéssemos pais, não estaríamos fugindo daquele lugar horrível! - digo enquanto já estava chorando de novo. Meu irmão também chora.
- Por favor, não nos deixe acabar lá de novo! - Diz meu irmão também chorando - Nós não queremos voltar pra lá!
Enquanto o homem parece perceber as estranhas e finas roupas para se estar na neve, eu percebo que seus cabelos são pretos e surpreendentemente ele tem olhos bicolores, assim como os meus, um verde e um amarelo. Ele usava um tipo de uniforme, com um haori preto e Branco. Sua boca era enfaixada e por algum motivo ele tinha uma cobra em seus ombros.
- Eu sou Obanai Iguro, pilar das serpentes. Está frio demais para vocês estarem aqui desse jeito... - ele tira seu haori e o coloca sobre mim e meu irmão, que, por sermos consideravelmente menores, coubemos perfeitamente nele. - Agora, me digam, de onde vocês estão fugindo?
Como duas crianças questionadas sobre um assunto extremamente sensível, assim que tentamos falar nós começamos a chorar mais ainda. Obanai, de forma inesperada parece compreender. Não sei se realmente vi empatia, já que metade de seu rosto estava coberto, mas seu olhar dizia que ele podia ter passado por algo semelhante.
- Vocês ao menos tem um lugar para passar a noite? - o mais velho pergunta, e, ainda secando as lágrimas negamos. Ele então solta um suspiro e diz - Nesse caso, levarei vocês comigo.
Então Iguro segura a mão de meu irmão e nós, ainda cobertos pelo haori do Pilar, partimos para um lugar desconhecido.
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Oi oi amores, esse prólogo teve suas 1054 palavras, espero que tenham gostado. Ele serviu para apresentar o passado dos personagens antes de introduzir a história. Por agora é só, bjs.
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ι ¢αη ѕєє тнє ѕтαяѕ°•*
Fanfiction*.°+• - 𝓔𝓾 𝓬𝓸𝓷𝓼𝓲𝓰𝓸 𝓿𝓮𝓻 𝓪𝓼 𝓮𝓼𝓽𝓻𝓮𝓵𝓪𝓼 - •+°.* _________________________________________ _____________________________。*゚+ ___________________________ " 𝔘𝔪𝔞 ú𝔩𝔱𝔦𝔪𝔞 𝔳𝔢𝔷, 𝔢𝔰𝔭𝔞𝔡𝔞 𝔢 𝔢𝔰𝔠𝔲...