Aperto minhas mãos nervosamente. Elas já estão doloridas e um pouco vermelhas... Não importa! Eu continuo apertando porque é a única coisa que posso fazer neste momento.
Ouço a palavra "São Paulo" ecoando por todo o local e meu coração acelera, minha cabeça roda e tudo o que eu desejo é desmaiar. Sim, desmaiar! Ficar desacordada e não saber nada do que está acontecendo comigo.
Olho na direção do portão para o qual várias pessoas estão caminhando e me impressiono com a calma que todas elas aparentam estar. Elas conversam, riem, estão concentradas ouvindo algo no fone de ouvido... Em resumo, elas agem normalmente. Como se estivessem prestes a fazer uma coisa natural, como comer, tomar banho ou entrar em uma sessão de cinema!
Só que não é bem assim. Não é algo natural! Pelo contrário...
Bem, pelo menos para mim não é nem um pouco natural!
Levanto e o primeiro pensamento que passa pela minha cabeça é fugir. Sair correndo para longe deste lugar sem parar e nem olhar para trás! Chego a olhar na direção contrária à que eu devo ir, só que eu sei que não posso fazer isso. Fugir não é uma opção que eu tenho. A minha única opção é me dirigir para o mesmo portão para o qual tanta gente já se encaminhou.
Coloco a bolsa no ombro e pego a minha mala de mão que estava na cadeira ao lado. Lentamente, caminho para a fila que já está grande, mas não me incomodo com o tamanho dela, inclusive agradeço por ter um tempo a mais para aproveitar a terra firme.
Chega a minha vez e uma sorridente atendente me deseja bom dia e solicita a minha passagem. Entrego todos os papéis que eu já tinha deixado separado e, assim que ela confere e me devolve o que eu entreguei a mais, ela abre um sorriso ainda maior e me deseja uma boa viagem.
"Boa viagem"...
É o que eu quero ter!
Só que, saber que estou andando dentro de um tubo para entrar em um avião, não me deixa nem um pouco tranquila.
Sou recebida por uma equipe simpática de aeromoças e me seguro para não perguntar como alguém tem coragem de trabalhar em uma profissão como essa. Murmuro um agradecimento e sigo a fila que também procura seus assentos.
Chegando ao meu lugar, coloco minha bagagem de mão no compartimento no alto e me sento na cadeira do corredor. O lugar ao meu lado está vazio e vejo o lado de fora através da janela. Um movimento a minha frente chama a minha atenção e descubro que tem como fechar a janela. Faço isso na mesma hora. Eu já sei que vou estar acima das nuvens em pouco tempo, não preciso olhar para o lado de fora para me certificar disso.
Não demora muito e um homem se aproxima da minha cadeira, tentando colocar sua bagagem no mesmo compartimento onde estava a minha. Após algumas tentativas, ele desiste e anda um pouco mais a frente conseguindo um espaço vazio para a sua mala. Ele volta para onde eu estou e pára ao meu lado.
- Com licença. - Ele aponta para o lugar vago e eu entendo que ele viajaria ali.
- Claro! - Chego minhas pernas para o lado dando acesso para ele passar, mas, como o espaço é bem apertado, ainda assim ele esbarra em mim.
- Desculpa! - Ele pede ao sentar.
- Tudo bem!
- Você se incomoda se eu abrir a janela?
- Sim! - Respondo rápido e alto. - Desculpa!
- Não tem problema! Podemos deixar fechada.
- É só que eu tenho medo. - Confesso antes mesmo de pensar que era loucura falar sobre esse assunto com um completo estranho. Ele abre a boca sem emitir som algum, mas sua expressão demonstra que ficou claro para ele que eu tinha muito medo.
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E agora?!
Short Story8 contos 8 casais diferentes 8 situações estressantes Será que, no momento em que mais precisamos de ajuda, podemos encontrar o amor?