Cɑp. 40

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Não poder recordar de uma pessoa ou de alguma história importante da sua vida é uma das piores coisas que se pode acontecer. Um acidente mudou completamente a forma como percebo o mundo e como me lembro dele. Diagnosticada com amnésia retrógrada há cerca de duas semanas ainda estou em evolução. Uma evolução lenta e gradativa, o que é relativamente bom. Até o momento minhas lembranças foram um episódio no carro com o Ethan onde discutíamos sobre o avanço da tecnologia e o outro foi de ir buscar meu suéter na lavanderia. Quando o doutor Collins disse que a amnésia poderia se tornar permanente me assustou, é claro que assusta. Eu poderia nunca mais lembrar de como é ser uma pediatra, e se nunca mais lembrar de coisas tão valiosas? E se nunca mais lembrar dos momentos mais importantes com o Ethan... não digo que não poderei me apaixonar pelo meu marido de novo porque acredito copiosamente que Ethan tem adjetivos suficientes para me roubar o coração outra vez mas nunca lembrarei do nosso casamento, da nossa primeira vez, do nosso primeiro beijo. Todas as velhas memórias não voltariam, uma parte de quem eu sou seria apagada.

Atravessei a rua e caminhei até a esquina onde tinha uma cafeteria. Empurrei a porta de vidro e em seguida o sino da porta anuncia minha chegada. Uma moça baixinha de óculos armação tartaruga abre um sorriso ao me ver. Dou um sorriso tímido para ela e fico parada em frente ao enorme balcão de vidro. Inúmeros pães e doces me chamam a atenção.

─ Oi Marie tudo bem? ─ Falou ela animadamente.

─ Oi. ─ Murmuro descendo os olhos para o balcão vitrine. Estou completamente perdida, não faço ideia do que pedir.

─ Você parece confusa não vai querer o de sempre? ─ Olhei para ela de novo, seus olhos brilhantes e escuros estão cheios de compaixão.

─  Quero sim e qual é o de sempre?

─ Bom você sempre pede croissant de chocolate.

─ Perfeito quero esse.

─ Sim. ─ Ela me lança um olhar cúmplice e se afasta indo pegar uma das embalagens da cafeteria e desço os olhos para o balcão outra vez, talvez peça algo novo também.

─ Marie ! ─ Aquela voz feminina chamou minha atenção me fazendo ergue o olhar. Uma moça ruiva de longos cachos e de corpo esguio está parada ao meu lado com um largo sorriso.

Desde que sofri o acidente fui proibida de sair de casa sozinha pelo simples fato que posso não saber voltar para a casa depois mas estava exausta de ser tão dependente dos outros. Ethan tinha voltado para a delegacia e Kate estava na escola e eu queria sair um pouco. Ontem quando estávamos voltando da casa dos Vallets notei esse café na esquina da rua da nossa casa, não seria nada demais só pegaria algo para comer e voltaria para casa. O que poderia dar de errado?

─ Nossa! há quanto tempo não te vejo?
─ Continuou ela me surpreendendo com um abraço. Não faço a mínima ideia quem seja mas percebi que tínhamos uma certa intimidade, não é coisa de norte americano dar abraços ainda mais com estranhos. 

─ Olá. Falo de forma cautelosa dando alguns tapinhas em suas costas.

É sempre muito estranho quando vou a qualquer lugar e alguém me cumprimenta como uma velha conhecida, eu nunca sei o que dizer então apenas digo olá e abro um sorriso forçado. É sempre constrangedor, a parte boa é que sempre tem alguém comigo e acabamos dizendo o que aconteceu comigo e logo o olhar de decepção se torna em algo pior, o de pena. Acho que eles devem pensar pobrezinha tão jovem e já passando por tudo isso.

─ Você não se lembra de mim? sou Samantha a professora de ballet da Kate... Bom Ethan me contou do seu acidente que coisa horrível.

─ Sim foi horrível... Samantha isso?

Destinos Cruzados ( Obra concluída )Onde histórias criam vida. Descubra agora