03. tanto faz

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No manhã, Jeongyeon saiu para o treino cedo, acompanhada de Momo e Dahyun. Ela não estava muito afim de conversar, então aproveitou que elas foram as primeiras a chegar para se aquecer sozinha embaixo do gol favorito dela.

Jeongyeon sempre amou ser uma goleira, nunca jogou em nenhuma outra posição. Ela tinha uma boa altura, reflexos magníficos e as demais habilidades necessárias para ser boa naquele trabalho. Sempre viu aquilo como a vocação dela e até gostava de pensar que poderia ter se tornado profissional um dia se aquele maldito acidente não tivesse acontecido.

Ela tinha apenas onze anos quando voltava para casa de bicicleta depois da aula quando um motorista desatento passou um sinal vermelho e acabou a atingindo. Podia ser pior, ela pensava hoje em dia, mas aquilo ainda assim a assombrava. Foram alguns arranhões e uma costela fraturada, porém ela também acabou fraturando o pé esquerdo no acidente. A pior parte foi que seu tratamento de recuperação foi feito por um fisioterapeuta totalmente incopetente que deixou a situação pior a longo prazo.

Jeongyeon só descobriu aquilo quando começou a jogar os campeonatos mais sérios e fraturou o mesmo pé novamente aos dezesseis anos, durante um jogo. O médico que fez seu tratamento daquela vez explicou que a primeira lesão não foi cuidada da maneira correta e a segunda apenas piorou a situação. Então, devido aquilo, ela estava sujeita àquele tipo de lesão pelo resto da vida.

Obviamente a revelação foi um trauma para ela naquela idade. Ela ficou devastada e contou com a ajuda de sua família e amigos para superar. Ela e Nayeon tinham acabado de começar a namorar naquela época, e o apoio que ela recebeu da sua até então namorada e melhor amiga também foi essencial para que ela tomasse uma decisão.

Foi horrível, é claro, mas Jeongyeon não deixou que aquele sonho acabasse ali. Ela continuou jogando, respeitando as suas limitações, e ainda era boa o suficiente para ser titular em sua universidade. Tanto sua técnica quanto o resto do time sabiam da sua real condição, então ninguém ficava surpreso quando ela ficava um jogo ou outro no banco para se recuperar. Ela teria que parar depois da faculdade, já sabia disso. Virar no máximo a famosa atleta de final de semana para não perder o costume. Mas ainda assim ela amava tudo aquilo e queria viver o sonho enquanto ela ainda podia.

E era exatamente por isso Jeongyeon que tinha escolhido a fisioterapia como seu curso na faculdade. Ela queria fazer pelos outros o que seu próprio atendente não foi capaz de fazer por ela. Jeongyeon tinha o sonho de se especializar em fisioterapia desportiva e ficar o mais perto possível do esporte que ela amava, já que não poderia jogar no nível profissional como tinha sonhado por tanto tempo.

Como goleira, a visão privilegiada do campo que a posição proporcionava era uma das suas coisas favoritas. Naquela manhã, em especial, era ainda melhor porque ela não queria ser pega de surpresa pela chegada de certa pessoa. Então ela manteve um olho na entrada do campo, próximo ao banco de reservas por onde suas colegas de time estavam chegando aos poucos. Elas se sentavam na grama formando uma roda enquanto colocavam as chuteiras e conversavam sobre o final de semana. Enquanto isso, Jeongyeon ficava ali, afastada, se aquecendo. Ela e o gol. Sozinha e em paz. Exatamente como ela queria.

Tal paz, porém, não durou muito. Mais rápido do que ela gostaria, Jeongyeon viu uma garota pequena de olhos grandes correndo em sua direção.

"Jeongyeon!" Ela gritou assim que a viu. Jihyo sabia exatamente onde ela estaria e não hesitou em correr ao encontrá-la.

Jeongyeon estava ignorando todas as mensagens e ligações da sua melhor amiga desde o dia anterior. Ela suspeitava que Jihyo tinha sido a pessoa que passou o endereço dela para sua ex-namorada porque a mais nova, por acaso, também era uma boa amiga de Nayeon.

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