12. eu vou te beijar agora

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Aquele sofá estava tão confortável que a certo ponto Jeongyeon achou que poderia cair no sono. Ela quase caiu, na verdade, com a cabeça pairando perigosamente sobre o ombro de Nayeon. Foi quando a terceira partida tinha acabado de começar, mas o momento foi interrompido pelo toque do telefone de Nayeon e um simples "mãe" aparecendo na tela do aparelho que tinha sido esquecido na mesinha de centro.

"Eu tenho que atender." Nayeon se levantou depressa e se retirou para o que Jeongyeon assumiu que fosse o quarto dela.

A mais nova não teve tempo de reagir, mas ver o "nome" daquela mulher no celular de Nayeon despertou sentimentos que ela não queria ter. Jeongyeon sabia que não era da conta dela. Não era nem mesmo quando ela e Nayeon ainda estavam juntas, quem diria agora, depois de todo aquele tempo.

Porém, olhando para o passado, quase todas as lembranças que a goleira tinha onde Nayeon deixava de ser aquela garota radiante a animada que todos conheciam e amavam para se transformar na versão vulnerável e chateada que partia o seu coração, era por causa da mãe dela. Aquilo deixava Jeongyeon muito mais irritada do que ela gostaria de admitir.

Nayeon era uma filha única que tinha sido "criada" pelo pai. Criada entre aspas porque ele quase nunca estava presente. A única pessoa daquela família que realmente a merecia era a sua avó, que morava há algumas cidades de distância da cidade natal delas. Sempre fez tudo que estava ao seu alcance para cuidar da neta e Jeongyeon sabia que a mulher também se sentia culpada por seu próprio filho nunca ter conseguido ser o pai que Nayeon merecia.

Todas as vezes que as três amigas passavam as férias no sítio da avó de Nayeon, a mais velha convidava sua neta para morar com ela no próximo ano. E mesmo sabendo que o convite era sério, Nayeon apenas ria e dizia que o pai precisava dela em casa.

(Jeongyeon nunca chegou a falar aquilo para Nayeon, mas ela e Jihyo secretamente travaram uma batalha interna com aquilo por anos. Isto porque por mais que elas acreditassem que Nayeon estaria melhor com a avó, nenhuma delas estava pronta para abrir da presença diária da amiga. Então elas sempre tentaram ser a família que ela precisava.)

Apesar de tudo, o senhor Im era um homem reservado e bem sucedido que apesar de ter as melhores intenções, era frequentemente distante e evasivo. Totalmente perdido em seu papel depois que a mãe de Nayeon os abandonou quando ela ainda era um bebê.

Enquanto estava crescendo, o pai de Nayeon nunca quis contar exatamente o que fez a sua mãe ir embora. Na medida que ela foi ficando mais velha e mais curiosa sobre o assunto, o seu pai inventava desculpas fúteis e más trabalhadas, mas nunca chegou a falar a verdade. Tudo isso porque o homem não queria que Nayeon tivesse uma imagem ruim da mãe dela, mulher pelo qual ele ainda era completamente apaixonado.

A verdade que Nayeon só veio a descobrir anos mais tarde, quando a mulher reapareceu e fez questão de contar tudo para ela pessoalmente, era que a ex senhora Im não queria ser mãe. Não na época que ela teve Nayeon, pelo menos. Sem sombra de dúvidas, aquilo não foi uma coisa fácil de ouvir da pessoa que supostamente devia te amar mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Quando Nayeon nasceu, tudo que a mãe dela queria era focar na carreira profissional, mas resolveu conceder uma filha ao seu marido após muito tempo de insistência da parte dele, achando que aquilo seria o suficiente para mantê-lo ocupado no casamento. Ela mentiu e assegurou ao pai de Nayeon que estava pronta para tomar aquele passo. O enganou tanto que quase enganou também a si mesma no processo, mas ela não poderia ter estado mais errada. Ela não conseguiu aguentar a pressão e os deixou menos de dois anos mais tarde, fazendo com que o pai de Nayeon se sentisse responsável e culpado por tudo que aconteceu.

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