Capítulo 3

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Acordo cedo demais pra entrevista, são essas aves malditas que insistem em não fazer um minuto de silêncio. Pego o telefone e leio a mensagem da minha mãe.

"Boa sorte hoje filha, espero que dê tudo certo, não se esqueça que você é uma artista incrível e que todo escritor lutaria pra ter você ilustrando suas capas."

Minha mãe é  mesmo um doce, eu não sei como alguém assim tão incrível pode ter o dedo tão podre pra homem e ainda por cima aceitar todas as merdas que ele faz. Continuo lendo:

"Eu escondi o seu doce favorito na sua mala, tá no bolso de trás, talvez um pouco derretido agora, mas sei que você não resiste a um bom doce, é pra te dar sorte e pra não se esquecer da sua mãe"

Pego o doce agora meio derretido no bolso e dou uma grande mordida, realmente minha mãe tem um dom especial pra confeitaria, não tem nada que ela faça que não seja gostoso, nada. Pego minha roupa especial para entrevistas e vou pro banheiro, é hora de encarar esse chuveiro gelado e nada convidativo. Respiro fundo pra criar coragem e entro de uma vez naquela água fria, todo vestígio de sono que eu tinha acabou indo embora na mesma hora, junto com a quantidade exagerada de creme presente no meu cabelo afim de fazer com que os cachos se comportassem. O banheiro tem um cheiro floral, não graças a quem seja que o limpe, mas graças a meu shampoo novo e super cheiroso que escorre pelos meus fios e o sabonete de rosas que minha mãe resolveu comprar em uma quantidade assustadora por estar na promoção.

Desligo o chuveiro que já não parece tão frio a essa altura e me enrolo na toalha enquanto faço uma maquiagem que me deixe mais confiante e com cara de candidata perfeita para a vaga. Me olho satisfeita com o resultado e finalizo meu cabelo com certa dificuldade pelo tamanho dos fios, eles precisam ser cortados ou eu ainda vou perder meu braço fazendo isso.

Coloco minha roupa perfeita de entrevistas, aquela que me faz parecer uma mulher séria dedicada por causa do blazer preto, não que eu não seja, mas ela me faz parecer a pessoa mais profissional de todas, o que é ótimo. Calço meu melhor salto e respiro fundo antes de pegar minha bolsa e sair pela porta.

Chego cedo demais então passo um longo e reflexivo tempo na recepção, eu sinto um frio na barriga ao pensar em finalmente encontra-lo aqui, o maior escritor de toda a comunidade apaixonada por livros hot, mas que merda eu falaria pra ele se o visse? "Oi, eu sou a Elly e eu fico molhadinha com seus livros" ou " Oi, sabia que eu já me toquei enquanto lia suas histórias?" Viu? Não faço ideia do que dizer sem parecer uma maluca tarada ou parecer que quero transar com ele, não que eu não queira, quer dizer, um cara que escreve essas coisas não pode ser ruim na cama né? Principalmente se suas histórias são disfarçadamente uma descrição de suas experiências, o que seria realmente excitante, eu não me importaria nem um pouco de estar no lugar daquela loira dos olhos verdes que ele tocou no banheiro de uma festa em Nova York, aquela que teve que ficar no banheiro por mais uma hora pra conseguir se recompor do que tinha acontecido, ou no lugar da garota alta da cafeteria que ele flertou por uma semana e transaram em cima do balcão do café quando a loja tinha fechado, uma transa do tipo que você sai com arranhões e vergões. Meu Deus eu preciso urgentemente de sexo ou eu vou ficar completamente maluca me satisfazendo apenas sozinha, digamos que naquela cidade pequena não tinha muitas opções, a maioria das pessoas eram insuportáveis, mas aqui é a cidade grande né, o que não falta são pessoas extremamente gostosas que parecem ter saído de um filme.

Percebo que minha mente está indo longe demais pro ambiente em que estou, Elly você precisa focar na entrevista. Respiro fundo e tomo um copo d'agua, assim que me sento novamente escuto alguém chamando meu nome. Respiro fundo e coloco meu melhor sorriso no rosto enquanto sou conduzida a uma sala no fim do corredor. Nossa! Tudo isso aqui é extremamente bonito e organizado.

Uma mulher que aparenta cerca de trinta anos me espera em uma mesa enorme bem de frente pra janela, a vista é espetacular, não a mulher, a janela, eu ainda sou minimamente profissional ok? Não que ela seja feia, muito belo contrário, seu cabelo com certeza foi recentemente cortado, e a maquiagem é suave e impecável, suas roupas perfeitamente passadas e um sapato que com certeza custou mais que o meu carro.

-Senhorita Elly, sente-se por favor.- Sou obrigada a mandar meus pensamentos para longe, eu preciso mesmo dessa vaga, focar na entrevista é bem importante. Hoje, hoje mesmo, eu preciso sair e conhecer as pessoas, os meus pobres vibradores com certeza já não me aguentam mais, e eu preciso de contato humano.- O que faz a senhora a candidatar-se para a vaga de ilustradora em nossa empresa? -Ela continua.

Saio da entrevista com certa confiança e aproveito para dar uma olhada na empresa, essa editora fica mais bonita a cada novo corredor, tudo é pintado em tons neutros que é contrastado com grafites e pinturas coloridas por cima, cada detalhe conversa como uma grande obra de arte, deveriam contratar quem pintou isso no meu lugar, as capas ficariam incríveis e originais, não que eu esteja desmerecendo meu trabalho, minhas ilustrações são ótimas, mas isso aqui é uma obra prima.

Observo atentamente uma sala enorme que parece tirada de um filme, as paredes carregam prateleiras enormes com livros diversos, eu trabalharia ali dentro só pra que pudesse olhar tudo bem de perto, cada detalhe.

-Está perdida?- Uma voz ecoa de dentro da sala, eu juro que não tinha visto nada parecido com uma pessoa ali, mas um homem surge entre as prateleiras e consigo ver sua silhueta.

-E-eu vim fazer uma entrevista e queria conhecer um pouco da empresa

- Você está acompanhada? Não é permitido visitantes passeando pelos corredores. - Diz o homem que tem postura bem grosseira na minha opinião, eles não deviam falar assim com as pessoas, penso em reclamar com a recepção mas logo enxergo uma plaquinha pequena em sua porta escrito "Diretor executivo", eu certamente não quero perder meu emprego então saio do lugar o mais rápido possível.

Meu escritor- EllyOnde histórias criam vida. Descubra agora