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Fernanda

Entramos por uma trilha de terra, cheia de árvores e mato que nos leva até uma área sem árvores com grama baixa, onde se tem a visão de toda favela. Desço da moto respirando o ar puro, ele a desliga e senta numa parte elevada, com um barranco abaixo. Sento do seu lado olhando pras luzes da favela, com o céu estrelado e a lua crescente brilhando de frente. Fecho meus olhos ouvindo o barulho da mata e respiro fundo me sentindo bem mais calma, apesar do meu coração ainda estar acelerado por causa da adrenalina da moto. Tive que ficar bem agarrada ao seu corpo com receio de cair. Ele anda bem mais rápido que as meninas, fiquei com frio na barriga o caminho todo com a cabeça deitada em suas costas e meus cabelos balançando para trás. Ele não fala nada só pega um cigarro de maconha no bolso e acende, olhando pra baixo.

- por que você fuma isso?_ ele puxa fumaça e me olha 

Breno- pra relaxar a mente _ diz com a voz prensada e solta fumaça pra cima

- e funciona?_ ele dá sorrisinho de lado 

Breno- às vezes sim. Por que, cê quer experimentar?_ oferece estendendo o cigarro balanço a cabeça negando 

- não obrigada _ agradeço sorrindo e volto atenção para frente cruzando as pernas igual índio, sentindo o vento balança meus cabelos 

Breno- fala ai por que tu saiu correndo do baile, doida? _ me encara tragando seu cigarro, respiro fundo pensando no que dizer 

Não sei se posso confiar nele, mas também não sei o que fazer pra me livrar do Edgar. Tenho medo que ele faça alguma coisa com a minha vó pra tentar chegar até mim já que agora ele sabe onde eu estou. Quem sabe se ele protegesse ela eu tentaria fugir pra outro lugar e sobreviveria de qualquer jeito 

- se eu te contar, você me promete não contar pra mais ninguém?_ pergunto com receio, ele traga mais uma vez encarando meus olhos e balança a cabeça concordando 

Breno- fala ai _  encho meus pulmões outra vez, sentindo meu corpo tenso. Desvio meus olhos do seus e olho para as luzes da favela abaixo e engulo saliva apreensiva 

- eu era assediada pelo meu padrasto antes de vir pra cá _ confesso, sentindo minha garganta e meu peito arderem e consequentemente meus olhos marejam_ quando eu tinha 16 anos ele me estuprou tirando minha virgindade de uma forma horrível e ameaçou matar minha mãe se eu contasse pra alguém _ meus lábios tremem e minha voz sai abafada pela dor. Sinto as lágrimas quentes escorrendo pelo canto, limpo elas ouvindo ele suspira pesado negando com a cabeça e permanece em silêncio  _ ele sempre foi muito cruel comigo desde criança. Passei por várias coisas ruins com ele e a pior foi essa no dia do meu aniversário. Eu já tinha percebido que ele andava me olhando com outros olhos mais nunca imaginei que ele fosse capaz de agir assim, sendo tão covarde_ respiro fundo limpando minhas lágrimas, tento me acalmar sentindo meu peito ardendo cada vez mais com as lembranças _ ele sempre controlou minha vida, não me deixava sair com os meus amigos. Depois do que ele fez eu fiquei traumatizada, demorou anos pra me relacionar com outro homem outra vez. Depois desse dia só consegui beijar outro homem quando tinha vinte e um anos, e ele era meu amigo na faculdade _ sorri triste lembrando do Bernardo e Breno continua em silêncio ouvindo _ não era de pega geral mas depois desse dia eu passei a ficar com quem eu queria às escondidas. Eu sabia que no dia que ele descobrisse eu ia apanhar, com certeza ele não ia deixar passar batido e mesmo assim corri o risco. Um ano atrás ele me viu ficando com outro cara da faculdade no final da aula. Já era a quinta vez que eu estava ficando com ele naquela semana. Eu não sabia que ele iria me buscar e bem na porta da escola, Pedro foi e me roubou um beijo e ele viu com o carro parado bem na frente do portão. Quando eu vi, entrei em choque já imaginando coisas horríveis que ele iria fazer comigo. E ele fez assim que eu cheguei em casa _ meus olhos voltam a soltar lágrimas com as lembranças _ ele me bateu me humilhou disse várias coisas absurdas ao meu respeito. Disse que eu era dele e que ninguém podia encostar em mim. Ameaçou me estuprar outra vez se me pegasse com outro e foi depois desse dia que os assédios começaram sempre que eu ficava sozinha. Antes ele apenas me olhava com má intenção, falava algumas besteiras quando tava bêbado, mas depois desse dia tudo que ele falava ele fazia, me beijava a força e eu nunca podia negar. Era doloroso nojento demais passar por tudo aquilo sem poder me defender _ um soluço sai doído da minha garganta enquanto minhas lágrimas não param de descer_   No dia anterior que eu vim pra cá, um colega da faculdade roubou um beijo meu quando saia da faculdade. Daí eu cheguei em casa ele estava no meu quarto me esperando já sabendo do ocorrido. Ele ia me estuprar outra vez, só não fez porque minha mãe me chamou interrompendo, mas prometeu que iria voltar depois do trabalho e eu não podia nega-lo, se não ele ia matar ela e jogar a culpa em mim _ minha voz estremece sinto meu peito sufocando com as lágrimas descendo em bica no meu peito _ Daí de madrugada ele entrou no meu quarto e..._ parto meus lábios e fecho meus olhos quando as fortes lembranças invadem e a dor esmaga dilacerando meu peito me fazendo perder a voz e não consigo prosseguir. 

Protegida pelo dono do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora