Capítulo 1 - Daddy's little girl

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Nessas reuniões do meu pai eu sempre me sinto como a garotinha de cinco anos que sentava perto deles invisível, balançando as pernas que mal tocavam o chão e sem entender uma palavra do que eles diziam, mas mesmo naquela época e principalmente agora eu devo me lembrar de que eu não era qualquer criança e de que eu não mais uma criança, eu sou a herdeira dos Centunni e eu sou uma mulher, se eu quero meu lugar na mesa e se eu quero ser a chefe que meu pai me criou para ser eu tenho que me fazer ser ouvida, afinal esse é meu império.

- Vocês parecem um bando de velhas tricotando, é ridículo. - Digo interrompendo a discussão que acontecia no escritório do meu pai, estou sentada em uma das poltronas entediada, meu pai está em sua cadeira de sempre me olhando sério mas com o brilho de orgulho de sempre nos olhos, os demais velhos na sala se chocam em silêncio e me encaram, Camilo é o único que me encara do outro lado da sala segurando a risada.

- Olha mocinha... - É claro que tio Victor seria o primeiro a reclamar, esse machista não aceitaria que eu fale ou me posicione nem que tivesse uma arma apontada para sua cabeça.

- Tio! Claro que você tem algo a dizer, mas eu vou te interromper rapidinho. - Sorrio com a cara de derrota dele, me levanto e começo a andar pelo escritório.- Vocês estão andando em círculos e discutindo a mesma coisa por uma hora inteira e eu não aguento mais, se eu quisesse ouvir a mesma história duas vezes eu conversaria com algum velho com Alzheimer no asilo comunitário.

- Mais respeito ragazza.- Ele diz enquanto encosto na mesa do meu pai tendo uma visão completa do cômodo.

- Perdão tio Pedro não quis tocar na ferida,- alfineto e ele fecha a cara. - mas vocês precisam resolver essa questão e já que ninguém tem uma solução, eu tenho.

- Diga filha.

- Vocês querem uma forma melhor de passar a droga sem suspeitas, mas vocês já tem isso.

- O que quer dizer Angelina?- Camilo pergunta e eu sorrio.

- Ora, usem a mesma fachada que usamos para lavar o dinheiro, os restaurantes!- Todos me olham como se eu fosse maluca e eu reviro os olhos. - Olha é simples, posso até desenhar se vocês quiserem. Nós utilizamos a área de descarga para despejar as drogas no depósito embaixo dos prédios, estamos em uma área comercial com clubes em volta, então o segredo depois de estocar é apenas fazer um acordo com alguns desses clubes para distribuir bebidas, dentro dos lotes terá um fundo falso onde guardaremos algumas bolsas de cocaína.

- Simples, mas inteligente. - Camilo pontua.

- Tão simples que eu me admiro que nenhum desses cavalheiros tão espertos e experientes não tenham pensado antes. Mas fazer o quê, sou apenas uma ragazza que não sabe o que está fazendo aqui. - Sorrio e volto para meu lugar na poltrona no canto do escritório. Meu pai ri para si mesmo e encara os homens em sua frente.

- Angelina está certa, é simples e inteligente.

- Você realmente acha prudente misturar a lavagem do dinheiro com a distribuição e estocamento de drogas Manolo? - Doce, doce tio Victor pergunta.

- Bom, parte do dinheiro vem das drogas então eles já estão misturados. E vamos dividir parte do restaurantes, aqueles mais perto dos clubes, ficarão responsáveis por guardar as drogas e a outra parte continua com a lavagem do dinheiro, o fluxo de notas vai aumentar em algumas unidades mas isso não será um problema.

- Então tá, se você diz está decidido.

- Quem disse foi Angelina, depois não se esqueçam de agradecê-la por fazer o mínimo que ninguém conseguiu fazer nesse lugar, pensar. - Ele diz sério e acompanha todos para fora de casa, cada um que passa por mim acena ou agradece.

Camilo vem em minha direção com um sorriso de quem está realmente se divertindo e diz:

- Grazzie Agelina. - E ri, bato em seu braço rindo.

- Stronzo. -  Ele se despede de mim e meu pai entra de novo no escritório se dirigindo para sua cadeira, me movo quase que imediatamente a mesinha de bar no canto oposto a minha poltrona, preparo seu whiskey com chá e levo para ele que me olha de soslaio.

- Afiada hoje não é minha Angelina.

- Vá afiada ou será cortada. - Ele sorri e assente com a cabeça enquanto bebe seu whiskey.

- Com licença papai. - Digo saindo e me dirigindo para o meu quarto, passo pelo ateliê onde mamãe e Vicentina estão pintando e rindo, respiro fundo e sigo me caminho.

Analiso meu quarto mais uma vez, cama de casal com lençóis creme, uma prateleira de livros acima da cama, uma mesa de cabeceira a esquerda ao lado do meu closet, um painel das minhas armas e facas de estimação a direita, uma mesa de frente para a cama onde eu costumo estudar e uma caixa embaixo dela onde estão guardados meus equipamentos de treino: luvas, faixas, tornozeleiras e etc.

Depois de uma análise e uma breve consideração sobre mudar ou não minha decoração ando até meu pequeno e valioso arsenal escolhendo uma calibre 380, coloco ela no coldre que está preso em minha perna e saio para o porão que foi transformado em um verdadeiro campo de treinamento, nele sim tem um verdadeiro arsenal. 

O campo de treinamento foi meu presente de 16 anos, nada poderia ter sido melhor, sigo até o ponto em frente ao alvo e começo a atirar, confesso que prefiro a 380 a 9mm por exemplo, ela tem bem menos recuo e isso facilita a mira de tiros sequenciais, depois de 15 tiros recarrego e decido trocar de armamento para algo que me desafie mais. 

Não sei quanto tempo passei aqui embaixo treinando mas quando subo toda minha família já está na mesa de jantar.

- Até que enfim eu estava morrendo de fome e papai não deixava ninguém comer até que sua preciosa Angelina subisse. - Vicentina provoca, mostro a língua para ela de brincadeira e ela ri.

- Você costumava ser mais legal quando mais nova, sabe tipo na época em que você ainda não sabia falar.

- Meninas stai zitto.- Mamãe interrompe a pequena discussão. - Nunca sei se vocês estão brincando ou se atacando então calem-se e comam.

- Sim mama. - Dizemos em uníssono, depois de alguns tópicos de conversa mamãe resolve criticar novamente meu gosto por armas:

- Sinceramente querida não sei o que você tanto gosta de ficar lá embaixo atirando, não vejo sentido.

- É claro que não vê. - Murmuro.

- Rafaela eu me lembro de você amar atirar quando mais nova, não julgue o gosto da nossa Angelina se você era igual il mi amore.

- Mas eu nunca fui tão fissurada Manolo, me preocupo as vezes que você passe tanto tempo com as armas querida é só isso.

- Olha mamãe eu não vejo a senhora falar nada sobre como a Vicentina não larga os pincéis ou a câmera dela.

- É completamente diferente e a mamãe sabe disso Ange, sem contar que sua obsessão é estranha.

- Estranho é o fato de que você não saberia diferenciar uma Sig Sauer de uma Pistola Taurus mas sabe qual verde é o limão siciliano e qual o é o limão suíço. - Meu pai ri um pouco e minha mãe olha feio para ele.

- Manolo!

- Perdão querida, é que a diferença é óbvia. Olha cada um tem seus gostos nessa casa e respeitamos que a Vicentina saiba o que é bordô e o que é púrpura, então respeitemos também que a Angelina ama e conhece bem suas armas. Afinal ela é a herdeira dos Centunni, estranho seria se ela preferisse os pincéis. -  Ele diz em tom de brincadeira e bebe seu suco.

- Obrigada papai. - Digo sorrindo vitoriosa para mamãe e Vicentina que só voltam a comer em silêncio, só mais um jantar na casa dos Centunni.

Daddy's LessonOnde histórias criam vida. Descubra agora