2. pior que uma tempestade

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Harry apertou a jaqueta jeans ao redor dos braços, obervando a janela do ônibus ficando mais embaçada conforme à intensa chuva daquela noite. Ele balançava freneticamente uma das pernas, tentando de algum modo agitar o sangue que esfriava em seu corpo, enquanto Samantha procurava o celular em sua bolsa.

— O Liam perguntou se a gente precisa de carona. — a morena comenta ao observar a mensagem notificada. — Vou avisar que acabamos de sair.

— É, mas com esse tempo a gente não chega tão cedo. — o cacheado reclama, se encolhendo no banco do ônibus. O trânsito estava torturosamente lento por conta da tempestade que caia sobre a cidade, e por já ser tarde da noite, ambos não viam a hora de voltar para casa.

Trabalhavam em uma boate chamada Chicago, Samantha como garçonete e Harry como dançarino. Se tratava de um clube noturno para homens, e consequentemente, um lugar com péssima reputação. Enquanto a mulher tinha seus horários e dias fixos, Harry conseguia alternar suas apresentações, desde que se apresentasse por três noites na semana, em um acordo que fez com o dono do estabelecimento.

Simon Cowell sabia ser muito esperto quando as coisas lhe convinham, e também sabia muito bem o quanto seu público apreciava Harry. Há alguns anos, por conta de problemas financeiros, tanto o cacheado quanto sua amiga se viram na necessidade de se infiltrar naquele lugar à procura de emprego. E infelizmente, pelas precárias condições de sua educação e entendimentos, a Chicago foi o único lugar onde foram bem recebidos.

Inicialmente, Harry e Samantha trabalhavam na serventia de drinks no bar da boate, atendendo aos inúmeros clientes que apareciam para as exibições das dançarinas. E tempos mais tarde, talvez por notar um certo potencial, Harry nunca soube ao certo, Simon o ofereceu a oportunidade de ocupar um posto de dançarino, sendo a nova atração para a plateia masculina, e o que consequentemente elevaria seu salário. E o pobre garoto, ludibriado com a chance de conseguir uma renda a mais para ele e Samantha, ainda com o sonho de comprar a própria casa, aceitou sem hesitar, e sem saber que Simon mantinha um interesse a mais nessa decisão.

Ao se dar conta das intenções do patrão, que queria apresentá-lo como atração principal de streap-tease, Harry imediatamente recusou a oferta e por pouco Simon ameaçou despedir não apenas ele como Samantha. No entanto, a demanda de adesão do público era muita, impedindo sua possibilidade de se desfazer de Harry. Portanto, Simon voltou a impor sua proposta, que consistia apenas em apresentações de pole-dance e nada mais. Harry se viu obrigado a aceitar.

A resposta foi bem aceita pelos clientes, surpreendentemente mais do que o esperado, e as noites em que Harry dançava eram as mais lotadas.

Ele não podia negar que adorava isso, não por conta da enorme atenção masculina que recebia, mas pela liberdade de expressar todo o seu talento na dança. Apesar de crescer com uma eterna paixão pelo ballet clássico, Harry conseguiu enxergar nessa nova condição uma maneira de realizar um de seus sonhos. Mesmo que não fosse em um grande teatro e para um público alvo que admirava sua dança de forma diferente, ainda assim era gratificante se expressar como queria.

Após o fim recente de mais uma noite de trabalho, Harry e Samantha se encontravam quase adormecidos no ônibus, mas infelizmente os trovões do lado de fora se certificavam de mantê-los acordados.

— Harry... — e prestes a se entregar ao sono, a voz de Sam o faz abrir os olhos. — O ônibus parou.

— O que aconteceu? — o cacheado coça os olhos ao levantar a cabeça escorada no ombro da amiga. Eles ainda estavam longe de casa.

— Eu não sei. — ela se inclina sobre o banco da frente, tentando exergar melhor. — Parece um engarrafamento.

De um momento para o outro, um tumulto se formou dentro do veículo, todos se perguntando o que havia acontecido enquanto pediam que o motorista seguisse. Harry tenta enxergar pelo vidro o caminho à frente, e quanto mais atravessavam a estrada que seguiam até um túnel, mais o som da tempestade era substituído por buzinas e gritos. Estava tudo alagado.

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