Capítulo quatro: Tempestade de espadas.
Callidora Gagnon.
A luz fraca iluminava apenas parte do rosto de Zenon, obscurecendo a outra metade de suas feições. Ele estava sentado ao lado da lareira apagada, no sofá, descansando os braços sobre o joelho dobrado. De onde eu estava, não podia olhar muito além de suas costas ou parte de seus ombros, e eu não arriscaria chegar mais perto.
Procurei pelo reflexo de Octavia em qualquer superfície que refletisse, o medo deslizando pela minha espinha até se alojar na boca do meu estômago. Cocei levemente a nuca para espantar a sensação de déjà vu daquela cena.
O silêncio pareceu se estender por uma eternidade, o único som presente era o bruxulear de velas e minha respiração irregular.
- Ele está decepcionado. - Zenon comentou levianamente usando seu tom vazio habitual.
Obviamente não era com ele, mas comigo.
Engoli em seco.
- E você? - perguntei, sentindo a garganta inexplicavelmente seca. Eu não queria saber o que ele realmente pensava, ou melhor, quão pouco se importava. Para Zenon, eu não passava de um detalhe inútil, e agora uma pequena pedra pontiaguda em seu sapato.
Zenon maneou o pescoço em minha direção, seus olhos turquesa encarando os meus, sua mandíbula cerrada emoldurando sua faceta de indiferença.
Depois de tantos anos sem enfrentá-lo, era difícil manter os olhos nos dele, algo se inquietava em meu peito, acompanhado de uma insistente sensação de angústia, talvez até de ressentimento, não sabia dizer direito.
- Eu não ligo. - ele respondeu simplesmente, dando de ombros.
Ofeguei, soltando o ar que nem tinha percebido que estava segurando em meus pulmões, sem um pingo de surpresa, mas com uma óbvia desconfiança. Estaria extremamente feliz se ele fosse embora depois dessa declaração e esquecesse minha existência como antes.
Mudei o peso dos meus quadris, criando alguma coragem enquanto meus passos se arrastavam até a penteadeira para ficar ao lado do grimório, perguntas surgindo em minha mente.
- Então por que você está aqui? - indaguei, enquanto abraçava o livro dourado contra o peito, correndo meus dedos ao longo das bordas pretas chamuscadas, girando o tronco para ouvi-lo. Para disfarçar minha curiosidade desenfreada, acrescentei. - É imoral entrar no quarto de uma dama sem sua permissão.
Uma risada monótona foi dada por ele, fazendo meus ossos gelarem e meu coração dar um salto.
- Também é imoral matar damas na floresta e enterrar seus corpos. - alfinetou, ácido.
Olhei para minhas unhas, ainda havia terra debaixo delas e eu me perguntei como ele tinha percebido. Mas a compreensão apertou minha garganta, trazendo uma série de memórias embaçadas e desconexas banhadas em chamas.
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House of Cards - Zenon Zogratis x Oc.
FanfictionVocê não precisa continuar sujando suas mãos de sangue. Era o que Victor havia dito, mas eu estava em Helheim pela segunda vez, após cometer um ato atroz que não só custaria minha alma, mas a do jovem Zogratis também. Talvez houvessem realmente boa...