Capítulo 10

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Um dia chuvoso no ano de 1920, certamente isto anunciava o início da primavera que acabara de chegar. Eu e Carlisle estávamos comprando alguns mantimentos em um pequeno mercadinho que se encontrara em nosso singelo bairro. Tenho procurado sair mais ultimamente, porém sempre acompanhado de Carlisle, pois com apenas dois anos de vivência nesta vida maldita, não é muito bom que eu ande só pelas ruas repletas de meu novo alimento, é claro que eu não ataquei ninguém desde o pequeno incidente em meu primeiro ano, mas tento me controlar ao máximo para não atacar nenhum inocente, na maioria das ocasiões, eu apenas prendo a respiração para evitar a tentação do cheiro.

Edward, mexa os ombros, tem de parecer que está respirando, lembre-se.- Carlisle pensou e eu assenti.

Eu sempre me esqueço de que apesar de tudo, tenho que pelo menos parecer não ser um bicho de terror, como se as pessoas não percebessem a palidez e olhos estranhos que eu e Carlisle tínhamos, é ridículo. O bom de sair novamente é que consigo escutar a mente das pessoas, saber o que pensam, ouvir suas preocupações fúteis e diárias, quase me faz sentir-me normal novamente. Quando se é um morto vivo que bebe sangue, suas preocupações tendem a mudar de fato, não são mais coisas como "tenho de pagar as contas" ou "será que a prova da escola irá ser muito complicada?", infelizmente agora as coisas que circulam minha mente, são mais do tipo "prenda a respiração para não matar ninguém!" ou "não pegue sol, para não se revelar.", queria eu sofrer os martírios diários de uma simples vida humana.

Olha que belo rapagão, alto e bonito, um pouco pálido, porém muito atraente.- Pensou uma jovem moça que acabara de entrar no pequeno mercado e direcionar seus olhares a mim.

Outra mínima vantagem é saber o que os outros pensam sobre mim, assim como esta jovem fez agora, se a pobre coitada tivesse a mínima noção do estrago que a minha boca faria se encostasse sua pele frágil e suculenta, nunca nem ousaria imaginar se aproximar de mim, muito ingênua. É claro que ela me acha atraente, eu fui feito pra isso, para atraí-la e depois findar sua vida, mesmo que tal ato fuja de meus ideais, ainda sim, é o que fui feito para fazer, uma praga com certeza.

Não demorou muito para Carlisle pagar nossa pequena compra e sairmos daquele local, quando menos se esperou, já estávamos andando na chuva do lado de fora, a água não incomoda, porque o seu gelo não me afeta, não preciso me manter aquecido já que não sinto o mínimo de frio. É interessante andar nas ruas, mesmo que as pessoas estejam quietas, as suas mentes pensam, algumas quase gritam, eu diria, então para mim é como escutar todos falando ao mesmo tempo. E neste último ano tenho tentado controlar isto em mim, "aperfeiçoar" essa coisa bizarra que o Carlisle chama de dom, para eu escutar os pensamentos apenas quando eu quiser, ou a simples tarefa de sair na rua será um inferno pra mim, maior do que precisa ser.

Que rapaz estranho, não tem medo de pegar gripe?- Disse uma senhora que passara por perto.

Por que ele está pegando chuva? Será que não tem noção?- Uma jovem também se indagou.

Que gozado! A forma que ele não liga para o temporal é quase preocupante.- Um homem pensou enquanto andava do outro lado da rua.

- Edward, venha para o guarda-chuva, os humanos não gostam de se molhar, lembra?- Carlisle disse de forma praticamente Inaudível, para que somente eu o escutasse. Rapidamente me pus o lado dele que usara um grande guarda-chuva.- Precisa pensar como um humano, mesmo que o frio da água não lhe afete.

- Perfeitamente, as pessoas da rua também pensam o mesmo que você.- Carlisle sorriu e concordou.- Você deve ser excelente em pensar como um humano, tem até as mesmas preocupações que eles, como consegue?

- Anos e anos de prática, com o tempo irá conseguir fazer o mesmo, talvez até melhor que eu, lhe garanto.- Falou gentilmente enquanto chegávamos em nossa residência.- É só tentar agir como eles.- Como se isso fosse possível de acontecer.

Lua Crescente ( Edward Story)-EM RECESSO-Onde histórias criam vida. Descubra agora