Uma tarde agradável na primavera de 1917 e eu certamente estava de férias, sentado ao lado da Vitrola enquanto escutava uma bela música a qual não sei o nome ao certo, meu pai estara no escritório, de modo tão silencioso que mal era perceptível sua presença em casa. Minha mãe por outro lado, já gosta muito de se fazer presente, hoje ela estava a tricotar como sempre, creio que um suéter ou luvas, a forma ainda é indistinta, não pude evitar de sorrir ao olha-la tão concentrada no que fazia com tamanha dedicação.
Eu me levantei do sofá a qual estava e caminhei até a janela, onde do outro lado da rua era possível notar um casal na varanda, em cortejo imagino, tomando algo, talvez chá. Paixão, deveria ser emocionante sentir tal sentimento, a tamanha necessidade de proteger e amar alguém com a própria vida, não sei se um dia irei conseguir sentir tal intensidade, mas é interessante imaginar.
Quando menos se esperou, os militares já os colocaram para dentro, a guerra havia se tornado mais abrupta ultimamente, a ponto de ficarmos em uma quarentena constante, o tédio era nosso mais novo companheiro diário, mas se é para nosso bem, não há problema em ficar dentro de casa. Eu pelo menos nunca fui muito adepto ao ato de sair.Me retirei um pouco da janela e vi olhar triste de minha mãe sobre mim, os soldados, ela ainda sabia de meu desejo, por mais que eu tentasse o máximo não falar no assunto. Tentei dar um sorriso reconfortante, para que ela não sofresse com antecedência, afinal meus 18 anos só irão chegar em 1919 e ainda temos muito tempo para não falar muito sobre o caso. Meu objetivo era vê-la feliz o máximo que conseguira.
- Sabe que está se preocupando antes do que deve, não sabe?- Minha mãe tentou sorrir e limpou uma lágrima que caia pelo canto de seu rosto.
- Como sabe o que estou pensando?- Fui até ela e me abaixei ficando em sua frente, acariciei seu rosto como ela sempre tinha costume, quando eu era criança e estava triste.
- Digamos que é um dom..- Rimos um para o outro e eu voltei a me sentar no sofá ao lado, enquanto minha mãe não tirava os olhos de mim com um pequeno pesar.
- Toca para mim, Edward?- Geralmente ela acatava este pedido quando se sentia triste, não só por meu desejo militar, mas também pela falta de atenção de meu pai, que vinha caindo constantemente com o passar do tempo, é triste ver ela sofrendo de tal maneira, então digamos que eu tenho ido muito ao piano ultimamente.
- Claro!- Exclamei e me dirigi a sala que estava ao lado, onde o piano ficara. Minha mãe obviamente me acompanhou e se sentou junto a mim com o instrumento em nossa frente.- Qual gostaria?
- A de sempre- "A de sempre " foi a que compus para ela em alguns anos atrás, creio que no outono se 1914, assim que a guerra havia começado e ficamos muito em casa, obtive um tempo extraordinariamente livre e fiz a música em sua homenagem, desde então esta fora sua única pedida.
Comecei a dedilhar o piano, de forma calma, o sorriso de minha mãe começou a aparecer em seu rosto, era bom vê-la bem, ela merecia, sempre foi uma pessoa boa e deveria receber o bem em troca também. Nada mais justo, eu creio.
Seu humor foi melhorando e pelos seus olhos, percebi que seus pensamentos não estavam mais na guerra ou no casamento que estava triste ultimamente, mas sua cabeça estava em outro lugar, talvez em um dia bom de sol ou no jardim o qual ela amava cuidar, antes de pisaduras de soldados o destruir, ela estava feliz novamente, isso é bom. Quando terminei de tocar sua música, ela me abraçou e deu um longo suspiro, como de quem acabara de se livrar de um peso ou uma tensão, leveza, era claramente isso que seu olhar me dizia.
- Obrigada meu Edward- Ela disse ao se levantar do piano, acariciou meu cabelo e sorriu mais uma vez.- O que acha de uma vitamina agora?
- Me parece uma ideia estonteante- Disse e ela assentiu, me levantei igualmente a ela, e a observei ir até a cozinha, enquanto eu voltara a sala, indo ler algum livro que estivera na estante. Quando escutei um barulho de vidro se quebrando, será que ela estava bem?
- Mãe? Tudo bem com a senhora?- Falei e entrei no cômodo, vendo o leite derramado no chão e ela abaixada tentando pegar os pequenos cacos que se fizeram.
- Tudo, eu só me desequilibrei e derramei o leite, só isso.- Ela disse e eu comecei a ajudar- Edward meu bem, se importaria de ir comprar um outro leite? Sabe que a venda não é muito longe.
- A senhora vai ficar bem?- Minha mãe assentiu e eu tornei-me em pé novamente, indo até a sala, peguei umas moedas que estavam em nossa estante de livros e coloquei meu chapéu, em seguida me pus para fora de casa.
A tarde estava muito agradável ainda, daqui a pouco a hora de recolher seria sinalizada, então não tinha muito tempo, mas faria o possível para não correr, já que não é muito o tempo em que venho para a rua. Cumprimentei alguns soldados e algumas pessoas que também estavam a andar sobre o local. Felizmente a área onde eu morara não foi muito atingida por bombardeios, no entanto, as ruas sempre estavam quase vazias e com uma patrulha deveras forte.
Não demorou muito para que eu chegasse a venda, quando entrei havia apenas três pessoas no pequeno comércio, eu, o vendedor e o doutor Carlisle Cullen, o qual tinha visto poucas vezes ultimamente, sua pele pálida era intrigante, porém ainda sim era um bom homem e um excelente médico, é o que todos dizem. Eu fui onde estava o leite, peguei um frasco do produto e fui para o caixa, me distrai olhando o garoto que entregava jornal, trazendo uma nova leva com certa urgência pelas ruas, como se fosse a última matéria, que estranho. Absorto em minha mente acabei me esbarrando no doutor que estava em minha frente no pagamento e tinha apenas duas garrafas de água consigo, uma das duas que estava na ponta do balcão do caixa caiu no chão por conta de meu tranco corporal.
- Perdão!- Falei e peguei a que caíra, quando me levantei, ele sorriu e estendeu uma de suas mãos para pegar o objeto.
- Sem problemas, acidentes acontecem rapaz.- Suas palavras soaram gentis e eu assenti ainda constrangido por minha falta de atenção. Quando estendi a pequena garrafa, senti um toque de sua pele, muito gélida, estremeci.
- O doutor está bem? Está com frio?- Ele negou de imediato e pegou a garrafa de minha mão a colocando em sua sacola, parecia ainda calmo, mas um pouco mais apressado que antes.
- Estou ótimo- Disse enquanto acenou para mim com seu chapéu- Tenha uma boa tarde- Falou e se dirigiu a porta, sua mão estava congelando, mas por ser medico, talvez tenha acontecido algo com ela em seu serviço.
Paguei o senhor da venda e fui de volta para casa, esperando ler logo o último jornal, afinal isto só era entregue uma vez por dia e pela manhã, então um jornal como esse devia ser importante. Quando cheguei a porta de casa, entrei e vi minha mãe já lendo a nova matéria, parecia preocupada. Então não devia ser nada bom, talvez um novo ataque ou algo assim vindo em nossa direção?
- Mãe, poderia me deixar ler?- Ela assentiu, eu entreguei o leite para ela, coloquei meu chapéu na entrada e peguei as folhas de papel que estavam em sua mão.
Última Matéria
Vírus novo está sendo descoberto no Kansas, a nova intitulada Gripe Espanhola pode se espalhar para o resto do mundo, trazendo uma nova tragédia, para o mundo além da guerra. Outra quarentena com auxílio de máscara já está sendo prevista para o próximo ano.
Notas da autora: Foi isso amados, espero que tenham gostado e aproveitado o conteúdo, beijos e até semana que vem. Bye🍎.
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Lua Crescente ( Edward Story)-EM RECESSO-
VampirO ano era 1915 e Edward Anthony Masen Júnior, era um ótimo rapaz de 14 anos, cheio de esperança e sonhos que vivia com seus pais em uma pacata cidade em Chicago. Entretanto em 1918, ele foi acometido de gripe espanhola e eventualmente pouco tempo de...