Capítulo 6 [1918(3/5)]

142 12 3
                                    

Foram 3 dias de puro fogo invisível agoniante me queimando, não sei como consegui contar esses dias horríveis, pois a dor era de tal forma, que é surpreendente o fato de ter me restado um mínimo de consciência para conseguir fazer algo como contar. Estou imóvel na mesma maca a qual comecei a agonizar, porém o quarto é diferente, lembro-me vagamente de ser trazido para o atual recinto, apenas algumas memórias borradas do doutor dizendo que eu estava sofrendo de uma “síncope” de dor para os outros e falando que pessoalmente cuidaria do caso. Mas será que fora isso mesmo que aconteceu? Apenas uma simples síncope? Não me parecia isso, afinal síncopes não deveriam queimar ninguém, eu acho.

A dor se tornou mais suportável nos últimos dois dias, não cessou totalmente, porém ficou algo mais tolerável de se sentir, hoje mesmo sua amenização foi definitivamente significativa, ainda queima é claro, entretanto não como antes, é como se o fogo começasse a apagar com o tempo, algo como se de pouco em pouco os pingos d'água caíssem sob o fogo, será que era isso que estava a acontecer? Finalmente iria parar a terrível agonia? Não sei ao certo, mas espero grandemente que a resposta seja sim.

Eu ainda não ousei me mexer, apenas estou olhando um pequeno ponto preto no teto, mantendo minha total concentração alí, mal pisco para não movimentar nenhum músculo que meu corpo possui, porque tenho medo de que qualquer movimento faça o fogo reacender e eu não quero isso, não de novo. Parece que com os dias, minha visão havia melhorado também, por exemplo, até ontem o ponto preto que ocupa o teto parecia ser um simples ponto comum, mas hoje, é como se eu conseguisse ver até as mínimas gotículas de poeira ao seu redor, desde os pequenos respingos a sua borda até a sua cor levemente desbotada devido o tempo que estivera alí. Isto era algo fascinante, ou a dor começou a me deixar louco de vez.

E então, em meio aos meus devaneios, pude sentir aos poucos que o fogo começou a parar, em primeiro foram as pontas de meus dedos e senti irradiar alívio pelo resto de meu braço, será que apagaram o fogo invisível finalmente? As chamas vão cessar?

Em seguida minhas pernas foram o próximo alvo, pareciam novamente boas para mim, sem nenhum vestígio de fogo, agradeci em meu interno, finalmente estara a acabar. O peito começou a ter sua vez também, parecia forte como nunca, com uma estrutura que certamente parecia como aço, me ousei respirar fundo para conferir se já podia voltar a meu normal e senti cócegas?

Meu pulmão sentiu cócegas? É como se eu houvesse sentido a poeira entrar em mim, isso é possível? Um desconforto também veio, como se algo estivesse errado, de uma maneira fora do lugar, como se eu tivesse feito um movimento errado, também pude sentir um sabor forte, parecia ferro? Folhas? Senti o gosto de tudo um pouco que estara na sala, como? Eu apenas respirei, isso era totalmente normal para os humanos, por que rejeitei o ar? Fiz algo errado?

Tudo bem, não irei respirar fundo, por enquanto. Então pude sentir minha cabeça parar de queimar, finalmente fora resfriada. É como se a queimação fosse descendo até a garganta, então certamente ela seria a próxima, pensei. Não parou, na verdade aumentou, doeu e começou a me preocupar, por que não para? Pimenta foi jogada viva alí? Sede. Estou com muita sede, como se não houvesse bebido nada a anos? Preciso urgentemente de água, quero acabar logo com isso.

Decidi me sentar na maca a qual estava nas últimas semanas, para procurar algo para beber e esperei sentir dor em meu corpo, já que a doença havia me debilitado muito, entretanto eu já estava em pé ao lado do objeto, incrível! Como eu fiz isso? Parece que só por pensar já havia feito, mas eu não era tão ágil assim, nunca fui e o mais impressionante, eu não sentira nenhuma dor, mas como é possível? A 3 dias atrás eu mal me mexia e agora estou assim, o que fizeram comigo?

Olhei por volta da pequena sala, entrava um pouco da luz do dia por entre as cortinas, pude olhar cada feixe da pequena luz, cada cor que se irradiava dalí, vi todas as cores do arco-iris, inclusive até uma diferente a qual eu não sabia dizer o nome, era lindo, muito impressionante, Como nunca vi isto antes?
Então analisei um pouco mais o pequeno recinto, ele agora era totalmente nítido para mim, que estranho. É claro que eu nunca houvera tido nenhum problema de vista antes, todavia tudo fora novo e diferente para meus olhos agora, como se um véu houvesse os tampados por todos esses anos.

Lua Crescente ( Edward Story)-EM RECESSO-Onde histórias criam vida. Descubra agora