Lua Crescente ( Edward Story)-EM RECESSO-

Capítulo 14

Hoje é exatamente dia 20 de Junho de 1924, verão. Exatamente o dia do que era para ser meu aniversário, mas quando se era para fazer 23 e permanece com a fadada face de 17 anos, você acaba parando de comemorar o evento, se torna maçante nunca envelhecer ou mudar. Em dias de meu aniversário, eu fico pensando em como poderia ter sido a minha vida, se nada daquilo houvesse acontecido, se a gripe não tivesse arrancado toda uma vida de mim, talvez eu poderia estar casado, ou talvez com a sonhada filha que minha mãe desejava tanto que eu tivesse, eu poderia estar formado em algum bom trabalho, talvez teria entrado para o exército como era o plano inicial de minha vida, eu teria até mesmo aceitado fazer direito como fora desejo da minha mãe. Eu poderia estar sustentando minha família, em alguma casa boa, com uma boa esposa, seguindo minha vida normalmente como era para ser, seria bom, de fato um pouco banal, mas seria bom de qualquer maneira, ser humano, ser normal.

Lembro-me perfeitamente que quando mais novo pensava em procurar um amor com 17 anos, infelizmente não foi possível, eu nem tive chance de tentar, pois mal completei a idade e já fui acometido da doença, e por mais que agora eu ainda tenha 17 anos, não posso ficar com ninguém, ou posso mata-la, ou acabar a transformando e sinceramente não sei o que seria pior para a pobre moça que ousasse tentar algo comigo, a colocar o fardo de ser como eu ou arrancar de total a vida, se bem que para mim, ambas as escolhas são praticamente iguais, eu mesmo não "morri" literalmente, mas mesmo assim me sinto morto a maior parte do tempo, ou o tempo todo, nunca faria alguém passar pelo mesmo, por mais que eu amasse a pessoa, se é que isso fosse possível, seria muito cruel e egoísta, eu sei o que é ser um demônio e não desejo a ninguém.

Mas ainda sim, fico pensando como poderia ter sido minha vida, totalmente diferente, cortejando alguma moça, tentando lhe roubar um beijo ou dois, mas somente depois de deixar clara as minhas intenções com o pai dela, e lhe pedir a mão, talvez haveríamos tomado chá na varanda, e eu a daria presentes, da forma mais cordial possível, não posso evitar de sorrir ao pensar nisso, seria tudo tão simples, mas tão feliz. Me pego as vezes me perguntando como devem estar os meus antigos e poucos amigos de escola, devem estar certamente seguindo essa vida, a vida que eu também deveria ter, mas como a sorte não é generosa com todos, eu não pude nem ao menos tentar obter essa vida comum, infelizmente a aliança de minha nunca irá para dedo algum.

Por mais que esteja no verão, o tempo hoje parece mais nublado do que deveria estar nesta época do ano, então me permitir sair para dar uma volta em uma pequena praça da cidade. Estou sozinho, Carlisle e Esme decidiram viajar, para ficarem mais a sós de uma forma mais romântica, estão em Londres pelo que eu soube em sua última carta, me parecem felizes, e obviamente sentindo minha falta, isso chega a me machucar, o tanto de vezes em que só eu sei o quanto fui egoísta ao pensar em abandona-los por puro egocentrismo próprio, e eles apenas me amando como sempre de forma incondicional, pensando em mim e em meu bem estar, eu não deveria ser tão egocêntrico, eu sou um troglodita. Porém tenho tentado me esforçar para não precisar magoa-los, venho tentando sair nos últimos tempos, de preferência sozinho, me permitindo sentir o cheiro humano e dizer a mim mesmo de que posso ser feliz sem ser um monstro, é claro que não tem sido nada fácil, já que o cheiro deles anuncia basicamente um banquete para mim, mas venho sendo bem persistente e não tenho desistido. Eu vou ser bom, se não por mim, mas por aqueles que me amam.

Estou agora sentado em um banco, lendo o jornal matinal, enquanto as famílias também passeiam, seria relaxante se eu não tivesse de ficar soltando e prendendo a respiração o tempo todo, já que como estou apenas começando a me acostumar com o cheiro humano, não acho também muito seguro o sentir continuamente, então estou fazendo tudo aos poucos, em meu próprio ritmo, para também não acabar machucando ninguém, com o tempo eu espero que não seja tão difícil, quanto parece ser no momento.
Pude notar duas moças se aproximarem e sentarem ao banco próximo do que eu estara, respirei o ar para tentar sentir o cheiro de ambas, e logo após de sentir cócegas em meus pulmões, senti um ótimo aroma doce e suculento das duas, rapidamente prendi a respiração e forcei o monstro de meu interior a entender de que poderia-se conviver com pessoas sem ter a necessidade de mata-las.