Era uma vez, um reino em guerra e um rei morto.
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Quando o rei Eros, O Tirano morreu, Olímpia entrou em festa.
O povo não tinha um vislumbre de paz e felicidade havia centenas de anos desde que ele assumiu o trono. Eram guerras atrás de guerras, conflitos internos e externos, proibições, censuras, punições públicas, fome e miséria enquanto o rei e sua família viviam como deuses.
Milhares e milhões de pessoas inocentes haviam morrido, o número de órfãos aumentava a cada ano, o número de suicídios crescendo exponencialmente, assim como as revoltas e consequentemente, as repressões.
O povo de Olímpia estava cansado e desesperado.
Quando o rei ficou tão doente que o governo já não conseguia mais esconder e anunciou a todo o reino a sua enfermidade pedindo orações ao Grande Arishem, a divindade protetora de Olímpia, o povo sentiu pela primeira vez em quatrocentos anos uma pontada de esperança.
Eles sabiam que muito provavelmente era em vão, pois seu filho Druig assumiria o trono assim que ele morresse e ele era tão ruim quanto o pai, era o seu braço direto, o seu carrasco. Mas eles sempre lutaram contra o déspota, não iriam abaixar a cabeça para seu filho.
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Druig tinha 250 anos e era o filho mais novo de Eros. Sua irmã Sersi havia se casado com um camponês do Norte e fugido de casa. O rei não foi atrás dela, não a considerava mais sua filha.
Druig havia sido treinado pela maior guerreira da história de Olímpia, a séria e impiedosa Thena, gêmea da falecida e amada rainha Minerva. Ele sabia lutar com espadas, facas, arcos e flechas e com seu próprio corpo. "Um guerreiro não pode ser refém das próprias armas", era o que Thena lhe dizia e ele ouvia tudo atentamente, como um filho ouve a sua mãe. Ele a amava mais do que qualquer coisa, e ela a ele.
O príncipe tinha os seus poderes e seus lobos gêmeos mágicos, Apólo e Ártemis, dados a ele pelo próprio Arishem quando fez 10 anos de idade. Ele se lembrava de ser acordado por um dos servos do Palácio de madrugada dizendo que Ajak, a Grande Sacerdotisa de Olímpia lhe convocava no Templo Dourado; e se recordava da emoção de ver aqueles dois lobos enormes deitados um de cada lado dela dentro do salão principal do templo, os três em frente à grande estátua de Arishem.
Ele se lembrava de cada detalhe, pois foi uma das poucas vezes na vida em que soube o que era felicidade e se agarrava àquele sentimento e àquelas lembranças com tanto afinco que sentia seu coração doer. Eles eram enormes, cada um com no mínimo dois metros de altura. O impressionante Apolo tinha pelos dourados e brilhantes, era o maior e mais robusto. Ele nunca errava uma patada ou uma mordida. Era bizarramente resistente e se curava em questão de poucos minutos. Ele havia sido feito para ser um guerreiro. Ele era a força e a imponência de Druig. Já a majestosa Ártemis era menor e mais magra, sua pelagem num tom cintilante de prateado. Ela era ágil, rápida e inteligente. Ela era uma rastreadora e podia se camuflar entre as sombras, ficando invisível a todos, menos a Druig. Ela era seus olhos e ouvidos. Os dois juntos eram todo o seu coração, toda a essência da sua alma. Eles lhe lembravam de quem ele era, e também de quem ele não era.
Esses lobos fizeram o seu reino e todos os demais ao redor o chamarem de A Fera. Seu pai amava o apelido, dizia que eles sentiam o medo só de ouvir menciona-lo. Druig não dizia nada, havia aprendido a apenas assentir, manter a expressão neutra e responder quando lhe era perguntado quando se tratava de seu pai, mas secretamente odiava ser chamado assim, odiava ser visto assim e odiava que tivessem medo dele.
Ele não concordava com nada do que o pai fazia. Ele odiava a guerra e via que o seu povo também. Ele frequentemente mandava Ártemis camuflada para ajudar as pessoas durante as revoltas e ele mesmo muitas vezes ia pessoalmente, também disfarçado ajudá-los a lutar e a acolher os feridos. Ele os carregava em seus próprios braços e dispunha de seus próprios poderes para ajudar como podia e depois os fazia esquecer de tudo. Ele não queria reverências e agradecimentos; tudo o que Druig queria era amparar quem precisava e contribuir com a Revolução. Apenas Thena, Gilgamesh e Ajak sabiam disso.
Um dia, num refúgio escondido cheio de feridos, Ajak que estava lá para curar quem precisava lhe chamou num canto e disse baixinho para que apenas ele pudesse ouvir: "Você não sabe e eles não sabem, mas você é a esperança deles, é o governante que eles vêm esperando todo esse tempo.
Arishem me mostrou isso no dia em que você nasceu e aqueles lobos não foram dados a você para servir na guerra, mas para salva-los dela."
Ele frequentemente sonhava com esse dia e logo depois vinham os pesadelos. Ele tinha pesadelos desde que pegou numa arma pela primeira vez, no mesmo dia em que Apólo e Ártemis chegaram em sua vida.
Druig dizia a si mesmo que seria um rei melhor um dia, mas tinha medo de não conseguir. Será que um único pequeno coração poderia se sobrepor a dois séculos de criação com um homem horrível? Será que sua alma era tão diferente da de seu odioso pai? Ele muitas vezes duvidava, mas esperava desesperadamente que sim. Ele orava e pedia a Arishem que fizesse um homem melhor, um rei melhor e prometeu a si mesmo – e secretamente às pessoas que dependiam dele – que ele serviria à Revolução, que sua vida seria dedicada à isso, que morreria pela liberdade deles se assim fosse necessário.
Por isso, no dia em que seu pai morreu, depois do sepultamento com honras que ele não merecia, antes de ficar sozinho em seu quarto e se sentir aliviado e livre pela primeira vez na vida, mais uma vez ele vestiu roupas simples como as de um camponês e uma máscara decorada como a que todos os cidadãos usavam em bailes e comemorações – bem diferente da sua própria e costumeira máscara – e foi festejar na rua com seu povo. Ninguém nunca o reconhecia sem a armadura ou as roupas pomposas da realeza, as quais odiava profundamente.
Ele queria sentir a paixão e a energia vinda das pessoas. Queria ver a esperança transbordando pelos seus poros e ansiava por sentir o mesmo.
Ele comeu e observou as danças e as cantorias e como sempre, buscava na multidão uma certa garota talentosa, corajosa e encrenqueira, uma certa guerreira. Buscava na multidão a sua heroína, a sua Bela Makkari.
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No dia em que Eros, Rei Tirano morreu, Makkari festejou como todas as outras pessoas.
Ela vestiu seu coturno mais bonito e seu vestido favorito, que imitava uma armadura com todas as suas pedrarias. Ele era prateado com uma saia dupla e ela gostava de usa-lo com uma capa comprida e esvoaçante, os lábios com maquiagem preta, anéis em todos os dedos e brincos cobrindo as orelhas.
Naquela noite ela arrumou seu cabelo em longas e grossas tranças que estavam por sua vez, soltas e deixou pela primeira vez em anos as armas em casa.
Ela havia nascido surda, então não ouvia a música, mas ela sentia a vibração dos tambores e do canto das pessoas passando pelo seu corpo. Ela amava a sensação de poder esquecer quem ela era ou a guerra por alguns momentos. Ela queria apenas ser uma garota normal durante toda a noite e apenas dançar, pois naquela lua ela não precisaria ser controlada e séria, como o general Ikaris sempre dizia que ela deveria ser. Ela gostava da adrenalina e da agitação, e poderia ser por algumas horas apenas ela mesma e rir, comer a vontade e quem, sabe, arrumar um pouco de confusão, só por diversão.
Ela era jovem, apenas 23 anos, mas fazia parte do exército desde os 16. Se alistou assim que começaram a convocar as mulheres por causa do número de homens mortos nas batalhas, nas revoltas e nas punições que o rei inflingia. Seus pais, Phastos e Ben não aprovaram de início, então ela saiu escondida quando eles estavam dormindo e fez o que achava que devia fazer. Eles ficaram bravos e gritaram com ela enquanto falavam os sermões em sinais, mas como ela não podia ouvir os gritos ela simplesmente deu de ombros, os abraçou e disse que o que estava feito estava feito. Eles choraram e depois disseram que se amavam e tudo voltou ao normal, como sempre. Se é que podia chamar sua vida de normal.
Ela se desenvolveu rápido nos treinos e em menos de dois anos estava lutando em campo aberto. Aos 18 por causa de sua idade, suas vitórias e sua bravura ela foi nomeada a melhor e mais jovem guerreira do reino de Olímpia. O rei Eros, O Maldito e o filho horrível dele pessoalmente a haviam condecorado. Ela teve que jurar servir ao reino e ela sempre cumpria as suas promessas. Mas servir ao reino, pensava ela, não significava servir ao seu rei.
Ela não podia participar ativamente da revolução para não ser reconhecida, para proteger sua família e porquê estava sempre trabalhando na contenção delas, mas sempre dava um jeito de ajudar alguém no meio do conflito e junto aos seus pais ela acolhia feridos na sua casa.
O povo de forma sussurrada, a chamava de heroína e a única pessoa importante do reino que sabia disso era a sacerdotisa, que assim como ela, fazia o que podia para auxiliar os revoltosos.
Ela se lembrava do dia em que recebeu uma carta da líder espiritual de Olímpia a chamando no templo antes de Makkari saber que Ajak era ela mesma, uma rebelde; e também se lembrava de cada detalhe do que ela havia lhe dito.
Todos no reino, exceto o rei – que obviamente se achava melhor que todos – sabiam linguagem de sinais e a Grande Sacerdotisa falou com precisão e clareza:
"Eu sei o que você tem feito, ajudando os cidadãos", e antes que Makkari pudesse mentir ou até mesmo se assustar ela continuou: "Eu não vou contar nada para ninguém. Eu sei que Arishem não está feliz com o que está acontecendo aqui em Olímpia. Ele me mandou um sonho sobre você há umas duas luas atrás. Você vai salvar esse povo, Makkari. Você é todo o fogo no coração deles."
Tentando afastar as lembranças – não era hora de afogar no passado e sim, de celebrar o futuro – ela se vestiu bem, dançou e comeu. Ela se divertiu e brincou com as crianças. Ela abraçou seus pais e bebeu até ficar tonta. Ela comprou algumas jóias e roubou algumas outras, e na manhã seguinte sua mente lhe mandava imagens vagas de um homem um pouco mais alto que ela lhe olhando de longe. Quando ela chegou mais perto, viu que ele tinha de olhos claros e gentis, exatamente o tipo de homem a quem ela gostava de enganar. Ela estava mascarado, assim como a maioria dos outros.
Ela tinha lembranças de flertar com ele e também se lembrava de beija-lo, abrir o fecho do seu colar de ouro furtivamente enquanto o beijava e se despedir dele antes que ele percebesse.
Ela só não sabia que aquele era o seu novo rei.
•••Boa noite, galera, Morgan, sua autora falando aqui.
Essa história é a primeira que eu posto, apesar de escrever desde muuuuito novinha, então, por favor, tenham paciência comigo, relevem os erros ortográficos, gramaticais, enfim, os erros de português em geral e, se você escreve e tem alguma dica pra mim, deixa nos comentários, por favor.
Eu tentei deixar o mais longo possível e já aviso que os primeiros capítulos – talvez uns cinco – vão ser mais uma contextualização da história individual dos drukkari e do reino, e a partir daí é que a relação deles vai começar a se desenvolver.
E aí? Pegaram a primeira referência ao Barry no Druig? Já aviso que vai ter mais uma no próximo capítulo.
Comentem o que vocês acharam, isso vai me deixar muito feliz.
Obrigada para quem ler e até a próxima quinta-feira.
(Vou ver e responder os comentários – se tiver – só amanhã; eu trabalho, então preciso urgentemente dormir)
🖤🖤🖤
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a bela e a fera - drukkari's version
FanficQuando Eros, O Rei Tirano morreu, Olímpia entrou em festa. O povo não sabia se Druig, A Fera, o apavorante príncipe - agora rei - iria se voltar contra eles, mas nada poderia parar a alegria do povo. A corajosa e bela Makkari pensava que ele p...