capítulo III - cherry bomb

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   Era uma vez uma menina espirituosa, uma guerreira e uma heroína vivendo juntas na mesma alma.
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   Makkari tinha 23 anos e era a filha mais velha de uma família de quatro pessoas. Ela tinha um irmão mais novo chamado Jack, que não passava dos cinco anos e dois pais; o calmo, gentil e doce Ben e o gênio incompreendido, sempre estressado mas muito amoroso, Phastos. Ela e Jack eram adotados pelos dois. O número de adotados em Olímpia era muito alto e crescia a cada ano por causa das baixas da guerra. Assim, quando os pais biológicos dela morreram quando ela tinha apenas 5 anos, os dois, que já eram casados decidiram cuidar dela. Jack foi adotado ainda recém-nascido. A mãe morreu no parto e como os dois eram amigos próximos dela, passaram a tomar conta dele até que o pai voltasse de uma das infinitas batalhas a que o reino era submetido. Ele nunca voltou.
   Makkari amava muito o seu irmãozinho e ele a idolatrava, mas os dois não eram os únicos órfãos que foram adotados por outras famílias no Reino de Olímpia.
   Por causa da guerra e das rebeliões muitas pessoas morreram, fazendo com que o número de crianças desabrigadas e sem pais crescesse exponencialmente a cada ano. Mas se tinha algo que Makkari amava sobre os Olimpianos era a solidariedade e o senso de comunidade que eles tinham.
   As crianças e adolescentes logo foram abrigados e receberam famílias novas. O lema dos Olimpianos era "O Povo pelo Povo". Eles sabiam que não podiam contar com o governo e muito menos com o exército e que no fim do dia eles só tinham a eles mesmos, então faziam o possível para cuidar uns dos outros.
   Os olimpianos criaram um sistema único de organização social que permitia que todos se alimentassem o suficiente, mesmo com o racionamento e a falta de alimentos e que todas as crianças fossem bem cuidadas. Eles se organizavam em distritos, e dentro desses distritos haviam pequenos bairros com no máximo 20 famílias em cada. Todas as crianças de cada bairro estudavam na mesma escola, onde ficavam em tempo integral. Todos os adultos eram responsáveis pela educação e criação de todas os pequenos, para facilitar a rotina de todos. Cada bairro tinha um pequeno centro comercial que era de fácil acesso a e uma cozinha comunitária onde cada pessoa tinha direito a pelo menos duas refeições por dia. Tudo isso foi criado pelas pessoas e para outras pessoas, o que criou em todo o povo em Diáspora de Olímpia um senso de comunidade, fraternidade e união que os fortaleciam nos tempos difíceis. E dessa união, construída ao longo de várias gerações, surgiu o ideal de revolução e vários grupos de rebeldes.
   Makkari era uma deles. Ela entendeu desde muito cedo o que significava ser pobre e o que significava ser um aristocrata. Ela havia percebido desde a infância qual era o seu lugar no status quo e também que esse lugar era um lugar de servidão e opressão. Não era bom e muito menos justo, e ela queria mudar isso. Então, aos 15 anos ela começou a participar de reuniões clandestinas dos rebeldes e de alguns ataques ao governo e nunca os abandonou mesmo depois de ter entrado para o Exército.
   Pode parecer estranho uma rebelde revolucionária querer fazer parte de uma organização que existe para defender a classe dominante e punir as pessoas comuns, mas o que acontecia em Olímpia era que pelo menos metade dos soldados ou não concordava com os métodos do rei e estavam lá apenas pelo salário ou eram também, parte da Rebeldia. A outra parte era composta de pessoas que recebiam determinados privilégios ou estavam alienados demais da sua própria posição dentro da organização da sociedade Olimpiana.
   Esses revolucionários infiltrados ajudavam os revoltosos como podiam nas rebeliões: deixando-os livres ao invés de prende-los, avisando sorrateiramente a hora de parar ou aonde atacar, passando informações de todo o tipo ou livrando algum preso político da cadeia sem que ninguém mais soubesse. Eles atacavam o sistema de dentro, enquanto o resto da população atacava o sistema do lado de fora.
   O rei sabia que seu tempo de tirania não duraria mais tanto tempo, ou que não sobreviveria para poder continuar com o seu sangrento legado, então nos seus últimos 20 anos de vida fez o que pode para causar mais terror. Ele não tinha mais esperanças de acabar com a Revolução, e sabia que havia um número muito grande de infiltrados no seu governo para poder derrotar, mas não daria o braço a torcer. Sendo assim, passou a prender, torturar e matar mais pessoas, endurecer a censura, racionar mais os alimentos e criar ainda mais conflitos armados desnecessários, tudo para satisfazer o seu ego e afirmar o seu poder. Não deu certo. Todas as abominações que ele cometeu serviram apenas de combustível para a sua oposição.
   Makkari odiava o rei, seus aliados e o filho dele, Druig, A Fera mais do que tudo no mundo. Ela sonhava com o dia em que seria livre de verdade e que não precisasse fingir obediência e subserviência a eles. Ela não odiava Minerva, embora não confiasse totalmente nela, como os outros a sua volta. A jovem pensava que, no fim do dia, mesmo que a rainha fizesse algo pelos seus súditos ela ainda era uma aristocrata que prosperava sobre a sua dor e ela não conseguia tolerar isso. Ela era uma mulher cheia de raiva dentro do coração e cheia de energia para a mudança. Seu pai Ben costumava dizer que ela era "forjada no fogo da criação do próprio Arishem". Havia muito a ser feito e eles não derrubariam o Trono com compaixão aos seus senhores.
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   A bela moça de pele escura e olhos curiosos era dada às travessuras. Adorava a sensação da adrenalina correndo pelo corpo depois de arrumar uma confusão. Ela era corajosa, impetuosa e um tanto quanto impulsiva. "Impulsividade não é coragem", Phastos lhe dizia e ela respondia: "Eu sei papai, e sei a hora certa de usar cada uma das duas". Ele ria, lhe beijava a testa e replicava "Você vai arrumar confusão de verdade um dia desses" e ela, para não ficar por baixo, retrucava: "Mal vejo a hora disso acontecer".
   Ela não fazia por mal, não era isso. Makkari só ela inquieta demais. Estava sempre correndo, sempre brincando, sempre treinando. Sua mente nunca descansava, então não conseguia manter o corpo parado, nem mesmo o exército pode fazer com que ela se tornasse disciplinada. Por isso, foi torturante ter que ficar parada como uma estátua enquanto o novo rei, o detestável Druig fazia seu primeiro pronunciamento como líder do reino.
    — Ontem, morreu meu pai, Eros e hoje eu sou rei. Devido aos recentes acontecimentos, não foi possível realizar uma cerimônia de coroação, mas para comemorar, decidi decretar que todo o Reino de Olímpia estará em festa! — Um inteprete de linguagem de sinais acompanhava o pronunciamento, então Makkari pode entender.
   — COMEMORAR O QUÊ EXATAMENTE? Alguém gritou na multidão.
   Um coro de vozes indignadas começou a ficar alto. Ela não ouviu, mas percebeu a agitação e a expressão deles, era assim que sabia quando estavam gritando. Druig não deu nenhuma ordem para para-los então os soldados não sabiam o que fazer além de olhar uns para os outros confusos.
   E então todos ficaram estranhamente parados.
   Ele estava fazendo aquela coisa estranha de controlar as mentes das pessoas, Makkari percebeu. Ele seria como o pai, ela pensou. "Nós seremos obrigados a comemorar a sua coroação assim como Eros nos obrigava a dançar quando vencíamos algum combate, mesmo de luto pelos que morreram". Ela sentiu o ódio fervendo o seu sangue e depois veio a surpresa:
    — Nós vamos comemorar as reformas que eu vou decretar. A partir de hoje começa uma nova era para todos nós, e a primeira coisa a ser feita vai ser soltar todos os presos políticos do meu falecido pai — Makkari não sabia se estavam paralisados pelo poder de Druig ou se estavam assim porquê não estavam esperando que ele dissesse aquilo — Hoje mesmo seus entes queridos vão voltar para a casa e eu espero todos no Palácio aqui a noite para comer, beber e dançar.
   Diante disso ele deu as costas e se foi e as pessoas nas ruas não sabiam muito bem o que dizer, sentir ou fazer.
   
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a bela e a fera - drukkari's versionOnde histórias criam vida. Descubra agora