Solitude

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Tento pensar em algo pra escrever nesse diário. Até agora tudo o que relatei fora minha rotina repetitiva:

Às 06:00 da manhã tomei os primeiros três comprimidos sai do prédio para caminhar. Dei a volta na orla.
Às 08:06 eu cheguei e comi omelete antes tomar outros dois comprimidos às 08:30.
Às 09:00 eu já havia tomado banho e estava pronto para sair.
Trabalhei até às 17:00, fazendo pausa para o almoço às 13:00 e outras pausas para remédios às 14:00 e 16:00 horas

Agora são 19:00... Hora de outras duas pílulas. Anoto no caderno assim que as engulo. A parte ruim do diário era que eu realmente tinha que me forçar comer para escrever ali. Minha mente ficava tão nublada em certos momentos que eu sabia que não podia mais continuar mentindo. A parte boa era que era mais fácil me lembrar do que tinha feito, se eu esquecesse era só ler ali. Não havia o que escrever sobre emoções, eu não senti nenhuma o dia todo e por mais que eu soubesse que elas me faziam falta, eu não queria voltar a tê-las temendo o que eu poderia sentir.

"Ele é um fraco... Nunca teria sido rejeitado se fosse um alfa de verdade..."

As palavras do meu pai de repente martelam na minha cabeça. Elas não me afetaram na hora, e nem afetam agora... Então por que eu estava pensando nisso? Talvez porque eram verdade? O pensamento era preocupante... Será que minha companheira pensava isso de mim? Não... Não, por favor... Deus, deusa, deuses no plural, qualquer coisa que talvez exista... não deixe isso ser verdade. Talvez se eu tivesse um pingo de coragem eu poderia tentar...


Eu tinha duas opções: Desistir dela como um covarde fraco. Ou... Minha mente conturbada não me deixa concluir o raciocínio, para variar. Ou que? O que eu poderia fazer? Não sabia onde ela estava, me tiraram de lá imediatamente depois. E mesmo se soubesse eu estava proibido de voltar no local, o próprio Supremo emitiu a ordem.

Não aguento mais a pressão que aquilo estava causando. Eu apenas pego dois comprimidos do frasco e engulo de uma vez. Fecho os olhos tentando esvaziar a mente, quando de repente volto a olhar pro caderno pressentindo algo errado.

Ah merda.

Às 19:00 horas tomei mais dois comprimidos.

Eu já havia tomado e não lembrei há tempo. Jogo o caderno de lado e sento no sofá, eu ia ligar para alguém só no caso de algo dar errado, mas eu já estava me sentindo tonto. Fico ali esperando que a sensação passasse, mas parece piorar. Um formigamento estranho começa na língua e se espalha lentamente. Estico a mão para pegar o celular em cima da mesa mas não consigo, meus membros estão pesados. Minha visão fica embaçada e eu sabia que se não levantasse agora eu morreria naquele sofá.

A ideia me faz agir e eu finalmente me arrasto até o aparelho. Digito qualquer coisa no teclado, não tendo certeza se apertei o botão certo, apenas vejo que está chamando mas ninguém atende. Ou será que atende? Murmuro alguma coisa em direção ao celular mas não tenho certeza se falei com alguém. Minha visão turva vê minha mão tentando alcançar o relógio que monitorava meus sinais, mas eu não sei o que houve depois disso.

...

— O que aconteceu? — pergunto ao distinguir luzes distantes. A pessoa que estava comigo se sobressalta ao ouvir minha voz.

— Nick... — uma mulher diz algo mas a voz parece abafada e distante.

Alguém coloca uma lanterna diante dos meus olhos e eles lentamente recuperam o foco. Ouço um estalar de dedos próximo aos meus ouvidos e o som retorna devagar. A mulher tem cabelos castanhos, pele clara, óculos. Sua imagem fica mais nítida de repente.

Cry Wolf (Em Andamento/Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora