Uma mordaça foi colocada em mim e meus braços presos acima da cabeça por correntes vindas do teto. Estava tudo escuro. Assim que sai da vã um saco preto foi colocado na minha cabeça. Sinto uma picada no pescoço. Era uma seringa sendo injetada em mim. Quero resistir, quero lutar de volta mas lembro que eles têm Claire, e eu não arriscaria a vida dela desse jeito. Eu já havia feito muito. Os homens ao meu redor começam com socos, mas não utilizavam apenas os próprios punhos, e sim soqueiras pontiagudas que arrancavam pele e sangue no processo.
Grunhidos de dor escapavam vez ou outra, mas eu me recusava a gritar. Isso só pioraria as coisas. Dentre as sessões de tortura, lembro de uma em que senti patas rasgarem minhas roupas com suas garras pontudas, me arranhando no processo. Eles sabiam que eu demoraria mais para me curar quando os ferimentos eram causados por outros Alfas, e tenho certeza de que a injeção que recebi contribuía para isso.
Não sei quanto tempo se passou, mas a dor me faz pensar que devo estar resistindo há horas. Após a última sessão de tortura, tudo fica silencioso de repente. Por detrás do pano escuro que cobria meu rosto eu podia distinguir uma chama acessa, um instrumento tão quente brilhava vermelho, e alguém o trazia na minha direção. Fecho os olhos respirando mais rápido em antecipação.
Aço quente é prensado contra minha pele, bem acima do peito. Fumaça sobe junto com o cheiro queimado. Nem mesmo a mordaça foi capaz de abafar os gritos. Lágrimas enchem meus olhos quando finalmente afastam aquilo de mim. Eu ainda gemi de dor por vários minutos. Me deixam ali pendurado até eu perder completamente a noção do tempo. Minha pele ardia profundamente, e a dor me faz sentir febril. Após longos períodos ali sozinho, sou escoltado até uma câmara, onde tiram a mordaça e o pano que cobria meu rosto. Quando fico sozinho, jatos de água gelada vinham de todas as direções. Minhas roupas estavam tão rasgadas que simplesmente se desintegram com a pressão da água.
Me jogam uma toalha junto com roupas de tom cinza escuro. Meus movimentos são lentos, já que eu mal me aguentava em pé, e qualquer movimento brusco poderia causar um desmaio. Quando termino de me vestir, sentinelas vem me escoltar para outra sala, onde raspam meu cabelo e barba e tiraram fotos do meu rosto antes de me jogarem em uma cela. Perdi a conta de quantas violações passei até finalmente poder sentar num colchão duro, mas eu não tinha regalias ou escolhas, era assim que funcionava a cadeia. Os minutos se transformaram em horas, e as horas em dias. Não sabia dizer ao certo há quanto tempo exatamente eu estava ali. Não havia relógios ou janelas. Estou cercado por paredes e uma enorme porta de metal que só abria por fora.
Desde a noite em que fui preso, sabia apenas que ainda estava em Arklin pelo sotaque dos sentinelas. Não fui capaz de chorar em nenhum momento, uma apatia pior do que a tristeza de apossou de mim. Refeições frias e sem gosto eram deixadas no chão duas vezes ao dia, e as primeiras permaneceram intocadas, até que viessem ameaçar machucar a Claire e então tive que me forçar a comer. O quarto era pequeno e possuía um banheiro menor ainda. Não havia aquecedor, então eu passava a maior parte do tempo encolhido no canto tentando me aquecer, pois seja lá o que continha naquela seringa, eu não sentia mais meu lobo interior. Apesar dos olhos doloridos eu não conseguia dormir, apenas fechava os olhos por não mais do que meia hora, até meu coração descompassado me acordar com a sensação de pânico.
Em algum momento, ouço o ruído das pesadas portas de grades e passos vindo. Ninguém tinha aparecido desde que me jogaram aqui. Raramente eu ouvia vozes conversando do lado de fora, mas só isso. Imaginei se meu irmão tinha recebido a notícia e vindo até aqui pra tentar me libertar, mas não. A porta abre e é Irina quem está parada na minha frente. Permaneço sentado no chão quando um guarda entra primeiro e põe algemas de aço reforçado em mim, eu não resisto, atônito demais com a presença dela.
— Vou estar bem aqui, aperte isso, grite ou bata na porta se houver algum problema. — o guarda entrega um dispositivo pra ela antes de sair e fechar a porta.
Ela me encara esperando que eu diga alguma coisa, mas não seria eu quem começaria outro diálogo, afinal foi ela quem veio até aqui.
— Soube que você tem família em Monttoise... — ela começa incerta — Viajou bem longe pra me encontrar.
Não respondo. Apesar dos meus sentimentos não estarem mais totalmente suprimidos, eu aprendi que o poder de ficar calado e sem expressão deixava as pessoas desconfortáveis.
— Eles sabem que você veio aqui? Sua família? — Irina acrescenta.
— Seu noivo sabe que você está aqui? — ignoro sua conversa fiada.
Philip fez questão que eu soubesse disso, as humilhações físicas não foram as únicas. Não sabia o que ela estava querendo. Ela podia ter vindo genuinamente ou então era apenas um cruel interrogatório para os guardas que nos observavam pelas câmeras. A última opção era cruel embora fosse mais fácil de acreditar.
— Ele me largou, não quer ter que lidar com esse problema. — ela aponta para si mesma e depois pra mim.
— E você veio ver a sua segunda opção? — olho nos olhos dela.
Irina parecia ofendida e triste por eu ter sugerido algo tão insensível. Mas eu abri meu coração pra ela, ignorei leis e autoridades pra estar aqui e ela simplesmente me descartou exatamente como da primeira vez em que nos vimos. Se eu fosse um pouco menos orgulhoso e mais esperto eu poderia tentar persuadi-la a me tirar daqui, tentar seduzi-la pelo menos... Eu não sabia quanto tempo teria que ficar naquela cela até o Supremo chegar para o meu julgamento, ele provavelmente me manteria aqui para sempre se Irina não intervisse e me aceitasse.
— Eu vim me desculpar pelo o que eu fiz com você, mesmo que isso não adiante porque você parece me odiar agora... — ela cruza os braços e olha para cima tentando falar sem chorar — Você se declarou, veio até aqui, fez tudo isso por mim e mesmo assim eu o rejeitei... Enquanto o idiota do Colin nunca fez nenhuma demonstração espontânea de afeto que fosse... Era sempre por interesse e eu nunca percebi.
Ela soluça e enxuga o rosto com força. Seu choro não faz muito efeito para me comover. Na verdade, acho até falso.
— Nem te dei a chance de se apresentar ou da gente se conhecer... E o pouco que eu sei sobre você agora já me mostrou o quanto você é melhor do que ele... Minha família só liga pra status e poder, eles jamais aceitariam você e me disseram pra te rejeitar... Eu não sabia que doía tanto.
Respiro fundo enquanto apoio a cabeça na parede, decidindo se acreditava ou não. Ela agora sentia o que eu senti quando me rejeitou, ou estava apenas com medo que eu fizesse com ela o mesmo que fez comigo. Sinto uma lágrima involuntária escorrer do canto do meu olho. Meu ódio era tanto que se pudesse ser convertido em quilômetros eu poderia sair da galáxia. Mesmo querendo negar, mesmo querendo mandar ela para a puta que pariu... Eu me contenho.
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Cry Wolf (Em Andamento/Revisão)
WerewolfA vida de Nicholas nunca mais foi a mesma. O uso dos fortes medicamentos ou o derrubavam num sono pesado ou o deixavam letárgico durante todo o dia. Era o único jeito que conseguia viver depois de ser tão duramente rejeitado pela sua escolhida. Cans...