capítulo nove.

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"achei a paz para toda essa minha confusão"
essas horas - gabriel elias

— Ei! Bom dia, William! Animado? — Harry perguntou, já sentado na mesa comendo sua tapioca com queijo.

— Não sei se muito. Nunca tive muito contato com cachorros e gatos.

— Oh, isso não é problema! Você pode ajudar com os cavalos!

Harry falou de propósito. Falou de propósito porque, logo após o fazer, viu os olhos cintilantes de William arregalarem como nunca, o fazendo rir de imediato.

— Estou brincando! — William suspirou aliviado — Na verdade, não tanto. Vou ter que dar uma olhada neles hoje e como você vai estar ao meu lado em todo o momento, terá que vê-los.

— Posso vê-los. Não tocá-los.

— Tudo bem, tudo bem. Aceito suas condições.

E então William foi fazer seu mingau, enquanto Harry cantarolava baixinho por Isabelle ainda estar dormindo. Os dois estavam serenos e o clima na cozinha era tranquilo. William não contara para ninguém e nem expressou fisicamente o quanto tinha ficado feliz por Harry ter lhe chamado para conhecer a ONG. Sempre apresentou interesse pelo trabalho do cacheado, mas nunca, em hipótese alguma, lhe pediria para conhecer pessoalmente.

Ele realmente nunca teve muito contato com animais, mas mesmo assim queria conhecer. Coisas novas transformavam-o em um amante da vida.

Harry passou o caminho todo até a ONG tentando convencer o motorista do Uber a adotar uma filhote para sua filha. Tinha na ponta da língua todos os argumentos que precisava e expressou-os com maestria. Falou sobre benefícios no desenvolvimento pessoal, intelectual e social de uma criança que cresce com animais, além de alertar que gastos financeiros também entrariam na lista, esse último tópico não sendo muito agradável para o homem que ouvia atentamente o menino animado que estava em seu carro.

— Vou pensar, certo Harry? Prometo.

Harry vibrou.

— Pensa direitinho e qualquer coisa me avisa! Toma meu cartão.

— Muito obrigado. Aproveitem o dia, rapazes!

— Obrigado. — Os dois responderam em uníssono.

Desceram do Uber e andaram até o portão, já vendo de longe a recepção da Pipoca, do Urso e da Lua que tinham os rabos frenéticos no momento.

— Filhos!!! — Harry quase gritou. Andou mais rápido até chegar lá e abriu o portão, sentando no chão de imediato para receber e dar carinho. William, mesmo sabendo que o portão estava aberto e que os cachorros poderiam facilmente sair, escolheu ficar do lado de fora. Ele admirava Harry ao meio daquelas bolinhas de pelo e só conseguia, cada vez mais, ter a certeza que aquele era o lugar dele. O lugar que abrigava ar puro, cama aconchegante e limonada gelada. Seu lugar de fuga do mundo.

— William, vem aqui! — O cacheado pediu, ainda sem voltar o olhar para o intercambista.

— Tem... tem certeza?

Harry olhou para trás e só assim conseguiu perceber que ele estava com medo. Foi até o portão, chamou-o para andar ao lado dele, e explicou:

— Os três só pulam assim comigo. Eles são os únicos que ficam soltos porque são comportados. Pode vir, eles vão ficar quietinhos. — William continuava com medo, mas ao passo que chegava mais perto do portão e não via os cachorros darem indícios de energia máxima, começou a acreditar em Harry.

crisálida. {l.s}Onde histórias criam vida. Descubra agora