8 - Adeus

10 1 1
                                    

A imagem de Gris voltando e Hella sendo friamente assassinada por D'Pressio quebra a linha que segurava o equilíbrio, se é que Edrei já não estava bagunçada.

- NÃO HELLA! NÃO! IRMÃ! - suplica Raimund.

- O QUE? COMO? D'Pressio não tá atrás de mim? - confuso questiona Henry.

A cada segundo que passa o colapso e o estrago é maior. A cabeça em completo caos, as árvores sem folhas, a volta repentina de Gris, o sangue escorrendo a lança, a fúria de Raimund, o celular voltando a vibrar. "Atende Henry... não é mais nenhuma notificação no celular, é uma ligação" implora Gris. Então rapidamente e sem hesitar, Henry obedece...

- Oi Henry, que saudade de você meu filho - diz uma voz que carrega a idade em cada letra falada.

O silêncio notório toma conta do ambiente por alguns segundos.

- ... V...vó?

- Sua cabeça tá em completa desordem netinho, não deixe D'Pressio dominar ela... o fundo do poço pode não ter uma passagem de volta.

- Tá boa a conversa com o defunto aí Henry? Anda logo que eu tenho uma coisinha pra você! - grita D'Pressio, tirando o corpo de Hella de sua lança e andando em direção a Henry.

Gris mais fria que nunca, Raimund em prantos por perder Hella, Henry confuso, mas ao mesmo tempo tão lúcido como nunca e a luz do luar se intensifica. São horas decisivas.

- Como você voltou Gris? - perguntou Henry enquanto guardava seu celular no bolso novamente, tentando ignorar D'Pressio.

- Hella me ajudou enquanto D'Pressio me sequestrava. Seu desejo e o desejo de Raimund para que eu ficasse bem foi tão forte que, por alguma força maior da natureza, Hella apareceu repentinamente e me salvou.

- Tá, então quer dizer que...

- Não totalmente, mas você tá começando a entender... - corta Gris, conseguindo ler a mente de Henry.

- Então por isso que tudo aqui de alguma forma está conectada com minha vida real.

- Exato filho.

D'Pressio já está perto. Talvez Henry deva se preparar.

- Então, se é assim, eu quero que Hella volte a vida... não quero que ela morra.

- Não dá garoto - diz Raimund em prantos.

- Ele já tentou algo parecido na época dele, nem tudo é o que você quer Henry... além do mais, Hella te abandonou - diz Gris.

- Não... não é possível... não não não não não - repete Henry enquanto soca o chão.

- Pode não fazer sentido, mas ela tem um motivo pra ter feito isso. Agora foca, você precisa vencer D'Pressio. Você também precisa buscar a Alvorada, se não nunca irá ficar bem - carinhosamente aconselha Gris.

De alguma forma, o mundo se corrompe mais um pouco. O céu começa a mudar os tons de preto para um azul bem escuro e a lua cresce, mas não por muito tempo, pois Henry ouve vozes vindo aos pés do seu ouvido em tons baixos "Acorda Henry, acorda". Vozes essas que transmitem sentimento para com o garoto, como se importassem de verdade com ele, mas em vão. Vozes em tons mais altos subitamente buscam os ouvidos de Henry, essas semelhantes às vozes de Hella e da avó do garoto e dizendo: "Adeus".
Palavra essa tão forte e traumatizante para Henry, possivelmente o que iniciou tudo isso e o que pode encerrar também.

- Henry D'Pressio tá vindo - alerta Gris.

- Queria eu fazer algo contra esse desgraçado, mas o alvo dele não sou eu... quem dera eu pudesse lutar contra ele novamente, mas melhor não - diz Raimund.

- Já que tenho tanto poder aqui, vou ignorar ele então.

- Se ignorar ele, ele te domina e aí já era - com sábias palavras diz Raimund.

- Garoto, se você ignorar um carro em movimento ele te atropela. Não tem porque você ignorar D'Pressio, as vezes você tem que encarar os problemas cara a cara, sua vó mesmo dizia isso. Lembre-se também que você não tem total controle de sua mente, então não vacila.

- Valeu... mas... pera aí, nem existe carro em Edrei.

- Você me entendeu - resmunga Gris.

A cada passo de D'Pressio que chega mais perto, o coração de Henry aperta mais. Esse é o momento decisivo.

- Oi Henry querido - diz D'Pressio.

- Adeus, adeus, adeus, adeus, adeus - as vozes voltam.

No instante que Henry olha para D'Pressio, o clima muda novamente, a matriz do mundo se desprende mais um bocado, é o princípio do fim.
Cada passo mais próximo, mais as vozes dizendo adeus aumentam e aumentam e aumentam e AUMENTAM. O terror está feito, Henry não aguenta tanta pressão na mente dele e está a beira do colapso, mas por um lapso, ele lembra da mãe dele: "Ma-madre..." diz ele se cansado e esvaindo aos poucos. Se Henry ceder, D'Pressio o domina e o fundo do poço não tem passagem, nem corda, nem escada para voltar.
Com tanta pressão e, relembrando onde tudo começou (no psicólogo), Henry desmaia.

- Não! ACORDA GAROTO VOCÊ NÃO PODE SE DEIXAR LEVAR, NÃO! Ele vai morrer Gris faz alguma coisa.

- Não há nada que nós possamos fazer Raimund, a hora dele chegou... É a vez dele dizer Adeus.

- NÃO, EU RESISTI, SE ELE MORRE... TODOS NÓS AQUI VAMOS JUNTO COM ELE, Edrei vai junto também... não é justo que outras pessoas não possam conhecer esse lugar.

- Já era, é o fim da linha.

D'Pressio abraça Henry e as trevas o abraçam também, um abraço tão forte, tão aconchegante, não há vontade de sair desse lugar, talvez o melhor lugar do mundo... mas o abraço é traiçoeiro. Em um instante, D'Pressio desaparece e com ele Henry também.

Alvorada: A Caminho da Superação Onde histórias criam vida. Descubra agora