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Tory Keene

Com a discrição de sempre, passei de um carro a outro assim que cheguei à cidade. "Quem não planta não colhe", resmunguei para mim mesma ao me jogar no banco de trás do táxi que me levaria até o centro, onde eu era aguardada.

Chamadas no meio da noite não eram nem um pouco incomuns no meu ramo de trabalho. E o salário, nada desprezível. Meu Deus! Se Robby sequer suspeitasse do que fazia quando escapava da nossa vida sufocante no meio da noite…

O que ele acharia?
Talvez nem se importasse.

Senti um leve tremor e depois olhei pela janela, observando a cidade. As pessoas andando pelas ruas, as luzes brilhantes cortando o céu da noite, tudo isso me fazia lembrar de um parque à beira-mar ao qual alguém havia me levado quando eu ainda era pequena — alguém de cujo rosto já não me lembrava muito bem. Os brinquedos vertiginosos, os espetáculos de aberrações — coisas que me deixavam ao mesmo tempo fascinada e aterrorizada, embora eu pudesse contar com a segurança de um braço forte que me levava pela mão — e que de vez em quando me jogava para o alto, mas jamais me abandonaria.

Até que um dia me abandonou.
Inferno!

"Calma, concentre-se", disse a mim mesma. "Você tem um trabalho a fazer."

Abaixei a janela para deixar o vento fresco varrer as dores do passado. Escolhi um dos prédios mais adiante e comecei a contar os andares, um joguete que me divertia sempre que andava de táxi. Depois de contar os andares, calculava o número de apartamentos em cada andar e o número de pessoas em cada apartamento, chegando por fim ao número de pessoas que moravam no prédio inteiro. Quantas pessoas estariam escovando os dentes na pia do banheiro naquele exato momento? Comendo comida chinesa? Fazendo amor? Quantas pessoas comuns? Quantos segredos?

E então o motorista parou junto ao meio-fio. Através da Janela, olhei para o alto e vi meu destino final: o elegantérrimo e caríssimo hotel Hudson. Ocupação máxima todas as noites.

Quem eram essas pessoas? E que diabos faziam para ganhar dinheiro suficiente para ficar ali, em vez de se hospedarem num motel à beira de estrada em Nova Jersey?
Lá em cima, num daqueles andares privilegiados, um dos hóspedes igualmente privilegiados esperava por mim. Talvez até salivasse, ansioso pela minha chegada. E meu trabalho era dar a ele uma noite de sonhos.

Por assim dizer.

Eu sabia exatamente o que ele fazia para poder se hospedar ali. Dei uma bela gorjeta ao motorista e, sussurrando, disse a ele que se esquecesse da minha cara. Depois peguei minha "maleta de médico" e saí do carro, cuidando para não sujar as botas de salto alto na sarjeta.

Caminhando em direção ao hotel, senti meu casaco se abrir acidentalmente e percebi que o porteiro quase desmaiou. Ótimo. Era exatamente assim que meu cliente deveria reagir ao ver o modelito de couro preto que eu havia escolhido para aquela noite. Sempre foi mais fácil lidar com os homens quando eles estão de joelhos.

Atravessei o lobby como uma pantera. Procurei não chamar muita atenção, mas os homens, contumazes caçadores, não tiraram o olho da minha carcaça até me verem entrar no elevador. Uma vez dentro, passei a mão pela longa coluna de números e apertei o mais alto deles. Suíte presidencial. Nada menos que o melhor para esse homem. E isso incluía a mim também. Entretanto, eu daria a ele muito mais do que seu dinheiro poderia comprar.

Eu entrei nesse ramo anos atrás, muito antes de conhecer meu marido. Mesmo depois de casada, continuei com minha carreira particular. Era experiente. Bem treinada. Excelente profissional. Orgulhava-me de ser a melhor de todas.
O elevador parou no último andar. As portas se abriram com um chiado.

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⏰ Última atualização: Mar 01, 2022 ⏰

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