CAPÍTULO QUATRO

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Ela não se espantou, ao ouvir a pergunta. Nada mais justo do que responder.

Mas foi a tonalidade de Guilherme, o semblante que já não parecia divertido e debochado, mas visivelmente curioso, que a deixou em alerta. Sua voz, grossa e firme, proferia cada palavra como se fosse um predador conhecendo sua presa. Seu corpo, muito mais alto do que o dela, estava próximo demais, quente demais. Seu timbre não parecia conter apenas a curiosidade pura, ela podia sentir o desafio que a acompanhava.

— Eu já te disse: eu sou a Flávia — tentou parecer indiferente; Guilherme apenas aproximou-se mais dela. Sua sorte era que ainda estavam próximos da porta e havia como afastar-se dele — Eu tenho que fazer uma coisa aqui, por isso entrei nessa roubada com você. Não sou uma assassina procurada. — brincou. De jeito nenhum, diria para ele buscar seus antecedentes e correr o risco de saber que ela já havia sido presa.

Era uma longa história.

— O que me garante isso?

Ela revirou os olhos, indo para o mais longe o possível dele.

— Se eu fosse uma assassina, teria te matado no voo, quando você não calou a boca sobre cirurgia cardíaca, Veia Mitral.

Ele deu de ombros, como se aquilo não fosse suficiente. E era uma justificativa suficiente! Por falta de vontade que não foi.

Flávia caminhou até a cama, sentindo-se exausta pela viagem. Sempre que ia à Itália, necessitava de umas boas horas de descanso, causadas pelo longo trajeto que era atravessar o oceano. Suas costas doíam, suas pernas também; talvez até suas pálpebras estavam doloridas. Tudo o que ela queria era ter uma boa noite de sono, ainda que Guilherme estivesse naquele quarto.

— CARALHO? — ela gritou.

Na enorme cama, de aparência extremamente confortável, com vários lençóis e travesseiros, havia muitas pétalas de rosas vermelhas. Dispostas em formato de coração atravessado por uma flecha, no estilo brega de motel barato, elas deixaram o rosto dos dois enrubescidos. Logo ao lado, em um balde repleto de gelo, havia uma champagne e duas taças de cristal.

Guilherme passou em frente dela e pegou o pequeno bilhete que estava no centro do desenho das rosas.

— "Senhor e Senhora Cavalcantti, pedimos perdão pelo incômodo de mais cedo. Aceitem este presente singelo e aproveitem sua noite." — ele olhou para ela, surpreso — Eles tão pensando que a gente vai transar.

Ela jamais transaria com ele. Nunca!

— Eu não sei nem como eles pensaram que a gente era um casal! — ela confessou — Seria como acreditar que a Selena Gomez e o Faustão têm um caso! Como eu ficaria com você?

Ele franziu o cenho, ligeiramente divertido, soltando o bilhete na cama.

— Muita gente brinca que eles têm um caso, até onde eu sei... — hesitou — E por que eu ficaria com você?

Ele não fez isso...

— Saiba que eu sou um ótimo partido. Sou jovem — ergueu a mão direita e começou a listar com os dedos —, bem-sucedida, cantora famosa...

— Garota, eu sou um ótimo partido. — a interrompeu, garantindo um olhar fulminante — Eu sou um médico premiado mundialmente, eu estou desenvolvendo um método que facilita a operação de válvula mitral...

— NÃO! — ela gritou, tapando os ouvidos — Cara, eu já escutei muito disso pelo mês inteiro. — o encarou, incrédula — E eu nunca ouvi falar de você!

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