O que porra era aquilo?
— Você tá maluco? — ela o fitou, horrorizada. Aquilo não podia estar acontecendo, de jeito nenhum.
Eles haviam dividido o táxi e o mesmo tem, em vagões separados(graças a Deus!). Não deveriam, não podiam!, estar se encontrando ali novamente.
Guilherme permaneceu impassível, sorrindo de orelha a orelha. O aperto que aplicava ao redor da cintura dela apenas intensificou, como uma provocação silenciosa. E um pouco dolorosa; como se ele parecesse querer fundir seus corpos.
Deus sabe que Flávia teve que usar todo o seu autocontrole para não pisar no pé dele.
— Segue a minha deixa, ou nós dois vamos ficar sem lugar pra dormir hoje. — respondeu entredentes. Ao lado dele, ela notou que Guilherme era muito, muito alto e parecia ser forte, também. Teria dificuldade em se livrar dele.
Por que ela não podia ser um pouco mais alta e um pouco mais precavida?
O funcionário do hotel, com um enorme ponto de interrogação no lugar do rosto, sem entender uma única palavra do que diziam, fazia um rodízio de olhares entre a tela do computador e os dois malucos à sua frente. Flávia e Guilherme pareciam um casal tanto quanto as músicas do Ed Sheeran pareciam ser Axé. Não havia como alguém acreditar que um engomadinho como ele, que ainda usava o enorme blazer, mesmo sendo verão, e ela, uma jovem muito diferente disso, eram um casal.
Seria como acreditar que um lutador de sumô estaria tomando chá da tarde com o Papa.
— Signore Cavalcantti, — começou — sinto muito, mas a sua reserva foi cancelada. Recebi um telefonema de Recife que dava instruções claras para o cancelamento porque os senhores não viriam mais ao Palio.
Flávia ouviu uma voz distante, conhecida, como se fosse sua própria....
Deveria ser ela quem estava falando, obedecendo Guilherme. Seu senso de autopreservação era algo muito interessante; talvez devesse ser estudado, até. Não era possível que perdesse totalmente o senso do ridículo e a noção do perigo, como estava acontecendo.
Aquilo era crime e eles dois sabiam disso. Flávia não entendia nada de Direito, mas eles teriam problemas em dobro estando em um país estrangeiro. E, mesmo assim, a voz não parou.
— Como assim? — era, definitivamente, a voz dela; estava muito ferrada — Nós não cancelamos nada e estamos ansiosíssimos para assistir o Palio. — usou o motivo de estar passando por aquilo tudo ao seu favor; não era assim que aquela estratégia com nome estranho funcionava? — Temos que ver os cavalos e os bois... Né? — deveria ser parecido com a Vaquejada que ocorria no Nordeste, não?
Ela não fazia ideia do que era um Palio.
— Bois? — o funcionário, Luiggi, pelo que ela conseguiu ler no crachá, escrito em letra rebuscada, parecia indignado — Bois não participam do Palio, Signora Cavalcantti...
O que raios era um Palio? Aquilo era nome de carro!
— Ela sabe disso. — Guilherme interveio, passando a mão pelo braço dela, repetidas vezes — É só que "bois" é outro nome para éguas, no Brasil, e a Flávia sempre defendeu que elas deveriam participar. — Éguas? Sério?
Ao menos funcionou. Luiggi pareceu estar contentado o suficiente com a resposta.
Mas não era, necessariamente, o fim da batalha. Por mais que ele não pudesse ter ideia de como chamavam éguas e cavalos em um país do outro lado do mundo, em outro idioma, ele conhecia muito bem o sistema do hotel. Não precisava de tradução para aquilo...
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HOTEL PIANETTI
Hayran KurguEnquanto viajava para a Itália, Flávia encontrou um companheiro de viagem um tanto diferente. [FlaGui | Short-Fic]