Exalo a fumaça para fora dos meus pulmões. Ela sai através da minha boca para o ar gelado de dezembro em Boston. Assisto a neve cair no lado de fora e cobrir com uma camada fina as ruas. Ainda não estamos na fase rigorosa do inverno.
As luzes das decorações de Natal das casas da vizinhança são fortes o bastante para iluminar o quarto apesar das luzes cômodo estarem apagadas. No andar de baixo, a minha família está comemorando o Natal. Mamãe está chateada por Orion e River estarem juntos em Washington quando deveriam estar aqui. Bom, eu não tenho do que reclamar, aguentar Orion é complicado e eu teria que dividir o quarto com River ou dormir na sala.
Falando em River, estou em seu quarto. É o único com uma janela estratégica onde o vento consegue levar a fumaça para longe e não infestar o ambiente com cheiro forte de maconha. Estou sentado na janela, terminando o meu baseado antes de ter que socializar com os meus irmãos mais velhos e os meus pais.
A porta do quarto se abre de supetão e eu rapidamente escondo o cigarro atrás de mim. É Raúl quem abre a porta do quarto. Merda! Esqueci que ele estaria aqui hoje. Minha mãe se compadeceu com o pobre adolescente que vai passar o Natal sem o namorado e o convidou para passar a noite conosco. Aposto que compraram presentes para ele também.
- O que você está fazendo aqui? – Eu pergunto.
- O que você está fazendo aqui? – Ele rebate fazendo a mesma pergunta.
Raúl entra no quarto fechando a porta atrás dele e acende a luz do quarto. Pisco os meus olhos tentando me adaptar a claridade iminente. Ele não se incomoda comigo ali no quarto ou pelo menos finge não se incomodar.
- Esse é o quarto do meu namorado. – Ele responde procurando algo no cesto de roupa suja de River. – E não precisa esconder o cigarro, Thomas, pelo menos não de mim.
Eu seguro o cigarro casualmente em um gesto deliberado e em seguida o levo aos meus lábios e dou um trago. Sinto a fumaça descendo por minha garganta e então a exalo pela boca.
- Eu não estou escondendo. – Digo como se não desse muita importância para a sua frase, mas quem eu estou querendo enganar, estava morrendo de medo de Terrence me pegar. – E esse quarto já foi meu. – Eu digo como se justificasse o fato de estar invadindo a privacidade do meu irmão para fumar maconha. Mas ele é adolescente, não precisa de privacidade.
- Eu estou procurando algumas camisas que sumiram misteriosamente do meu guarda-roupa. – Ele continua sua explicação agora abrindo o guarda-roupa do meu irmão. Bom, se eu estava preocupado em invadir a privacidade do pirralho... – Acho que o seu irmão as levou para Washington.
Longe de mim estar preocupado com os sentimentos de Raúl, mas imagino o quanto deve estar sendo difícil para ele estar aqui sem o meu irmão. Os dois são muito apegados um ao outro, chega a dar náuseas.
- Pode me dar um trago? – Ele pergunta desistindo de procurar por suas roupas e se aproximando de mim.
- Seu namorado não vai ficar chateado? – Eu o provoco.
- Vamos deixar o seu irmão fora disso. – Diz ele abrindo um sorriso que é suficiente para fazer muitas pessoas obedecerem a tudo o que ele diz. Eu passo o cigarro para ele, que faz uma careta. – Que merda é essa, Thomas? Estava tentando fazer um burrito?
- Ei, não critica a minha técnica. – Eu digo severamente ofendido.
- Eu preciso te ensinar a minha técnica. – O seu sorriso volta ao seu rosto e me pergunto se ele não está falando de outra coisa. Rapidamente retiro esse pensamento da minha cabeça.
