Sei que verei Ahmed no escritório antes mesmo que eu chegue no prédio. Ele não me deixará escapar impune depois de eu ter me drogado em sua frente. Sei que ele encontrará uma forma de me encurralar e me dar um sermão.
Milo me dá uma série de atividades para realizar durante a tarde. Vejo quando ele recebe uma ligação e sai da sua sala exasperado. Estou completamente sem supervisão então decido tomar um café, converso um pouco com os outros funcionários e só então volto para o meu cubículo.
- Thomas. – Angel, uma colega arquiteta junior, me chama. – Você pode levar esses documentos para o Boss lá em cima?
Ela está se referindo a Ahmed. Eu não quero vê-lo. Chego a suspeitar que de alguma forma Ahmed a tenha coagido para me fazer ir até a sua sala.
- Você não pode fazer isso? – Eu pergunto.
- Milo deveria fazer isso, mas acho que aconteceu alguma coisa, ele simplesmente saiu correndo da sua sala. – Ela diz, e então complementa. – Além disso, achei que você tivesse sido escolhido pelo próprio Ahmed.
Sinto um pouco de acusação em suas palavras. Suspiro pesadamente e fico de pé. Pego os documentos em sua mão.
- Você está me devendo essa. – Digo.
- Pode cobrar quando quiser. – Ela diz piscando para mim.
Sorrio envergonhado, mas não vou negar qu estava com saudade de flertar desprentesiosamente. Pego o elevador até a sala de Ahmed. Chegando no andar da presidência, encontro Sabrina atrás de sua mesa como sempre.
- Thomas, faz tempo que não vem por aqui. – Ela diz.
É bem óbvio que Sabrina sabe que a minha relação com Ahmed era muito mais do que profissional. Sorrio para ela, porque gosto genuinamente dela.
- Pois é, estava muito ocupado lá embaixo. Ahmed está?
- Não. Problemas familiares, algo com a mãe dele. – Ela diz seriamente. – Milo está com ele.
- É algo grave? – Tento parecer apenas curioso, como se eu não me importasse muito. Mas quem estou querendo enganar? Queria poder falar com ele, perguntar se está tudo bem.
- Problemas de saúde. Foi tudo o que eu consegui descobrir. – Ela diz em tom de sigilo.
- Tudo bem. – Digo. – Vou apenas deixar estes documentos em sua mesa.
Vou até a sala de Ahmed. Deixo a porta aberta enquanto vou até a sua mesa, dando uma olhada geral na sala me certificando de que ele não está presente. A sua sala continua exatamente a mesma de duas semanas atrás. Não há um mínimo detalhe que faça alguma diferença.
Então escuto a sua voz. Saindo apressadamente do elevador, ele fala algo com sabrina distraidamente até que me vê.
Há olheiras pesadas em baixo dos seus olhos. Sua barba precisa ser aparada e seu cabelo está um pouco desgrenhado. Ele me olha confuso, mas não para de andar até entrar em sua sala. Eu, por outro lado, estou completamente imbolizado, incapaz de me mover.
- Thomas. – Ele diz exasperado.
- Eu só estava deixando estes documentos. – Digo. – Está tudo bem com a sua mãe.
- Como?... – Ele leva alguns segundos para se dar conta de que foi Sabrina quem me falou. – Foi apenas um susto, mas eu vou passar o resto do meu dia com a minha família.
