𝗮𝗻𝗱 𝗮𝗹𝗹 𝗼𝗳 𝗺𝘆 𝗽𝗲𝗮𝗰𝗵𝗲𝘀 (𝗮𝗿𝗲 𝗿𝘂𝗶𝗻𝗲𝗱)

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single point of view.

🍒.

Oi.

Acredito que você nunca irá ler isso, mas com certeza se chegar nas suas mãos, vai saber que sou eu.

Por via das dúvidas ou do tempo, sou eu, Minho.

Eu não sei se você está se perguntando o motivo pelo qual me mudei sem te dizer, mas eu gosto de pensar na sua imagem cheia de interrogações ao lado da cabeça, com a sobrancelha arqueada de dúvida ou o nariz torcido. Você costumava fazer isso quando estava confuso.

Não te perguntei o que aconteceu depois da conversa com seu namorado — se é que ele ainda é —, na verdade, eu não te perguntei mais nada. Decidi dar um basta nisso tudo, e não consigo lamentar pela decisão abrupta que tomei, pelo menos até me deitar para dormir.

Penso em como você deve ser meu carma. Apesar de concluírem que um carma é algo ruim, eu penso, na verdade, que você é uma parte de mim que não vai sair nunca. Mesmo que eu puxe, esfregue, coloque fogo ou rasgue em frente ao lixo.

Na verdade, Bangchan, eu sinto inveja de você. Odeio admitir isso, mas sempre sentia que estava tentando te alcançar e não que estava tentando andar lado a lado com você. Todas as comparações internas e externas que pessoas alheias fizeram de mim para com você, ou até as próprias armadilhas que criei sobre a minha pessoa, foram engolindo minha confiança aos pouquinhos. De repente, já não me sentia digno de ser seu namorado.

Jisung me disse uma vez que você já tinha entendido tudo, e eu me senti tão burro por não ter entendido tão rápido quanto você, não ser tão bom me fez ter ódio. Entrei em uma corrida de ser tão responsável como você, tão racional como você, tão decidido como você que eu não percebi que estava competindo sozinho, Bangchan.

Nunca serei como você, apesar de muitas vezes sermos tão parecidos em assuntos distintos. Acho que essa é a graça, pois ser igual significava que faltaria um Minho para equilibrar as coisas quando tudo estivesse desmoronando.

Agora eu acho legal que nós dois sejamos tão diferentes.

A maturidade que não tinha quando entramos em crise, esteve surgindo e se moldando nos últimos anos. Senti por muitas vezes que precisava te mostrar que ela finalmente tinha dado as caras, mas você me ensinou, mesmo que indiretamente, que eu não preciso provar nada para ninguém que não seja eu mesmo.

Da última vez que conversamos ao telefone, antes de tudo mudar, você me disse que ia à terapia. Então decidi começar também, já que ao comentar sobre o assunto com Jisung e Jeongin eles foram os primeiros a me apoiar — o que soou até um pouco ofensivo no começo. Curioso que hoje, esse texto mal redigido e apressado que eu fiz de última hora se trata de um exercício da terapia, a terapeuta disse que isso era um meio simbólico de encerrar as coisas, então estou confiando na palavra dela.

Eu te escrevo com um pouco de lágrimas nos olhos, porque me sinto como um personagem odiado pelo público, de seriado jovem, que acabou de ter seu arco de redenção no meio da temporada, e está incerto se os telespectadores irão perdoá-lo. Arrisco dizer que em breve serei uma pessoa good vibes que usa roupas de hipster e vive na natureza. Inclusive, já tenho uma boa coleção de cactos e suculentas na varanda para começar.

Ainda te vejo de longe, Christopher. Te acompanho e sinto uma sensação estranha toda vez que abro seus stories, que consigo reconhecer e admitir como medo. Medo de ver algo que não estava esperando, medo de me dar conta que você seguiu em frente.

Então, eu tento superar esse sentimento. Tento antecipar você antes de aparecer na tela do celular, tento correr pelas tangentes da minha visão periférica quando você aparece sem aviso e me atinge em cheio. Parece que eu vou vomitar, ou que vou chorar, às vezes parece que farei os dois.

Eu tento fugir de você como o Shinji foge da própria realidade. Merda, eu citei Evangelion, você já assistiu isso? Espero que não, é uma loucura tão grande que até hoje penso que só serei capaz de compreender quando conseguir usar três drogas diferentes e simultaneamente. Entretanto, apesar de toda essa bagunça, estou me esquecendo do seu rosto. Sua voz, risada, jeito, corpo, olhos, boca... tudo.

Por vezes, consigo me lembrar de algo que você costumava gostar muito, e me pergunto se você ainda ficaria tão feliz em ver aquilo como costumava ficar. Bangchan, você sempre parece o mesmo por fora mas imagino o quanto está mudando nesses tempos de silêncio entre a gente, fico ilustrando na minha cabeça que estamos numa trégua de guerra que nenhum dos dois ousa quebrar.

Cultivei uma esperança no começo, de que a qualquer instante do dia você me mandaria uma mensagem, ou teria alguma ligação sua perdida no celular. E, em diversos momentos que eu estive perdido, pensei em jogar tudo para o alto e pedir ajuda. Imaginei que você também tinha cogitado agir dessa forma, estou tentando te pintar da forma mais humana na minha cabeça esses dias. Porém hoje, não me surpreendo mais quando a tela do celular só brilha com sms da operadora despejando promoções enganosas.

Dei tantas chances para essa relação, pois esquecia que não estava vivendo um conto de fadas, e que as pessoas precisam destruir laços que parecem bonitos demais para desmanchar. Acreditava que sacrificar tudo era a única opção de ter algo digno, como se eu fosse um soldado que foi até o combate com o intuito de morrer com honra.

Tinha essa vontade de saber o que se passava na sua cabeça, em todo segundo que você ficava em silêncio depois de uma pergunta que havia me sufocado por semanas, ou meses. Achava um insulto você demorar tanto para responder uma pergunta que para mim, tinha resposta simples, eu sentia que você estava me testando. A necessidade de ter controle sobre você, muitas vezes, me tornava alguém que construía milhões de hipóteses para entender uma simples frase de três palavras que saía dos seus lábios. Esqueci que, antes de tudo, nós éramos amigos e isso fazia da nossa relação uma coisa bonita de se viver e de ver também.

Eu sei que isso pode parecer assustador, mas foram tantas palavras que mantive omissas, e agora estou aprendendo a desacelerar. Isso pode chegar até você como facas flamejantes ou como flores cheias de pólen, e eu peço desculpa se você não estava pronto para ler tanto.

No fim dessa carta sem destinatário que provavelmente irá para minha gaveta, quero te dizer que você é incrível e que você merece toda felicidade desse mundo! Estou te amando e cuidando de você antes de dormir, pois minha mãe tem um carinho tão grande por você que seria trair o afeto dela — e o meu — não querer teu bem.

Espero o dia em que estaremos rindo da breguice desta carta juntos, com coragem o suficiente para não deixar o coração amolecer.

P.S: Eu não sou mais ruivo!!!

Abraço, Lee Minho.

🍷.


𝐅𝐈𝐌.

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𝘾𝙝𝙚𝙧𝙧𝙞𝙚𝙨 𝙖𝙣𝙙 𝙒𝙞𝙣𝙚Onde histórias criam vida. Descubra agora