Yunna observava com cautela a garota misteriosa dormindo à sua frente, alguns poucos feixes de luz atravessavam pela janela do quarto iluminando levemente o local, duas mexas de cabelo daquela garota sem nome recaíam sobre seu rosto corado, ela estava tão calma que nem parecia estar respirando, o que naquela situação era possível de se acontecer.
Yunna se aproxima dela com cuidadosamente e posiciona dois dedos abaixo de seu nariz tentando não fazer nenhum barulho, ao constatar que ela ainda estava respirando Yunna solta um suspiro de alívio e volta a observá-la, a roupa da garota adormecida consistia em um vestido de noiva branco que parecia ser da seda mais cara possível, haviam apenas duas pétalas vermelhas de rosas entrelaçadas ao tecido, mas era o suficiente para Yunna deduzir que aquela garota provavelmente estava em um dos momentos mais importantes da sua vida antes de ter ido parar naquele porão sujo.
"O que poderia ter levado uma noiva àquele lugar?" Ela se pergunta inquieta, nunca esteve em uma situação daquele nível e não sabia o que fazer, por mais que tenha tido treinamentos incansáveis durante toda a sua vida sobre como manejar facas, armas de fogo, cordas, bombas... nunca precisou lidar com uma linda e desconhecida noiva adormecida no porão de sua casa, seu coração estava rápido e a palma de suas mãos suavam de nervosismo, ela simplesmente não sabia o que fazer.
A garota de repente se mexe levemente fazendo com que Yunna se levantasse rapida e intuitivamente para atacar, de soslaio ela vê uma faca de caça sobre a mesa de alumínio perto da parede, seu primeiro pensamento de auto defesa é pegar aquele objeto e rasgar o pescoço da garota, não era algo incomum em sua vida, e seria o que ela faria se não estivesse tão curiosa e sedenta por respostas.
Quem era ela? O que ela estava fazendo ali? Como foi parar ali? Por quê Yunna sentia uma sensação totalmente nova e estranha em sua barriga toda vez que olhava para seus lábios rosados? Eram tantas perguntas que passavam na cabeça de Yunna que ela já estava começando a ficar tonta de nervosismo.
No final nada acontece, a garota misteriosa continua dormindo profundamente em seus sonhos e Yunna continua inquieta por qualquer ação, porém horas se passam, o sol se põe e a única luz que sobra no quarto é a luz trêmula de uma lâmpada amarelada e velha e o som irritante do ventilador de teto rangendo.
Írias sente uma dor inexplicável em seu peito, ardendo desde seu coração passando pela garganta até sua boca, ela tenta abrir os olhos mas não consegue, sente o tecido fino de seu vestido sob sua pele e percebe que estava sobre algo macio como se fosse um colchão.
A garota não consegue distinguir as últimas imagens de sua memória, não sabia o que era sonho e o que era realidade, se lembra do cheiro de rosas, do barulho de um trem em alta velocidade, da sensação de estar voando, de um grito, e por último da água entrando em seus pulmões.
Írias se sentia impotente, como se já tivesse morrido e ninguém a tivesse avisado, tudo que via era a mais completa escuridão e tudo que ouvia era o barulho irritante e contínuo de um ventilador de teto, uma última vez ela tenta abrir os olhos e dessa vez consegue ver um pequeno feixe de luz mas nada muito distinto, com dificuldades ela se movimenta sobre o colchão e em um último esforço consegue abrir os olhos por completo.
A realidade não era algo que a garota estava esperando, mas nem ela sabia ao certo o que esperar, Írias encara um teto baixo com várias marcas de desgaste com o tempo e fendas na tintura, no meio do pequeno cômodo havia um ventilador que girava tão lentamente que mal fazia diferença estar ligado ou não, a única fonte de luz era uma lâmpada acoplada àquele objeto.
Írias pisca várias vezes para ter certeza de que havia acordado, ela ouve algo se mexer ao seu lado, seus olhos seguem o som e ela percebe alguém vindo rapidamente em sua direção.
Era uma mulher, provavelmente mais velha que ela, com seu cabelo escuro e levemente ondulado caindo como cascatas em seus ombros, seus lábios com um tom de vinho escuro hipnotizante, sua roupa toda preta dando um ar de perigo iminente, mas, o que mais chamava atenção naquela figura misteriosa eram seus olhos vermelhos e ardentes, com apenas uma fina linha preta cortanto sua íris como se fossem olhos de um felino prestes a atacar sua caça.
Írias não se mexe, ela sente cordas prendendo seus pulsos e tornozelos, engole em seco e novamente a ardência em sua garganta a atinge com força, a mulher rapidamente posiciona uma faca sobre seu pescoço, a lâmina fina tocando levente sua pele e abrindo um corte minúsculo mas grande o suficiente para derramar uma gota de sangue sobre o colchão. Írias arregala os olhos sem entender o que estava acontecendo, as duas únicas pessoas naquele cômodo estavam ofegantes de tanta adrenalina disparada em um espaço de tempo tão curto.
A mulher não fala nada por longos dez segundos, mas continua com a faca posicionada sobre a pele de Írias, após esse período ela se aproxima lentamente do corpo da garota, seus lábios se abrem para pronunciar algo, mas nem ela parecia saber ao certo o que falar, logo depois sua voz doce preenche o silêncio:
– Quem é você?
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Sub Oceano - GL
RomanceA guerra entre humanos e demônios vem se prolongando há anos, e a humana Írias, após quase ter se afogado no meio do oceano acaba sendo salva por Yunna e Nin Viktram, duas demônias que iriam mudar o seu destino. Afinal, poderia o seu azar se transfo...