Pós-vida?

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   Yunna não conseguia entender o que Írias estava tentando dizer, e entendia muito menos as lágrimas que a garota derramava, ela estava vulnerável, limpava as próprias bochechas com as costas de suas mãos, tentava parar de chorar e estava visivelmente incomodada pelo fato de não conseguir fazer as lágrimas pararem de rolar.

   Vendo aquela cena as memórias de Yunna a leva para anos atrás, quando ainda era uma humana, quando ainda chorava, fazia tanto tempo que ela sequer se lembrava de como era o sentimento de cair aos prantos, por mais difíceis que os últimos anos tenham sido para ela, ela era Yunna, uma das líderes da rebelião, não podia mostrar fraqueza, precisava estar sempre na melhor posição com a melhor expressão, e diferente de todo o resto da rebelião, ela era a única que não era um demônio puro, ela não era como Nin ou Luri, não era uma Viktram e não pertencia a nenhuma família, era apenas uma humana que pelo azar do destino se transformou em um demônio, e o fato de ela ser uma das líderes da rebelião incomodava tanto humanos quanto demônios, então não importava o que acontecesse, ela precisava ser forte, porque se não fosse, não seria apenas um dos lados que a atingiria, seriam ambos ao mesmo tempo e da forma mais brutal possível.

   Luri e Yunna se entreolham novamente, a mulher dos olhos vermelhos inspira e expira profundamente para então ir em direção à Írias, ela segura calmamente a mão da garota, olha em seus olhos e com a ponta do dedo limpa uma lágrima que estava caindo, Yunna dá um pequeno sorriso para ela e faz os seus olhos irem de vermelhos felinos para os de humano.

   — Ei, vai ficar tudo bem.






   O coração de Írias estava rápido por vários motivos, primeiro pelo fato de que a última coisa que ela gostaria de se lembrar no momento é de seu passado, segundo pelo rosto de Yunna estar tão próximo, suas mãos se tocando, e a ponta de seu dedo limpando suas lágrimas. Írias literalmente não sabia como reagir, não sabia se sentia medo, ou... paixão?

   "Não! Não! Não!" Pensa logo que este pensamento vem a sua mente "Isso não! Isto é errado!" Completa internamente se lembrando de sua família e da velha igreja que costumava frequentar todos os domingos "Mas se eu já estou no inferno...".

   "Não! Isto tudo é uma pegadinha!" Ela se auto repreende com medo de alguma câmera a estar filmando tendo aquele gay panic interno, mas de repente os olhos totalmente vermelhos da pessoa à sua frente se transformam em olhos comuns, como os de Írias, com suas íris castanho escuro encarando os castanho claro de Írias.

   "Como isso é possível?" Ela pensa, um frio na barriga a atinge com força e desta vez definitivamente era por conta do medo. Até aquele momento por mais que Írias acreditasse que ali fosse o inferno, ainda estava um pouco cética quanto à tudo isso. Não em relação ao inferno é claro, ela sempre fora uma pessoa muito religiosa assim como sua família, e tinha certeza da existência de tal lugar, mas não estava tão certa quanto à sua própria morte, e mesmo que se estivesse, ela sempre imaginou o inferno como um lago de lava e fogo para causar dores e sofrimentos, o que realmente não era como o lugar em que ela estava naquele exato momento.

   — Seus olhos... - Ela sussurra, Yunna ouve suas palavras por estar próxima de Írias, ela sorri timidamente.

   — Eu era uma humana, como você, por isso consigo mudar a cor dos meus olhos - Ela explica e sua bochecha fica levemente corada, Yunna de repente chacoalha a cabeça com força como se estivesse tentando acordar de algum delírio, seus olhos voltam aos vermelhos com uma fina fenda preta no meio como de costume, ela endireita sua postura e lança um olhar firme a Írias - Então... você diz que estava à beira da morte quando de repente acordou aqui, certo?

   Írias estava atordoada com a mudança subta de personalidade dela, do seu olhar calmo e carinhoso tentando a consolar para algo totalmente objetivo e duro, Luri dá alguns passos para perto das garotas.

   — Sim - Írias responde a pergunta com uma certa hesitação quanto à tudo aquilo, limpa suas últimas lágrimas e assim como Yunna, ela tenta recuperar sua postura.

   — Isto é algo novo - Luri comenta e encara Yunna, a cada vez que se entreolhavam Írias sentia como se estivessem conversando telepaticamente, porque claramente ela estava perdendo informações valiosas entre estes breves segundos - Vamos ter que a levar par o bar do Fim mesmo, e rápido, talvez alguém de lá saiba como lidar melhor com toda esta situação.

   — A Nin chegou a mencionar algo sobre pós-vida para mim, mas nada demais, ela te contou algo? - Yunna pergunta, Luri nega com a cabeça, as duas pareciam frustadas com aquilo - Bem, então vamos ter mesmo que ir atrás disso.

   Yunna dá meia volta e vai até o sofá onde ela havia deixado a corrente que entrou segurando, ela pega o objeto e Írias percebe que em sua ponta havia algo de couro ou de algum tecido parecido com couro, a mulher volta a se aproximar com o objeto em mãos, um leve sorriso transparecia em seus lábios mesmo ela tentando escondê-lo.

   — Nós vamos te levar para um lugar em que as pessoas talvez possam nos ajudar a descobrir o que está acontecendo - Ela começa evitando de olhar diretamente para Írias - Mas... humanos não podem entrar lá sem permissão... - Ela estende o objeto e só então Írias percebe que se tratava de uma coleira - Na verdade, humanos só podem entrar sob propriedade de demônios... - Ela completa e finalmente olha diretamente nos olhos da garota - Ou seja, hoje você será minha propriedade.

Sub Oceano - GLOnde histórias criam vida. Descubra agora