A Vencedora

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   Írias estava nervosa a um ponto em que mal conseguia ver o alvo à sua frente, ela só tinha mais uma tentativa e simplesmente não tinha como ganhar mais, e as últimas palavras de Yunna a fizeram estremecer de um jeito inigualável.

   — Precisa de ajuda? - Yunna brinca com a demora de Írias para lançar o último dardo, a garota respira fundo e lança o objeto.

   Sequer chega a atingir o alvo, o dardo bate da parede e cai no chão. A recepção era visível na expressão da huaman.

   — Te deixei muito nervosa, foi? Quer mais uma chance? - Yunna pergunta claramente zoando a garota, as duas se entreolham por breves segundos, do lado da demônia uma aura de malícia e divertimento, do lado da humana apenas ódio.

   — Certo, o que você quer que eu faça? - Pergunta, mas na verdade estava com medo da resposta, ela só precisava jogar aquele joguinho até a meia noite, mas nem sabia que horas eram.

   — Primeiro vamos para o meu quarto... preciso que  você troque de roupas - Diz Yunna olhando de baixo à cima o vestido de Írias, Luri pigarreia rapidamente chamando a atenção das duas.

   — E que sejam rápidas - Completa, já estava esperando que algo fosse acontecer no quarto além de só "trocarem de roupas", e não estava com paciência para isso, havia ido ali para resolver problemas e não ficar de vela de duas "adolescentes" emocionadas.

   — Não vai acontecer nada - Yunna responde e pega na mão de Írias - Por enquanto... - Ela esboça mais um sorriso e puxa a garota em direção ao quarto, bem baixinho Yunna ainda completa - Temos bastante tempo até a meia noite...


...


   — É melhor você tirar este sorriso da sua cara - Luri ordena em xitram (a língua mais utilizada e falada pelos demônios), ela encarava Yunna com um olhar assustador.

   — O que? Que sorriso? - Yunna pergunta também mudando a língua para xitram, as duas estavam na sala esperando Írias terminar de se trocar no quarto, a demônia estava tão absorta em seus pensamentos que até tinha esquecido a presença de Luri ali.

   — Este seu sorriso de adolescente apaixonada - Luri diz revirando os olhos e cruza os braços à sua frente - Eu conheço este sorriso, e acima de tudo eu te conheço, Yunna, é melhor não se apegar a esta humana.

   — Por que?

   Luri bufa e ri em puro sarcasmo não acreditando em Yunna, ela se aproxima da mulher.

   — Por que a última vez em que a merda de um demônio se apaixonou por um humano acabou dando na porra da guerra em que estamos lutando hoje! - Ela diz claramente irritada com tudo aquilo - Ou eu devo te lembrar de como se tornou uma demônia?

   Yunna engole em seco ao ouvir aquelas palavras, ela sabia que Luri estava certa, mas não viu a necessidade de ter tocado em uma ferida tão profunda dela, Yunna odiava se lembrar de como deixou de ser humana, odiava ter que ser uma das líderes da rebelião dos demônios, odiava ter que lutar, odiava não ter opções, e odiava mais ainda que nunca mais poderia se apaixonar, seja por um demônio ou por um humano, era a sua maior maldição ao qual ela carregava diariamente enquanto tentava fugir de seus pensamentos.

   — Certo... - É a única coisa que diz sumindo no mesmo momento com seu sorriso assim como Luri a mandou, as duas continuam olhando para a porta do quarto onde Írias estava, de repente Luri dá uma boa e súbita gargalhada.

   — Mas vou admitir, estou impressionada contigo - Ela diz entre várias risadas, Yunna não estava entendo o motivo daquilo, continua a encarando mas não fala nada - Quero dizer... o jeito que você está provocando esta garota... eu nunca sequer imaginei que você fosse assim... você realmente está se transformando em uma demônia pura!

   Yunna cora violentamente, ela olha diretamente para o chão querendo desaparecer ali mesmo, havia feito e falado tantas coisas comprometedoras nos últimos minutos que nem ela acreditava que conseguiria mesmo intimidar Írias, por mais que este era o objetivo.

   — Eu não sei o que deu em mim... - Fala timidamente e deseja do fundo do coração que Írias não saísse naquele exato momento do quarto, pois não queria mostrar seu lado frágil para a humana.

   — Sabe, quando eu te conheci você era só uma humana que não tinha coragem de nada, sempre medrosa e tímida e gaguejando, eu te achava até irritante de certa forma - Luri fala ainda rindo, ela olha para cima como se estivesse se lembrando de algo - Tanto que nas primeiras vezes que nós saímos eu só conseguia pensar que queria te matar e chupar todo o seu sangue...

   As duas se entreolham, passam poucos segundos em silêncio até ambas caírem na gargalhada.

   — Talvez seja por isso que viramos melhores amigas - Yunna comenta ainda rindo - Nas primeiras vezes que saímos eu levei uma faca para caso você me atacasse...

   As duas gargalham mais alto ainda, como se aquelas memórias que antes eram amedrontadoras agora só fossem motivo de piadas, de repente Írias abre a porta, as duas olham em direção à humana, suas expressões vão de pós-gargalhada para de surpresa, Yunna sorri de canto de lábio.

   — Tem certeza que quer que eu use isto? Eu me sinto em um filme de dominatrix... - Írias reclama de sua vestimenta, a roupa era de um tecido preto que refletia a luz, mostrava boa parte de seu corpo e combinava com a coleira presa no pescoço da garota, Írias olha para as duas e bufa.

   — Está magnífico - Yunna responde voltando a falar a língua dos humanos - Você vai se misturar muito bem aos humanos de lá.

   Luri vai até o sofá e pega sua pequena bolsinha de mão, de lá ela tira algumas chaves.

   — Então já estamos prontas, certo? Vamos antes que dê meia noite - Ela brinca e vai até a porta.

   Írias a segue e Yunna aproveita o momento em que ela passa para sussurrar em seu ouvido.

   — Você está perfeita - Diz e não precisa de muito para perceber que isto afetou Írias ao ponto de arrepiar todo o seu corpo, Yunna sorri satisfeita com seu feito, a demônia dá um passo a frente dela e pega a ponta da corrente que conectava à coleira, ela não chega a puxar, mas faz um movimento representando que era para Írias a seguir, as três pessoas saem da porta e vão diretamente em direção ao carro estacionado na rua, Luri liga o automóvel e começa a dirigir em direção ao bar do Fim.





   Sobre o telhado da casa logo em frente à que Yunna morava, uma pessoa escondida nas sombras assistia às três moças saírem de casa, seus olhos dourados observavam atentamente Írias, passando pela corrente que estava conectada na coleira e indo até as mãos de Yunna, ela percebe o sorriso malicioso da mulher demônio, o que a faz rir também, após elas entrarem no carro e desaparecerem ao virarem a esquina a pessoa se deita sobre o telhado, ela chacoalha a cabeça sem acreditar no que tinha acabado de ver, ela lambe com a ponta da língua os próprios lábios tentando se lembrar do doce gosto do sangue de Yunna.

   — É bom saber que seu sorriso voltou... amor.

Sub Oceano - GLOnde histórias criam vida. Descubra agora